Finanças
PUBLICIDADE

Por Vitor da Costa — Rio

Quando a China flexibilizou as restrições contra a Covid-19 no fim do ano passado, muitos analistas, investidores e empresários esperavam que a economia apresentasse um crescimento rápido e robusto. Não foi o que aconteceu.

Desde então, as exportações recuaram, os investimentos estrangeiros estagnaram, menos projetos habitacionais estão sendo iniciados e o desemprego entre os jovens continua alto.

Diferentemente do que ocorreu em outros países, como Estados Unidos e Brasil, onde a forte inflação do pós-pandemia obrigou os bancos centrais a elevarem os juros, a China chegou a registrar deflação. Puxado por alimentos, o índice de preços ao consumidor caiu 0,3% em julho na comparação anual, o primeiro recuo desde fevereiro de 2021.

Já os preços ao produtor tiveram queda de 4,4% no mês passado em relação a julho de 2022 — o décimo recuo consecutivo. A demanda fraca forçou fábricas e empresas a reduzirem os preços.

Embora a queda dos preços na China possa ajudar a arrefecer a inflação global, o movimento demonstra uma fraca demanda interna, o que adiciona receios para a economia mundial e para países com fortes relações comerciais com Pequim.

Retomada lenta

A sócia da assessoria Vallya e especialista em China, Larissa Wachholz, observa que a maior parte da população chinesa era cética quanto à possibilidade de uma retomada veloz:

— A confiança das famílias é um elemento importante, principalmente pensando na transição de modelo econômico que a China tenta fazer, que é passar de uma economia que exporta e investe em infraestrutura para uma economia que dependa cada vez mais do mercado doméstico e da capacidade de consumo.

A economista-chefe para Ásia-Pacífico da consultoria Natixis, Alicia Garcia Herrero, também destaca a falta de confiança como um dos motivos para o consumo interno estar abaixo do esperado:

— Além disso, o crescimento estagnado da renda disponível e o alto desemprego juvenil deixa todos mais conservadores. Eles sabem que sua renda pode não crescer mais tão rápido.

O desemprego entre os jovens atingiu 21,3% em junho.

Impactos para o Brasil

 — Foto: Editoria de Arte
— Foto: Editoria de Arte

Por aqui, o maior impacto deve ser na exportação de commodities metálicas. Os preços do minério de ferro têm patinado no mercado internacional, rondando os US$ 100 por tonelada nos últimos meses. Na B3, as ações da Vale, que têm exposição à China, acumulam queda acima de 20% no ano.

— Nossas exportações para a China, para o bem e para o mal, são de produtos primários, que tendem a ser mais resilientes. Mas acredito que é importante para o Brasil que a China consiga fazer essa transição de modelo econômico. Se eles tiverem sucesso nessa política, o Brasil vai conseguir agregar valor a seus produtos e inserir novos itens na pauta (de exportações). Se essa transição demorar ou não ocorrer, seria uma janela de oportunidade perdida para nós — diz Larissa.

O analista de commodities do Itaú BBA, Daniel Sasson, espera que os níveis do preço do minério permaneçam em torno de US$ 100 por tonelada até o fim do ano. Não é uma cotação baixa, diz, mas é bem inferior aos patamares dos últimos anos, quando a commodity ultrapassou os US$ 200:

— Esse preço de minério de ferro mais baixo faz com que a geração de caixa seja menor. Portanto, o pagamento de impostos à União e o retorno de dinheiro aos acionistas será mais baixo.

Louise Loo, economista especializada em China da Oxford Economics, destaca que o atual desempenho da economia chinesa pode ser atribuído ao estímulo contido da demanda durante a pandemia, aos anos de aperto regulatório às empresas privadas e a uma correção do setor imobiliário, que tem forte peso no PIB.

— Tudo isso combinado significa que o sentimento do consumidor está se recuperando de um ponto muito mais baixo. Obviamente, um cenário externo mais fraco, já que o resto do mundo agora experimentará os impactos negativos do aperto da política monetária, significa que a demanda por produtos chineses também está bastante fraca.

Ela observa ainda que uma economia global em desaceleração, como resultado do aperto monetário para conter a inflação, vai reduzir a demanda por produtos chineses.

O valor total das exportações chinesas caiu 14,5% em julho, na comparação anual, a maior queda desde fevereiro de 2020. Já as importações cederam 12,4%, segundo dados da administração alfandegária do país divulgados na semana passada.

Quanto à demanda interna, Louise relembra que a maioria das outras economias ocidentais se beneficiou de políticas de repasse de renda pelo governo ou medidas diretas para estimular o consumo, o que não ocorreu a China.

— Então, as famílias na China tiveram menos para gastar quando a economia reabriu. Descobrimos também que o sentimento do consumidor na China está muito ligado aos preços dos imóveis, tendo em vista o quanto os ativos relacionados à habitação estão nos balanços das famílias. E dado que esse setor passa por uma correção, vemos uma confiança do consumidor influenciada de forma negativa.

Existe o risco de que 2023 seja uma história de promessas demais e entregas insuficientes"
— Harry Murphy Cruise, diretor assistente e economista da Moody's Analytics

Nova crise imobiliária?

O setor imobiliário vem dando sinais de fraqueza desde o início do ano. O início de novas construções caiu 24,3% em relação ao ano anterior em junho. Pesa ainda o temor de inadimplência da Country Garden Holdings, a maior incorporadora da China em vendas. A empresa deixou de honrar o vencimento de alguns títulos. Ontem, suas ações desabaram 18%.

