Os papéis preferenciais da Braskem, sem direito a voto, fecharam em forte queda nesta sexta-feira. Os ativos deram continuidade ao movimento negativo visto no dia anterior, quando a ação caiu 6,45%, em meio a possibilidade de colapso de uma mina da empresa em Maceió.
- Com população desabrigada, prefeito de Maceió pede socorro à Alckmin: ' É preciso novas moradias'
- Tragédia prevista: Desde 1980 pesquisadores alertam sobre colapso das minas da Braskem em Maceió
A Defesa Civil da cidade disse estar em alerta máximo devido ao risco iminente de colapso da mina localizada no bairro Mutange. O órgão orientou que fosse evitada a circulação de pessoas e de embarcações na lagoa próximo ao local, que foi desocupado por causa do afundamento do solo causado pela mineração.
No fim do pregão, Braskem PN caiu 5,85%, negociada a R$ 18,01, após atingir a mínima de R$ 17,10.
— É um risco que nunca deixou de existir, mas estava 'adormecido'. Com essa possibilidade de novos bairros entrarem em perigo em Maceió, esse risco voltou a despertar temor nos investidores, e deixa a compra da fatia da Novonor em segundo plano na visão deles na hora de alocar seus recursos nas ações da empresa — destaca o head de renda variável e sócio da A7 Capital, Andre Fernandes.
A mina citada pelo órgão é formada por cavernas abertas pela extração de sal-gema durante décadas de mineração, mas que estavam sendo fechadas desde que o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) confirmou que a atividade realizada pela Braskem havia provocado o fenômeno na região.
Na última quarta-feira, após pelo menos cinco abalos sísmicos em novembro, o governo federal informou que enviou uma equipe da Defesa Civil Nacional para avaliar a gravidade da situação.
Revés significativo
Em relatório, analistas da Levante destacam que os riscos iminentes de colapso em mais uma área, mesmo que desocupada, representam um revés significativo para a Braskem.
“O potencial colapso pode ocasionar danos ambientais consideráveis, demandando a realocação de mais famílias e acarretando em despesas adicionais para a empresa. Além disso, esse evento amplia a complexidade da situação para a companhia, pois serve como mais um argumento negativo perante as ações judiciais em curso, podendo resultar em novos litígios e complicações legais”, destacam.
- Concurso unificado nacional: Governo divulga lista de cidades; consulte onde haverá prova
Na véspera, a Braskem havia informado em fato relevante que foi intimada de uma decisão da Justiça em nova ação de autoridades federais e de Alagoas sobre os danos causados por movimentação do solo em Maceió. O valor atribuído à ação pelos autores é de R$ 1 bilhão.
No documento, a empresa afirma que a ação foi aberta pelo Ministério Público Federal, Ministério Público de Alagoas e Defensoria Pública da União, contra a Braskem e o município de Maceió.
Em comentário sobre a ação, os analistas do BTG Pactual afirmam que relatórios e estudos técnicos são necessários para comprovar a necessidade de compensações adicionais. No entanto, eles destacam que o mercado "provavelmente atribui a possibilidade de que parte significativa desse valor se transforme em novas provisões, impactando ainda mais a capacidade de geração de caixa da empresa no curto prazo, em meio a um ciclo de spreads petroquímicos muito baixos”.
- Petrobras Arabia: Presidente da estatal afirma que pode abrir unidade no Golfo Pérsico
O banco reiterou recomendação neutra para os ativos, pois acredita que o principal catalisador de retorno das ações depende atualmente da possível venda da participação da Novonor, ex-Odebretch, na empresa.
Na semana, o UBS BB também havia elevado a sua recomendação na empresa de venda para neutra, citando uma possível venda como um risco positivo. Os analistas do banco, porém, colocaram citaram o passivo em Alagoas e a realização de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre o tema como desafios para a valorização do papel.
Problema antigo
O Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), pediu ao Ministério das Minas e Energia a presença do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), que já confirmou que as ações da Braskem são responsáveis pelo afundamento do solo nos bairros de Pinheiro, Mutange e Bebedouro.
Em 2018, a população foi evacuada e os locais estão desocupados. Desde então, a Defesa Civil Nacional monitora a situação.
Em nota enviada ao GLOBO, "a Braskem informa que, em decorrência do registro de microssismos e movimentações de solo atípicas pelo sistema de monitoramento, paralisou suas atividades na Área de Resguardo. Tais registros estão concentrados em um local específico, dentro das áreas de serviço da companhia, nas proximidades da Av. Major Cícero de Goes Monteiro".