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Por Letycia Cardoso — Rio de Janeiro

O Banco Central manteve a Selic no atual patamar, como era esperado, mas não sinalizou quando deverá iniciar o ciclo de corte, surpreendendo analistas que projetavam uma redução de 0,25 ponto percentual na taxa já no mês de agosto. Com essa mudança de cenário, surge a dúvida: é uma boa hora para comprar ações?

Após o tom mais duro no comunicado, o analista da Ouro Preto Investimentos, Bruno Komura, passou a projetar a redução da taxa Selic para o mês de outubro. Em sua visão, a decisão do BC pode, no entanto, gerar reação negativa na Bolsa nesta quinta-feira, gerando oportunidades para compra de ações.

O economista da Valor Investimentos, Paulo Henrique Duarte, continua projetando corte de juros para agosto, por avaliar que o Brasil se encontra bem posicionado em termos globais, principalmente em relação a pares emergentes. Para ele, o horizonte de corte de juros se torna cada vez mais claro e próximo, o que promove um fechamento da janela de oportunidade para renda fixa prefixada e inicia um ciclo positivo na Bolsa.

— Mesmo sem a suavização esperada, um ponto interessante é que retiravam do texto a possibilidade de um eventual aumento de juros. E boa parte do poder do BC vem do controle de expectativas. Se afrouxa muito, acaba tendo efeito negativo — considera.

Duarte ainda destaca que uma aceleração na Bolsa pode acontecer com maior fluxo estrangeiro. Além disso, é esperada a retomada da atividade interna com o corte de juros.

— Vivemos um momento raro em que estamos mais otimistas com a Bolsa brasileira do que com a bolsa americana — comenta. — Acredito que a construção civil irá se favorecer muito. Já os bancos, mesmo com redução do spread (diferença entre o custo da captação e o cobrado no empréstimo), podem ter ganhos com a retomada de crédito.

Embora o corte na taxa de juros leve em torno de seis meses ou mais para ter efeitos na economia real, o mercado financeiro costuma antecipar os resultados, levando à valorização dos papéis.

Segundo Max Bohm, estrategista de ações da corretora Nomos, mais importante do que o corte de juros em si é o fechamento da curva de juros futuros. Nesta quarta-feira, por exemplo, a taxa DI com vencimento em janeiro de 2027 caiu de 10,555% para 10,510%. E os setores que mais tendem a ganhar com isso são os cíclicos domésticos, como varejo, consumo, construção civil, tecnologia, logística.

— As varejistas sofreram muito com a alta da taxa de juros, porque precisam de empréstimos e financiamentos para o negócio crescer. Então, isso está totalmente relacionado aos juros — explica o estrategista.

Projetando corte de 0,25 p.p. em agosto, Phil Soares, chefe de análise de ações da Órama, afirma que, em um primeiro momento, as blue chips, que são líderes de setores, podem subir. Mas, em um ano, acredita que as small caps (empresas com valor de mercado menor) assumirão o protagonismo.

— Em 12 meses, a Bolsa pode crescer de 15% a 20%, e as small caps um múltiplo disso para cima — diz Soares. — Essa maré positiva pode durar até o nosso próximo pico inflacionário, de 36 a 48 meses, acredito.

Ele aposta que os setores de logística e indústria, muito descontados, podem se valorizar bastante, assim como empresas de saúde e o varejo de vestuário.

— A gente viu C&A subindo quase 100% nos últimos três meses; Guararapes (dona da Riachuelo), 60%; e Grupo Soma (dono das marcas Animale e Farm) ganhando 40%.Também gostamos muito de Vivara e Arezzo — conta Soares. — O varejo discricionário, que inclui empresas como Magalu e Via, pode ter até alguma alta agora, mas deve se beneficiar de forma mais expressiva no fim do ciclo de corte de juros.

Potencial para small caps

Rodrigo Mello, gestor de renda variável da Tenax Capital, aponta que o índice SMALL11, que replica o desempenho de uma carteira teórica de small caps, perdeu 14,8% em 2022, enquanto o Ibovespa, que representa a Bolsa, somou 4,7% no mesmo período. Desde o início do ano, no entanto, com o andamento das negociações sobre arcabouço fiscal, a desaceleração inflacionária e a perspectiva de corte de juros ainda em 2023, essas ações ganharam vantagem: o índice SMALL11 já acumula ganho de 14,85%, ultrapassando o IBOV, que subiu 9,71%.

— O mercado vai passar a dar menos peso para o resultado dessas empresas, alongando o horizonte de investimento. Então, já faz sentido estar posicionado — recomenda. — O momento é de adicionar risco ao portfólio em coisas mais cíclicas, como ações de varejo, shoppings...

Werner Roger, CIO da Trígono Capital, alerta porém que há riscos, visto que uma série de fatores não controláveis tanto a nível local, quanto a nível internacional podem atrapalhar o desempenho das ações. Com relação às empresas de menor valor de mercado, ainda há outro fator — a baixa liquidez para negociação.

— Temos fatores que realmente não são previsíveis, por isso os investidores devem ter cautela em relação a quanto irão investir em renda variável, de acordo com seu perfil de tolerância a risco — aconselha.

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