As micro, pequenas e médias empresas (MPMEs) foram responsáveis por 97% dos empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no ano passado, totalizando 259 mil operações.
O número representa alta de 15% em comparação a 2022 em decorrência das iniciativas da instituição — historicamente ligada ao apoio a grandes empresas e empreendimentos de infraestrutura — para tentar alcançar os pequenos negócios.
Em volume de recursos, foram R$ 44,9 bilhões para MPMEs, quase 40% do total desembolsado pelo banco em 2023. No debate on-line sobre financiamentos para esse segmento do “Caminhos do Brasil”, realizado na quarta-feira, a diretora de Crédito Digital para MPMEs do BNDES, Maria Fernanda Coelho, afirmou que a instituição de fomento está preparando uma série de novidades para ampliar ainda mais essa fatia dos pequenos em sua carteira de crédito.
A necessidade de ampliar o acesso de MPMEs ao crédito foi discutido na live realizada na quarta-feira em mais uma edição da série “Caminhos do Brasil”, uma iniciativa dos jornais O GLOBO e Valor Econômico e da Rádio CBN, com patrocínio do Sistema Comércio, através da CNC, do Sesc, do Senac e de suas federações.
A conversa on-line contou com a participação de Guilherme Mello, secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda; Jorge Gonçalves Filho, presidente do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV); e Maria Fernanda Coelho, diretora financeira e de Crédito Digital para MPMEs do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A mediação foi dos jornalistas Glauce Cavalcanti, do GLOBO, e Álvaro Campos, do Valor. Você pode ver o vídeo com a live completa no link:
Entre as novidades do BNDEs para as MPMEs, Maria Fernanda anunciou o lançamento em breve de uma nova versão do Cartão BNDES, com o qual empresas podem financiar a aquisição de insumos e equipamentos. É uma espécie de crédito rotativo e pré-aprovado de até R$ 2 milhões com prazo de 48 meses para pagamento em prestações fixas e iguais. A taxa cobrada é de 1,59% ao mês.
Na live, Maria Fernanda destacou que o BNDES tem uma parceria com o Sebrae para oferecer uma trilha de conhecimento a empreendedores, o que inclui:
- o controle das finanças da empresa e como fazer a previsão dos gastos e dos recebimentos;
- a importância do planejamento e da gestão antes de solicitar crédito;
- o que se deve considerar na hora de comparar as taxas de juros; como criar um plano de comunicação para alavancar as vendas;
- e, ainda, qual é a melhor maneira de desenvolver uma presença digital marcante.
Dos R$ 174 bilhões aprovados (etapa anterior ao desembolso) em crédito para pessoas jurídicas em 2023, as MPMEs somaram R$ 63 bilhões, um crescimento de 26% em relação ao ano anterior e um sinal de que o segmento tende a avançar no banco. Dentre os principais setores atendidos estiveram: o agropecuário, com demanda de R$ 36,3 bilhões; o de comércio e serviços, responsável por R$ 22 bilhões; e a indústria, que requisitou R$ 4,2 bilhões.
Hoje, há duas maneiras de pequenas e médias empresas obterem crédito do BNDES. A primeira é por meio de operações diretas, que ocorrem sem intermediários através de uma plataforma eletrônica. A segunda é por meio das operações indiretas, realizadas por agentes financeiros parceiros que repassam recursos do banco, o que facilita a capilaridade da concessão de empréstimos.
450 mil clientes
Segundo a diretora do BNDES, o banco de fomento opera hoje por meio de 80 agentes financeiros conveniados, como bancos públicos, privados, agências de fomento, organizações da sociedade civil de interesse público (OSCIPs) e cooperativas de crédito, que atendem necessidades diferentes. Em 99% dos casos, a aprovação do pedido ocorre automaticamente, em três segundos.
![Maria Fernanda Coelho, diretora de MPMEs do BNDES — Foto: Valter Campanato/Agência Brasil](https://s2-oglobo.glbimg.com/kzq8CMoXGMiR5J-G02X299F7gVI=/0x0:5184x3456/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/l/I/LkRS7kTZ63e9v6ZGM6Ng/105486663-brasilia-df-maria-fernanda-ramos-coelho-secretaria-executiva-da-secretaria-geral-da-pre.jpg)
— Isso nos permitiu chegar a 93% dos municípios, com mais de 450 mil clientes — afirmou a diretora, reafirmando que o segmento é uma prioridade estratégica do BNDES.
A executiva também mencionou o esforço do BNDES para dar a negócios de menor porte o acesso a instrumentos do mercado de capitais. E destacou a aprovação no Congresso das Letras de Crédito do Desenvolvimento (LCD), que serão uma nova fonte de captação de recursos do BNDES para esse objetivo.
Segundo ela, o processo de digitalização trouxe avanços para a relação de micro e pequenos negócios com agentes financeiros e com o próprio BNDES, sem a necessidade de que o empreendedor esteja em grandes centros urbanos. Além disso, ficou mais fácil para ele encontrar produtos financeiros adequados, já que há maior oferta.
