Finanças
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Por — Rio de Janeiro

O dólar não para de subir. Nesta terça-feira, a moeda chegou ao pico de R$ 5,2873, antes de fechar cotada a R$ 5,2697, com alta de 1,64%, na maior cotação desde março do ano passado. Dentre os motivos estão a escalada de tensão entre Irã e Israel, as mudanças no quadro fiscal do Brasil e a economia ainda aquecida nos Estados Unidos, que atrasa cada vez mais o início do ciclo de corte de juros por lá. Segundo especialistas, a tendência é que a divisa americana permaneça em patamar elevado, o que pode ter impacto na economia real, desde o preço dos alimentos até o custo das passagens aéreas.

Para Vinicius Lecuona, especialista em investimento internacional da Ável, será difícil ver o dólar voltar a ficar abaixo de R$ 5 este ano. Com mais incertezas externas, os investidores tendem a proteger seu patrimônio buscando uma moeda forte, ou seja, comprando dólar.

Do frete de caminhão à passagem de avião

No fim de semana, o Irã atacou Israel com drones e mísseis, numa espécie de resposta ao bombardeio ao consulado do Irã em Damasco, na Síria. Israel, que não assumiu nem negou a autoria da incursão, disse que planeja revidar. Autoridades do mundo todo ficaram alarmadas, com medo de que a guerra entre os países ganhe escala, envolva outras nações e ainda afete o comércio de petróleo. O preço do barril de Brent, no entanto, permanece estável, a US$ 90,02.

Tanto a alta da commodity, quanto a do preço do dólar podem encarecer o preço dos combustíveis no Brasil e, por consequência, elevar o custo do frete e dos produtos transportados pelas rodovias do país.

O valor das passagens aéreas também poderia ficar mais alto nesse cenário, já que as companhias de aviação teriam custos maiores. Segundo a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), cerca de 60% das despesas das aéreas é de itens dolarizados, o que inclui gastos com combustíveis, manutenção, entre outros.

Pedro Afonso Gomes, presidente do Conselho Regional de Economia do Estado de São Paulo (Corecon-SP), acrescenta que diversos alimentos disponíveis nas gôndolas podem pesar mais no bolso. O azeite, por exemplo, tende a ficar ainda mais caro por ser importado. Já a carne pode ter custo maior porque o gado é alimentado com uma ração produzida a partir de soja e milho. Esses insumos, assim como café e açúcar, têm suas cotações internacionais definidas por bolsas de commodities:

— Matérias-primas ou mercadorias importadas tendem a ficar mais caras para o importador. E eles devem repassar para os preços aos consumidor.

Fábio Queiróz, presidente da Associação de Supermercados do Estado do Rio de Janeiro (Asserj), diz que não só os preços de alguns alimentos podem subir, mas também o custo das embalagens para a indústria. Para evitar a alta nas etiquetas do mercado, conta que a estratégia tem sido negociar com fornecedores.

Por enquanto, porém, a Petrobras se mantém em compasso de espera para entender o cenário mundial antes de fazer qualquer reajuste. Na segunda-feira, a defasagem do preço da gasolina no país em relação à cotação internacional estava em torno de 19%, de acordo com a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom).

Impacto de alta persistente

Carla Beni, economista e professora de MBAs da FGV, ratifica que o impacto na vida do consumidor depende de uma alta persistente do dólar. É preciso que a moeda permaneça em patamar elevado por alguns meses para que isso afete o preço na ponta final.

Ela explica que a alta só é sentida quando as empresas têm que refazer os estoques de produtos e acabam pagando mais caro. O custo é repassado para o cliente.

— Precisamos olhar o IPCA para ver o impacto no consumo. As transmissões da variação do câmbio não são automáticas — afirma.

O Boletim Focus divulgado nessa terça apontou uma queda das projeções da inflação de 2024 de 3,76% para 3,71%. Em contrapartida, elevou a previsão do dólar para o fim do ano de R$ 4,95 para R$ 4,97.

