Na manhã de segunda-feira, uma das estratégias cambiais mais lucrativas do mundo caiu por terra com a vitória esmagadora do populismo de esquerda no México.
Vinte horas mais tarde, os investidores na Índia começaram a vender ações freneticamente, com perdas de US$ 386 bilhões em um único dia, quando se deram conta de que o governo pró-negócios de Narendra Modi havia perdido sua maioria no parlamento.
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Em todo o mundo, resultados inesperados em alguns dos maiores países em desenvolvimento ilustram o quanto os mercados estão vulneráveis à política em 2024 – e os riscos de confiar nas pesquisas de intensão de voto.
De Mumbai à Cidade do México, o Ano das Eleições — com 40 países realizando votações nacionais, somando 3,2 bilhões de habitantes de 42% do PIB global – já está deixando investidores prejudicados, servindo de alerta para eleições este mês e no próximo na União Europeia e no Reino Unido, e daqui a cinco meses nos EUA.
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As pesquisas previram corretamente a vitória de Claudia Sheinbaum no México, mas não que seu partido ganharia maioria quase absoluta no Congresso, tornando mais fácil aprovar possíveis reformas constitucionais que podem dar a seu governo mais poder para intervir na economia.
Erros de sondagem já haviam sido notórias no caso do Brexit e da vitória de Donald Trump há oito anos. Mas os riscos só aumentaram desde então, em uma era de populismo profundamente enraizado e nacionalismo crescente, com limites menos claros entre política e mercados.
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“É ótimo saber o cenário-base e o que está precificado no mercado, mas o que é realmente muito importante é prestar atenção ao risco de cauda, aos riscos externos e como essas possibilidades irão se desenrolar”, disse Lindsay Newman, chefe de macrogeopolítica global do Eurasia Group em Londres. “Veremos mais disso nas próximas eleições nos EUA e no Reino Unido”.
A partir desta quinta-feira, cerca de 373 milhões de cidadãos em toda a União Europeia devem ir às urnas para escolher membros do Parlamento Europeu em uma decisão que abrangerá 27 países e que ajudará a moldar políticas comerciais, regulatórias e climáticas. A eleição é vista como um teste para saber se os partidos de extrema-direita estão ganhando força.
Enquanto isso, as pesquisas para as eleições de 4 de julho no Reino Unido apontam para uma vitória do Partido Trabalhista. Uma maioria esmagadora da oposição no Parlamento pode reforçar um impulso de revisão do regime fiscal para distribuir a riqueza de forma mais igualitária.
Nos EUA, uma revanche acirrada se configura entre o presidente Joe Biden e Trump – com investidores se posicionando para uma maior volatilidade, dado que o regresso de Trump pode agravar guerras comerciais, abalar o mercado de dívida e puxar para baixo outras moedas.
Ao todo, os eleitores em países que representam cerca de 40% da população mundial e do PIB terão eleito novos líderes até o final do ano. Até agora, o resultado tem sido turbulência.
O peso mexicano, a moeda com melhor desempenho entre as principais divisas até o final de maio, afundou 5% em dois dias. O aumento da volatilidade fez desmoronar o apelo do carry trade com posições compradas em peso e vendidas em moedas de juros baixos como o iene, um dos negócios mais rentáveis no mercado de câmbio global desde o início do ano passado.
Na Índia, as sondagens de boca de urna sobrestimaram drasticamente o alcance da vitória do Partido Bharatiya Janata de Modi. Quando ficou claro que ele teria que negociar alianças arriscadas para permanecer no poder, o índice NSE Nifty 50 despencou quase 6%, a pior queda em mais de quatro anos.