O clima de pessimismo global e incertezas domésticas levaram o dólar à máxima de R$ 4,9977 nesta terça-feira, antes de fechar com alta de 0,43% ante o real, cotado a R$ 4,9868. Nesse contexto, o investidor logo se pergunta: será que o dólar vai passar de R$ 5 de novo?
Para Diego Costa, head de câmbio para Norte e Nordeste da B&T Câmbio, tudo depende indicadores macroeconômicos dos Estados Unidos e da Europa, que serão divulgados nessa quarta e podem ser cruciais para definir a trajetória da moeda norte-americana.
Apesar de 80% dos analistas americanos consultados pelo CME Group acreditarem que o Federal Reserve irá manter os juros no atual intervalo de 5,25% a 5,50%, ainda não há nenhum indicativo de quando os Estados Unidos darão início ao ciclo de corte de juros. Além disso, depois que um relatório de vendas no varejo mais forte do que o esperado apontou para a força econômica contínua dos EUA, o rendimento da nota do Tesouro de referência de 10 anos subiu 3 pontos básicos, para 4,21%.
Em paralelo, o Brasil tem a perspectiva de continuar cortando a Selic em 0,5 ponto percentual nas próximas reuniões, diminuindo não só a atratividade da renda fixa, mas também o diferencial de juros frente a países desenvolvidos, que oferecem menos riscos para investir.
Jansen Costa, da Fatorial Investimentos, também acredita que o dólar vai continuar subindo por causa da curva de juros, que fechou muito rápido em sua avaliação.
— Outro fator é que, com maior aversão a risco, o mundo inteiro está tirando o dinheiro de países emergentes. E a gente tem o dólar se fortalecendo também em relação a moedas fortes — acrescenta.
Por volta das 17h20, o índice DXY, que mede a força da divisa americana ante a uma cesta de moedas, subia 0,02% para 103,21 pontos
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Fuga de capital estrangeiro
O novo adiamento das negociações do arcabouço fiscal, segundo Flávio Conde, analista da Levante Investimentos, contribuiu para o clima de incerteza local. O temor é que a decisão seja postergada para abrir espaço para mais gastos, o que afasta investidores estrangeiros.
Ainda segundo ele, a renúncia do CEO da Eletrobras está levando muitos estrangeiros a venderem suas posições na companhia, diminuindo as reservas de dólar no Brasil.
Outra companhia que enfrenta a fuga de capital é a Vale, que sofre impacto do baixo preço do minério de ferro. Leandro Petrokas, diretor de research e sócio da Quantzed, destaca que os dados recentes sobre o enfraquecimento da economia chinesa preocuparam investidores:
— A China, sendo um grande motor da economia mundial, um dos principais países consumidores de diversos produtos e serviços mundo afora, de outros países, tem forte peso — aponta.