— Um fator-chave que impulsiona a economia da China é o mercado imobiliário, e a desaceleração contínua no setor continua sendo um grande fardo para a economia. Para estabilizar a economia, é fundamental estabilizar o mercado imobiliário — disse a economista do Julius Baer, Sophie Altermatt.

Segundo Sasson, do Itaú BBA, nem o anúncio recente de medidas de incentivo deu ânimo ao mercado:

— O consumidor se questiona se vale a pena comprar agora se daqui a três meses ele pode comprar por um valor mais baixo. A questão talvez não seja muito o crédito, mas sim o desconforto da população com renda e emprego.

Previsões menores

As empresas, por sua vez, hesitam em aumentar a produção ou os investimentos. O diretor assistente e economista da Moody’s Analytics, Harry Murphy Cruise, ressalta que elas têm na memória os repetidos lockdowns de 2022 e as súbitas mudanças na política econômica. Por isso, diz, muitas adotam a postura de “esperar para ver”.

Com a sequência de números abaixo do esperado, crescem as expectativas com novas políticas de estímulo. O governo já reduziu os juros, e órgão estatais têm adotado medidas pontuais de estímulo ao mercado privado e ao consumo, mas o resultado ficou aquém do esperado.

— As autoridades ainda estão muito focadas no “crescimento de alta qualidade”, o que significa que qualquer retorno a fortes estímulos é improvável. As medidas anunciadas até agora, no entanto, são principalmente do lado da oferta. Resta saber se isso aumentará a demanda do consumidor de forma significativa — disse Louise, da Oxford Economics, que prevê crescimento de 5,1% este ano.

Para Sophie, do Julius Baer, a tendência é que novas medidas de apoio econômico sejam anunciadas nos próximos meses, mas não há expectativa de que sejam da mesma magnitude do que àquelas aplicadas nos últimos anos.

— A China implementou pelo menos três rodadas de estímulos maciços desde a crise financeira global, todas focadas em infraestrutura e construção imobiliária. A economia chinesa ainda está lidando com os efeitos colaterais dessas medidas e os desequilíbrios que elas criaram. É provável que eles se abstenham de recorrer ao manual de estímulo tradicional de habitação, construção e investimento em infraestrutura. Acreditamos que o apoio será mais modesto e direcionado.

No segundo trimestre, a alta foi de 6,3%, abaixo das projeções de 7,3%. Com isso, bancos como o JPMorgan, Citi e Morgan Stanley reduziram suas estimativas para o PIB no ano. Agora, parte dos analistas avalia que a China apenas atingirá a meta do governo, de crescimento de 5% — pouco para um país habituado a taxas de expansão de dois dígitos.

— Quando as autoridades anunciaram a meta no início deste ano, presumimos que a estratégia era prometer pouco e entregar demais. Agora, existe o risco de que 2023 seja uma história de promessas demais e entregas insuficientes — diz Cruise, da Moody’s Analytics, que reduziu sua projeção de 5,4% para 5,1%

Mais recente Próxima Parcelamento sem juros no cartão de crédito deve ser mantido, defende Febraban
Mais do Globo

EUA só não serão adversários da seleção brasileira nas quartas se perderem para Porto Rico neste sábado

Brasil pode fazer terceiro confronto contra 'Dream Team' no basquete olímpico

As notas de comunidade são exibidas quando avaliadas como úteis por um número suficiente de usuários. O fato de ela ter saído do ar pode indicar nos bastidores uma disputa de votações

Plataforma X remove alerta sobre vídeo falso em post de Eduardo Bolsonaro com abraço de Celso Amorim e Maduro

Russos e bielorrussos competem em Paris-2024 sob a sigla de Atletas Neutros Internacionais

Sem bandeira, hino próprio e fora do quadro de medalhas: Atletas neutros conquistam primeiras medalhas em Paris

A montagem traz a imagem do assessor especial da Presidência abraçando Nicolás Maduro; Amorim já disse que o vídeo "é totalmente manipulado"

AGU vai notificar X para remover vídeo fake de Amorim postado por Eduardo Bolsonaro

Contra o Bragantino, rival deste sábado, argentino já marcou duas vezes em três jogos

A 4 dias de completar um ano no Vasco, Vegetti já soma 25 gols. Relembre contra quais times

Contra a Venezuela, Bolívia também estreará técnico Oscar Villegas, que substituiu Antonio Carlos Zago em meados do mês passado, após mau desempenho na Copa América

Eliminatórias da Copa: Bolívia jogará pela primeira vez em estádio a mais de 4 mil metros de altitude

Libertados após acordo entre Rússia e EUA, negociado ao longo de dois anos, oposicionistas dizem que só souberam que embarcariam rumo à Turquia já a bordo do avião

'Parece que estou assistindo a um filme': após troca, dissidentes russos detalham tortura e violência no cárcere

Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), candidata a vice na chapa de Boulos é dona de um patrimônio extenso de mais de R$ 14 milhões

Quadros, faqueiros de luxo, tapetes, joias e carrões: a milionária declaração de bens de Marta Suplicy

Há seis opositores de Maduro abrigados na embaixada da Argentina e Caracas, que está sob custódia do Brasil

Auxiliares de Lula avaliam que Venezuela descumpriu Convenção de Viena ao barrar saída de asilados da oposição

Banda de rock havia anunciado em maio do ano passado que realizaria turnê de despedida

Aerosmith anuncia aposentadoria após problemas de Steven Tyler com a voz: ‘Recuperação da lesão não é possível’