Finanças
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Por Bloomberg

O UBS Group AG anunciou neste domingo a compra do Credit Suisse, seu maior concorrente no mercado, por 3 bilhões de francos suíços, valor que corresponde a US$ 3,23 bilhões. O acordo criará um gestor de patrimônio global com US$ 5 trilhões em ativos investidos em todo o grupo. Os ativos combinados dos dois bancos são aproximadamente o dobro do tamanho do Produto Interno Bruto (PIB) da Suíça. Um dia após o anúncio, as ações do Credit desabaram 60% e a do UBS chegaram a cair 16% na manhã desta segunda-feira.

O preço é menos da metade dos 7,4 bilhões de francos suíços que o Credit Suisse valia no fechamento do pregão de sexta-feira. O negócio inclui extensas garantias do governo e provisões de liquidez. O preço por ação marcou uma queda de 99% em relação ao pico do Credit Suisse em 2007, segundo cálculos da Bloomberg.

A negociação histórica, mediada pelo governo, tinha como objetivo conter os danos envolvendo a crise de confiança com potencial de se espalhar por todo o mercado financeiro mundial. A proposta inicial do UBS era de até US$ 1 bilhão, mas o valor foi criticado por integrantes da concorrente.

O Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) e o Departamento do Tesouro americano saudaram o acordo, assim como o Banco Central Europeu. As autoridades buscaram um acordo antes que os mercados voltassem a abrir na Ásia.

Restaurar confiança

Em comunicado, o próprio Credit Suisse afirmou que a fusão "ocorre depois que o Departamento Federal Suíço de Finanças, o Banco Nacional Suíço e a FINMA (Autoridade Supervisora do Mercado Financeiro) pedirem a ambas as empresas que concluíssem a transação para restaurar a confiança necessária na estabilidade da economia suíça e do sistema bancário"

O Credit explicou que o UBS será a entidade sobrevivente após o fechamento da operação de fusão, prevista para ocorrer até o fim de 2023. "O Credit Suisse continuará conduzindo seus negócios no curso normal e implementando suas medidas de reestruturação em colaboração com o UBS", disse o banco em nota.

O Credit Suisse afirmou que o Conselho Federal Suíço está emitindo um decreto de emergência sob medida para a transação. "A fusão será implementada sem a aprovação necessária dos acionistas do UBS e do Credit Suisse para aumentar a certeza do negócio", informou o banco.

Linha de liquidez

O Banco Nacional da Suíça está oferecendo ainda uma linha de liquidez de 100 bilhões de francos suíços ao UBS, enquanto o governo está concedendo uma garantia de 9 bilhões de francos suiços para assumir perdas potenciais de ativos que o UBS está assumindo.

O presidente do Credit Suisse, Axel Lehmann (à esqueda) e o presidente do UBS, Colm Kelleher, durante coletiva em que anunciaram a compra do Credit — Foto: Bloomberg
O presidente do Credit Suisse, Axel Lehmann (à esqueda) e o presidente do UBS, Colm Kelleher, durante coletiva em que anunciaram a compra do Credit — Foto: Bloomberg

- Era indispensável que agíssemos rapidamente e encontrássemos uma solução o mais rápido possível - disse o presidente do Banco Nacional da Suíça, Thomas Jordan , em coletiva de imprensa.

Os clientes do Credit sacaram mais de US$ 100 bilhões em ativos nos últimos três meses do ano passado, à medida que aumentavam as preocupações sobre a saúde financeira do banco, e as saídas continuaram mesmo depois de atrair os acionistas em um aumento de capital de 4 bilhões de francos.

- Essa era a única solução possível - disse a ministra das Finanças da Suíça, Karin Keller-Sutter, acrescentando que era necessária para estabilizar os mercados financeiros suíço e internacional.

O Credit Suisse, disse ela, não era mais capaz de sobreviver sozinho.

Ao longo da semana, o banco central suíço tentou conter a retirada de investimentos no Credit Suisse com apoio de liquidez, que suspendeu temporariamente a fuga de capitais. No entanto, o drama do mercado continuou trazendo o risco de que clientes continuem retirando recursos, além do possível espalhamento para os demais setores.

Janet Yellen comemora acordo

O plano, negociado em conversas sobre a crise feitas às pressas durante o fim de semana, procurou lidar com uma queda considerável nas ações e nos títulos do banco suíço na última semana, depois do colapso de pequenos credores nos Estados Unidos.

A secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, e o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), Jerome Powell, disseram que receberam bem o acordo do Credit Suisse e enfatizaram que o capital e a liquidez dos bancos americanos são fortes.

“Congratulamos os anúncios das autoridades suíças para apoiar a estabilidade financeira”, disseram as autoridades em um comunicado conjunto. “As posições de capital e liquidez do sistema bancário dos EUA são fortes e o sistema financeiro dos EUA é resiliente. Mantivemos contato próximo com nossas contrapartes internacionais para apoiar sua implementação.”

O Banco Central Europeu saudou a “ação rápida” tomada pelas autoridades suíças. As decisões tomadas “são fundamentais para restaurar as condições de mercado e garantir a estabilidade financeira”, disse a presidente do BCE, Christine Lagarde, em comunicado.

“O setor bancário da área do euro é resiliente, com fortes posições de capital e liquidez”, disse ela, acrescentando que o BCE “está totalmente equipado para fornecer suporte de liquidez ao sistema financeiro da área do euro, se necessário, e para preservar a transmissão suave de política."

