A desancoragem das expectativas de inflação é uma “notícia ruim” para o Banco Central, na visão do presidente da instituição, Roberto Campos Neto.
Em evento organizado pelo FGV Ibre nesta sexta-feira, ele lembrou que as expectativas de inflação para o próximo ano estavam fixadas em torno de 3,5%, caíram para 3% após o anúncio da meta, subiram para 4% por ruídos políticos, depois voltaram a cair para o meio do caminho.
Além de questões da preocupação com o quadro fiscal brasileiro, o presidente do BC destacou o impacto da condução da política monetária americana no Brasil:
— Quando a gente olha para os Estados Unidos, que tem sido motor de expectativa de desinflação global, a gente tem tido convergência. Mas, nos últimos dados, essa tendência foi interrompida. A gente sempre discute fazendo a seguinte pergunta: de onde vira a desinflação americana?
Em um painel sobre as dificuldades da “última milha” do combate à inflação, no mesmo evento, Mário Mesquita, economista-chefe do Banco Itaú, opinou que o Federal Reserve tem “errado muito” e que “não está em sua melhor fase”, levando o BC brasileiro a ter que lidar com grandes incertezas.
— O Fed quis comemorar a conquista da inflação de forma prematura, acomodar uma parte dos estímulos. A política monetária poderia ter sido mais rígida e impedido que o mercado de trabalho ficasse tão aquecido, o que está dificultando a última milha — criticou.
Quanto ao Brasil, Mesquita opinou que as autoridades monetárias e o governo precisam se preocupar em levar a meta à inflação, ao invés de “evangelizar a meta”.
Eduardo Loyo, sócio do Banco BTG, também defendeu que o governo deve colocar esforços para cumprir a meta, sem colocá-la em dúvida.
Ele ainda avaliou que controlar a inflação na reta final pode ser mais difícil do que foi no início do processo, tornando necessário alguns sacrifícios, como desaquecimento do mercado de trabalho.