Para Luciano Costa, economista-chefe da Monte Bravo, o dólar deve se manter em patamar elevado, por volta de R$ 5,10, pelo menos até julho, quando prevê o início do ciclo de corte de juros nos Estados Unidos.

Foco na economia americana

Costa aponta que a mudança na meta fiscal no Brasil ajuda a aumentar o cenário de incertezas, afugentando investidores estrangeiros.

O governo propôs que o resultado fiscal de 2025 seja zero, o que significa que as despesas serão iguais às receitas, ao invés de um superávit para o ano que vem. Em resposta, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reagiu afirmando que uma "âncora fiscal menos transparente aumenta o custo da política monetária".

Mas a mudança na política fiscal não deve afetar o mercado por mais dias, avalia Costa. O que preocupa mais é quando os Estados Unidos começarão a cortar juros. Os dados do varejo americano vieram acima do esperado esta semana, indicando que a economia segue aquecida.

Se no início do ano havia otimismo de corte na taxa no segundo trimestre, não há mais. Falas constantes de membros do Federal Reserve apontam para a necessidade de dados consistentes que mostrem que a inflação está controlada para começar a redução dos juros nos EUA. De acordo com a ferramenta do CME Group, mais da metade dos analistas consultados acreditam que a taxa vai se manter no atual intervalo de 5,25% a 5,5% até a reunião de julho.

Fuga de investimentos

Na prática, o juro alto nos Estados Unidos, país que é considerado a economia mais segura do mundo, acaba atraindo investimentos de outros países, que optam por alocar em títulos do governo americano. A saída de dólares do Brasil faz com que a reserva da divisa diminua e o real se desvalorize.

Por outro lado, destaca Diogo Moreira Carneiro, consultor e professor da Fipecafi, apesar de pressionar a inflação, a desvalorização cambial pode ser favorável para certos setores exportadores, já que se torna mais vantajoso para compradores internacionais adquirirem produtos brasileiros.

— Setores preponderantemente exportadores, como celulose e agronegócio, podem se beneficiar de um real mais desvalorizado. O mesmo valor exportado em dólar significa um montante maior em moeda nacional (Real). Um efeito positivo desse fenômeno pode ser uma eventual geração de renda e emprego nesses setores, ainda que não seja relevante para compensar o impacto desfavorável que a pressão inflacionária traz para a sociedade como um todo — analisa.

Nesse sentido, Luciano Costa, da Monte Bravo, avalia que os exportadores podem trazer uma parte do caixa alocado no exterior para "ganhar" a variação cambial, o que poderia ajudar a equilibrar o câmbio. Esse movimento, todavia, depende de decisões independentes de cada empresa.

— Quem mandou dinheiro para fora com câmbio a R$ 4,90, agora consegue fazer a internalização a quase R$ 5,30, uma taxa bem mais atrativa — opina.

Como ficam os investimentos?

Em momentos de alta volatilidade, os especialistas recomendam ter um percentual da carteira alocado no exterior para se proteger o patrimônio. Guilherme Morais, analista da VG Research, recomenda dividir as remessas para exterior para obter melhor preço médio:

— Seguir seu plano de investimentos é o caminho mais indicado para o investidor de longo prazo, pois as narrativas mudam a todo momento, sendo que a carteira não deve ser alterada de forma recorrente, salvo em mudanças de realidade do investidor.

Vinicius Lecuona, da Ável, indica, por meio de uma conta internacional, alocar em títulos do governo americano e corporate bonds, um tipo de investimento em que se empresta dinheiro para uma empresa. Para quem tem perfil mais arrojado, mais disposto ao risco, aconselha comprar ações nas bolsas de Wall Street.

Costa acredita que ter 15% do patrimônio no exterior é uma boa forma de se proteger contra variações cambiais. No Brasil, aponta que os títulos mais longos ligados à inflação, que estão pagando em torno de 6% além do IPCA, podem ser interessantes, assim como títulos prefixados com taxas maiores que 11% ao ano.

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