O dólar subiu com força nessa segunda-feira frente ao real, mas também em relação às principais moedas de países emergentes. No Brasil, a desvalorização do real foi mais intensa, devido às preocupações dos analistas do mercado com a política fiscal do governo Lula.
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Mas, tanto aqui como lá fora, o gatilho para detonar a valorização do dólar foi uma decisão da Suprema Corte americana que fortaleceu a candidatura de Donald Trump à presidência.
E por que o dólar se fortalece quando Trump ganha ímpeto na corrida eleitoral? Qual é a visão do mercado sobre o ex-presidente americano?
Uma volta de Trump ao comando dos EUA pode significar menos impostos e mais protecionismo na economia americana. O republicano já declarou várias vezes que pretende reduzir os tributos cobrados sobre a população. E que quer retomar tarifas contra a China, no que seria uma versão turbinada da guerra comercial contra o gigante asiático iniciada no seu primeiro mandato.
As duas medidas têm como consequência indireta uma taxa de juros maior nos EUA. Reduzir impostos ampliaria o déficit orçamentário no país, levando os investidores a cobrarem juros mais altos para financiar os títulos públicos americanos.
O protecionismo econômico tenderia a aumentar a inflação no país. Com importados mais caros e restrições a produtos chineses, os preços subiriam, exigindo que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) mantivesse os juros altos por mais tempo para segurar a inflação.
E juros mais altos nos EUA significam um “aspirador” de investimentos para o país. Considerada a economia mais segura do mundo, se os EUA oferecem juros mais altos aos investidores, a tendência é que um fluxo maior de recursos seja direcionado para lá, valorizando o dólar, reduzindo investimentos em outros países e enfraquecendo as demais moedas, sobretudo as de países emergentes.
— Com as chances de Trump melhorando após a decisão da Suprema Corte de segunda-feira e as primeiras pesquisas pós-debate, o dólar está ganhando força, especialmente contra as moedas de mercados emergentes, que podem ser prejudicadas com o acirramento da guerra comercial — disse Nick Rees, analista de câmbio da Monex Europe, completando:
— Uma presidência de Trump provavelmente levará a mais inflação nos EUA, elevando os juros dos títulos americanos e aumentando a pressão sobre mercados emergentes.
Rees explica que mais barreiras comerciais nos EUA afetará as exportações dos países emergentes, seja diretamente por causa da imposição de tarifas pelo governo americano, seja indiretamente via um menor crescimento da economia global.
— O dólar está subindo em todas as frentes. A narrativa é que os mercados financeiros estão se posicionando para uma vitória de Trump antes da eleição de 5 de novembro — resume Elias Haddad, estrategista da Brown Brothers Harriman.
Na segunda-feira, um índice da Morgan Stanley que mede o desempenho de uma cesta de moedas emergentes frente ao dólar atingiu seu menor patamar em dois meses. Toda as 23 divisas de países emergentes monitoradas pela Bloomberg tiveram queda.
O movimento se acentuou após a Suprema Corte americana determinar que Trump tem algumas imunidades em acusações criminais em curso contra ele.
Na prática, a decisão deve adiar para depois das eleições o julgamento sobre o ex-presidente que trata de sua suposta tentativa de subverter o resultado eleitoral de 2020 (quando o democrata Joe Biden venceu o pleito e depois assumiu a presidência dos EUA).
A decisão fortalece a candidatura de Trump poucos dias depois de o republicano ter apresentado desempenho muito superior ao de seu oponente Biden no primeiro debate na TV da corrida eleitoral americana.