No Reino Unido, o Banco da Inglaterra endossou o “conjunto abrangente de ações estabelecidas pelas autoridades suíças para apoiar a estabilidade financeira” e reiterou que “o sistema bancário do Reino Unido está bem capitalizado e financiado”.

Agência do Credit em Berna, na Suíça. Banco foi comprado pelo concorrente UBS — Foto: Stefan Wermuth/Bloomberg
Agência do Credit em Berna, na Suíça. Banco foi comprado pelo concorrente UBS — Foto: Stefan Wermuth/Bloomberg

A garantia de perdas por parte do governo foi necessária porque havia pouco tempo para fazer a devida diligência, afirmou o presidente do UBS Group AG, Colm Kelleher. Segundo ele, o Credit Suisse tem ativos difíceis de avaliar. Assim, explicou o executivo, se isso resultar em perdas, o UBS assumirá os primeiros 5 bilhões de francos suíços e o governo federal os próximos 9 bilhões de francos suíços.

Kelleher afirmou ainda que está "determinado" a manter o controle dos negócios locais do Credit Suisse Group AG após a aquisição. Para ele, o Swiss Universal Bank é um ativo valioso.

O executivo detalhou ainda os planos para outras áreas:

- Deixe-me ser muito específico sobre isso: o UBS pretende reduzir o tamanho do negócio de banco de investimento do Credit Suisse e alinhá-lo com nossa cultura conservadora de risco - disse Kelleher no domingo em entrevista coletiva anunciando o acordo.

De acordo com os termos do acordo, os acionistas do Credit Suisse receberão 1 ação do UBS para cada 22,48 ações do Credit Suisse.

Marlene Amstad, que comanda a Autoridade Supervisora do Mercado Financeiro da Suíça (Finma, na sigla em inglês), disse que os movimentos “irão desencadear uma redução total do valor nominal de todas as ações do Credit Suisse”, no valor de 16 bilhões de francos.

Queda histórica

A aquisição do credor de 166 anos marca um evento histórico para o setor de finanças global. O então Schweizerische Kreditanstalt foi fundado pelo industrial Alfred Escher em 1856 para financiar a construção da rede ferroviária do país montanhoso. Através das décadas, a instituição se tornou um pilar nacional ao representar o papel da Suíça no centro financeiro global, antes de lutar para se adaptar a um cenário bancário alterado após a crise financeira.

Em outra frente, a UBS, sua grande concorrente no mercado suíço, tem suas raízes através de cerca de 370 instituições financeiras nos últimos 160 anos, levando à fusão do Union Bank of Switzerland com o Swiss Bank Corporation, em 1998. Depois de emergir após a crise financeira de 2008, o banco consolidou a reputação como um dos maiores gerenciadores de riquezas do mundo, atendendo indivíduos de alto e ultra-alto patrimônio em todo o mundo.

Enquanto o Credit Suisse evitou um resgate durante a crise financeira, o banco foi duramente afetado nos últimos anos por uma série de escândalos, mudanças em cargos de liderança e questões legais. Nos últimos três meses de 2022, clientes retiraram mais de US$ 100 bilhões em ativos, movimento que continuou mesmo depois de atrair os acionistas em um aumento de capital de 4 bilhões de francos.

Entenda a crise o Credit Suisse

Os problemas do Credit Suisse já eram conhecidos, mas neste mês as dificuldades do banco cresceram como uma bola de neve e foram agravados pela quebra do Silicon Valley Bank, no começo do mês. O derretimento das ações da empresa foi a "cereja no bolo" de uma série de crises que vinham se arrastando há meses dentro da instituição financeira.

Entre as agruras do Credit Suisse, estão uma condenação por permitir que traficantes de drogas lavassem dinheiro na Bulgária, envolvimento num caso de corrupção em Moçambique, espionagem envolvendo um ex-funcionário e um executivo e um vazamento maciço de dados de clientes para a mídia.

O destino do banco, no entanto, foi selado mediante apostas de negócio controversas. Sua associação com o financista Lex Greensill e a falida firma de investimentos Archegos Capital Management, com sede em Nova York, criou no mercado a percepção de uma instituição que não tinha um controle firme sobre seus negócios.

A Greensill Capital foi ao colapso em março de 2021 e, segundo as autoridades regulatórias da Suíça, o Credit Suisse falhou em cumprir as regras do setor bancário ao investir na empresa. Na ocasião, o banco perdeu US$ 10 bilhões em fundos no Greesill.

Outra grande aposta equivocada da instituição financeira foi a Archegos Capital. A gestora de recursos foi acusada de fraude. As polêmicas envolvendo o banco desencadearam uma saída de clientes sem precedentes no fim de 2022.

Visando reconquistar clientes, o CEO do Credit Suisse, Ulrich Koerner, lançou uma campanha, ainda em 2022, que parecia promissora. Em janeiro, o esforço parecia estar valendo a pena, quando o banco informou ter fechado com "depósitos líquidos positivos".

No entanto, na semana passada, a Securities and Exchange Commission (SEC, órgão que regula o mercado de capitais nos EUA) questionou dados do relatório anual do banco, forçando-o atrasar sua publicação.

O estopim para a queda histórica das ações do banco na última quarta-feira foi a sinalização, dada por Ammar Al-Khudairyde, presidente do Saudi National Bank, maior acionista do Credit Suisse Group, que não faria novo aporte de capital no banco, alegando questões regulatórias. Desde então, houveu ma fuga em massa de capital da instituição, e a situação começou a ser mediada pelo banco central suíço, como forma de conter uma contaminação generalizada dos mercados financeiros globais.

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