Finanças
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Por Vitor da Costa — Rio

O Federal Reserve, banco central americano, manteve os juros inalterados nesta quarta-feira. O anúncio representa uma pausa no ciclo de aperto monetário promovido pelo Fed após dez elevações consecutivas nas taxas.

Com isso, os juros seguem no intervalo entre 5% e 5,25%, maior patamar desde 2007. A decisão foi unânime e já era esperada pelo mercado.

"Indicadores recentes sugerem que a atividade econômica segue crescendo em ritmo modesto. Os ganhos de empregos foram robustos nos últimos meses e a taxa de desemprego permaneceu baixa. A inflação continua elevada", destacou o Fed, em seu comunicado.

Segundo o Fed, manter as taxas estáveis nesta reunião permite ao banco avaliar informações adicionais e suas implicações para a política monetária.

Juros nos EUA — Foto: Editoria de Arte
Juros nos EUA — Foto: Editoria de Arte

Pausa hawkish

O comunicado do banco destaca que ao determinar a extensão do aperto adicional da política que pode ser apropriado para retornar a inflação a 2%(a meta do banco) ao longo do tempo, o Fed levará em conta o aperto cumulativo da política monetária, os atrasos com os quais essa política afeta a atividade econômica e a inflação e os desenvolvimentos dos fatores econômicos e financeiros.

Com isso, o Fed reforça o tom hawkish (favorável à retirada de estímulos), sinalizando que pode voltar a elevar os juros nas próximas reuniões.

A pausa no aumento das taxas dará mais tempo para que os dirigentes do BC avaliem os efeitos defasados do aperto monetário sobre a atividade econômica e para a inflação.

Além disso, irá permitir que os membros observem a situação do setor bancário no país, após o colapso de algumas instituições neste ano, a fim de identificar até que ponto as tensões bancárias estão contribuindo para uma retração nos empréstimos, que já estavam em andamento, e o impacto disso para a economia como um todo.

Os dirigentes do Fed voltaram a destacar que o sistema bancário dos EUA é "sólido e resiliente". Na avaliação do banco, condições de crédito mais apertadas para famílias e empresas devem pesar na atividade econômica, nas contratações e na inflação.

"A extensão desses efeitos permanece incerta. O Comitê permanece altamente atento aos riscos de inflação", ressalta o comunicado.

Em suas últimas comunicações, o Fed já tem ressaltado a importância da divulgação dos dados para a tomada de decisão sobre juros.

Juros estão no patamar de 2007 — Foto: Editoria de Arte
Juros estão no patamar de 2007 — Foto: Editoria de Arte

O Fed também destacou que continuará reduzindo suas participações em títulos do Tesouro e dívidas de agências e títulos lastreados em hipotecas de agências, conforme anunciado anteriormente.

Projeções para juros sobem

Além do anúncio sobre os juros, os agentes de mercado esperavam a divulgação do “dot plot”, ou resumo das projeções econômicas. O gráfico mostra a mediana das expectativas dos dirigentes do banco para os juros, inflação, desemprego e Produto Interno Bruto (PIB) para os próximos anos.

A projeção mediana para os juros ao final deste ano foi para 5,6%, de 5,1% em março, quando as últimas estimativas foram divulgadas. A mudança veio acima do esperado, reforçando o tom hawkish do comunicado.

Para 2024, ela passou de 4,3% para 4,6% e, em 2025, de 3,1% para 3,4%.

Sobre o Produto Interno Bruto (PIB), a projeção mediana ao final deste ano subiu de 0,4% para 1%. Para 2024, a estimativa caiu para 1,1% ante os 1,2% de março e, para 2025, cedeu de 1,9% para 1,8%.

A projeção para a taxa de desemprego em 2023 caiu de 4,5% para 4,1%. Para 2024, a expectativa passou de 4,6% para 4,5% e, para 2025, de 4,6% para 4,5%.

Em relação à inflação medida pelo índice de preços ao consumidor (PCE, na sigla em inglês), a projeção passou de 3,3% para 3,2% ao término de 2023. Para 2024 e 2025, as taxas foram mantidas em 2,5% e 2,1%, respectivamente.

Sobre o núcleo da inflação, a projeção passou de 3,6% para 3,9% em 2023. A estimativa do núcleo para 2024 manteve-se em 2,6% e, para 2025, subiu de 2,1% para 2,2%.

— O que veio hawkish foram as expectativas que os membros têm para onde estarão os juros. Para esse ano, mesmo com a pausa, a expectativa é de mais duas altas — disse a economista-chefe da Galapagos Capital, Tatiana Pinheiro.

Na avaliação do economista da Garde Asset Management, Lucas Zaniboni, o Fed está na fase ainda de desaceleração do ritmo, pois nessa altura do ciclo os riscos encontram-se mais balanceados, e os dados ainda contém muita incerteza.

— Mantemos nossa visão de que o Fed se aproxima do fim de ciclo - com uma última alta em julho, mas quer fazê-lo do modo mais duro possível de modo a impedir que cortes sejam precificados muito cedo na curva de juros americana — destaca.

Sem decisão sobre julho

Após o anúncio, as bolsas americanas chegaram a passar para o campo negativo, mas o movimento perdeu força com as declarações do presidente do Fed, Jerome Powell.

No fim do dia, o índice Dow Jones caiu 0,68% e o S&P subiu 0,08%. A Bolsa Nasdaq avançou 0,39%. No Brasil, o Ibovespa teve alta de 1,99%, os 119.069 pontos e o dólar caiu 1,15%, negociado a R$ 4,8063.

Em coletiva, Powell afirmou que a decisão de manter as taxas inalteradas é uma continuação do processo pelo qual o Fed moderou a magnitude dos aumentos dos juros ao longo do ciclo.

Segundo ele, o Fed “tem um longo caminho a percorrer” em seu processo de levar a inflação de volta à meta de 2%. Powell ainda ressaltou que os aumentos de juros já realizados estão tendo um impacto na atividade, mas que levará tempo para que todos os efeitos se manifestem.

Perguntado sobre o movimento do banco na próxima reunião, Powell não se comprometeu com uma nova alta.

— Não houve decisão sobre julho, embora julho tenha surgido nas discussões. Julho será um 'encontro ao vivo' — disse ele.

Para o dirigente, houve algum afrouxamento nas condições do mercado de trabalho e que o banco precisa "ver isso continuar”. Powell reforçou que não se deveria chamar a pausa de junho de "um salto", já que ainda não há decisão sobre uma próxima alta nas taxas.

Assim como em declarações anteriores, Powell afastou a possibilidade de corte de juros neste ano, ao contrário do que precifica parte do mercado.

Para o gestor de juros do Opportunity Total, Frederico Catalan, as medianas das projeções de juros também representaram um elemento hawkish na comunicação do Fed, o que foi amenizado pelas falas do presidente do Fed.

— O tom do Powell foi mais balanceado. Se você pegar o saldo do comunicado com a coletiva, foi só um pouco mais hawkish. Ele não quis deixar pré-contratado essas duas altas de juros que os dots sinalizam.

Catalan avalia que o cenário-base ainda é de mais uma alta nas taxas em julho.

Combate à inflação

O objetivo do aumento nos juros é de combater a inflação elevada nos EUA, o que vem surtindo efeito, mesmo que em passos mais lentos do que o esperado.

O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) subiu 0,1% em maio depois de avançar 0,4% em abril, segundo dados do Departamento do Trabalho divulgados ontem. Em 12 meses, o indicador avançou 4%, menor patamar para a base de comparação anual desde o período encerrado em março de 2021.

Ainda assim, os núcleos de inflação seguem mostrando resiliência e o indicador cheio segue longe da meta de inflação do Fed, que é de 2%.

Outras medidas importantes como o índice de preços com gastos com consumo pessoal (PCE, na sigla em inglês) e dados sobre o mercado de trabalho também mostram a persistência da inflação no país. A taxa de desemprego está em 3,7%, nível considerado ainda baixo.

— Estamos muito atentos aos riscos que a inflação elevada representa para ambos os lados do nosso mandato — destacou Powell.

Juros sobem pelo mundo — Foto: Editoria de Arte
Juros sobem pelo mundo — Foto: Editoria de Arte

E o Brasil?

A proximidade do fim do ciclo de juros nos EUA tende a favorecer mercados emergentes, como o Brasil, uma vez que diminui a atratividade dos títulos de renda fixa americanos e leva a um enfraquecimento do dólar em termos globais.

Nas últimas semanas, a Bolsa já vem apresentando sinais de recuperação também pela expectativa de início de cortes para a Selic. E o real valorizou-se diante do dólar, que está atualmente na cotação mais baixa em um ano.

Quando a remuneração dos títulos do Tesouro dos EUA para de subir ou cai, investidores globais têm maior interesse de investir em mercados emergentes. Um freio nos juros americanos tende a facilitar a atração de investidores para o Brasil, onde os papéis do governo oferecem juros de 13,75% ao ano atualmente e muitas ações na Bolsa são consideradas baratas. Esse fluxo de investimentos traz mais dólares para o país, favorecendo a valorização do real.

— O ambiente do Fed parando é benigno para os ativos de risco. Não vamos ter um vento favorável vindo daí, porque ainda não foi batido o martelo sobre o fim do ciclo — destaca Catalan.

Para os analistas, a proximidade do fim do ciclo de altas nos juros pelo Fed exerce menos peso se comparado aos fatores locais, sobre a condução da política monetária pelo nosso Banco Central.

Nas últimas semanas, os agentes de mercado vêm precificando a possibilidade de um corte antecipado da Selic já no próximo trimestre.

— A decisão do Fed tem importância, mas os drivers domésticos são mais determinantes porque mexem com a inflação e com as expectativas. O que vai determinar os próximos passos do Banco Central é realmente a tendência de queda da inflação corrente e o efeito de queda da inflação no atacado – disse Tatiana, que também destacou a manutenção das metas de inflação nos atuais patamares como um fator relevante a ser considerado pelo BC.

Mais recente Próxima Fed, banco central americano, pode interromper alta nos juros hoje. Veja como isso afeta seus investimentos
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