O BNDES Crédito Pequenas e Médias Empresas, por exemplo, é desenvolvido para empreendedores que buscam capital de giro. A taxa de juros é composta pelo custo financeiro; pela taxa do agente financeiro, negociada entre instituição e cliente; e pela taxa do BNDES, que nessa linha varia entre 1,25% e 1,45% ao ano.
![Os participantes da 'live' sobre crédito para MPMEs da série "Caminhos do Brasil": Guilherme Mello, Jorge Gonçalves, Maria Fernanda Coelho e os mediadores Glauce Cavalcanti e Álvaro Campos — Foto: Reprodução](https://s2-oglobo.glbimg.com/k9Fd2Lrz_gSJIuqcbZq4mCuVEa4=/0x219:1917x1079/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/9/m/mq1YqyQCmsjT9TWo8dhg/107643413-ec-rio-de-janeiro-rj-10-07-2024-live-caminhos-do-brasil-o-gargalo-de-credito-para-pequen-1-.jpg)
Na aquisição e comercialização de máquinas, equipamentos, ônibus e caminhões, o BNDES Finame BK Aquisição e Comercialização é o mais indicado. Já quem busca aumentar a produtividade por meio de atualização tecnológica pode buscar recursos pelo BNDES Automático Projeto de Investimento, em que a taxa do BNDES começa em 0,95% ao ano. Ainda há alternativas específicas para atividades rurais e microempreendedores.
Desde o ano passado, o BNDES vem realizando reuniões on-line com toda a sua rede de parceiros no país, para que eles ajudem os empresários a fazer a melhor escolha entre as soluções financeiras do banco. O Sebrae é parceiro nesse processo, oferecendo cursos de capacitação sobre assuntos importantes para a sustentabilidade do negócio atrelados ao crédito.
Gargalo
No debate on-line, o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello, chamou a atenção para o papel do BNDES na solução de uma das principais dificuldades dos pequenos empreendedores para tomar crédito: oferecer garantias. O banco é o braço operacional do governo para iniciativas de oferta de garantia pública para suprir essa carência.
Em 2023, o BNDES viabilizou 144 mil operações em soluções de garantias, que alavancaram em torno de R$ 45 bilhões em crédito no período, alta de 119% em relação ao ano anterior. No primeiro trimestre deste ano, o BNDES aprovou (na etapa anterior ao desembolso) mais de R$ 13 bilhões em crédito para MPMEs, superando 50% do total do banco. O número de operações desse tipo subiu 59% e chegou a 56 mil.
![O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello, é economista e cientista social com doutorado pela Unicamp, da qual era professor antes de ingressar no governo, em 2023 — Foto: Gabriel de Paiva/O Globo](https://s2-oglobo.glbimg.com/bhg1TSacH1737sQPCY--SLkVTes=/0x0:1186x841/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/b/1/T2HUOOScmOaRWilqPSJQ/102460905-ec-rio-de-janeiro-rj-20032023-seminario-no-bndes-estrategias-de-desenvolvimento-sustenta.jpg)
— O pequeno empresário não possui garantias. O banco não se sente seguro para emprestar quando observa a alta inadimplência, a falta de garantias e a falta de estruturação. O grande empresário tem um setor, em geral, destinado a isso, a lidar com toda a burocracia, com todo o trabalho de demonstrar capacidade de pagamento. O pequeno não tem isso — afirmou o secretário.
Conheça os principais programas federais para ampliar o crédito para MPMEs
- Acredita no Primeiro Passo: Programa de microcrédito produtivo orientado para pessoas inscritas no Cadastro Único (CadÚnico). É voltado para famílias de baixa renda no cadastro de programas sociais como Bolsa Família, informais e pequenos produtores rurais. Utiliza o sistema público de garantias através do Fundo Garantidor de Operações (FGO). Ao menos metade das concessões para renegociação com aval do FGO deve ser para mulheres.
- Desenrola Pequenos Negócios: O programa é uma versão para pessoas jurídicas do programa de renegociação de dívidas já realizado pelo governo federal para pessoas físicas. Ele incentiva a renegociação de dívidas de microempreenddores individuais (MEIs), micro e pequenas empresa em melhores condições, potencializando a capacidade de concessão de empréstimos. São beneficiadas dívidas não pagas até 23 de janeiro de 2024. No primeiro mês de execução, foram R$ 2,5 bilhões renegociados. O Ministério da Fazenda estima que o valor possa chegar a algo entre R$ 7 bilhões e R$ 10 bilhões.
- Procred 360: Política de estímulo ao crédito para MEIs e microempresas com faturamento de até R$ 360 mil ao ano. A taxa de juros é composta por Selic + 5% ao ano. Estabelece uma reserva do FGO com garantia maior voltada especificamente para empréstimos para esses grupos.
- Pronampe: O Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) foi criado durante a pandemia e tornado permanente após ajustes. É voltado a micro e pequenas empresas. A taxa de juros é formada por Selic + 6% ao ano. Tem garantia do Fundo Garantidor de Operações (FGO).
- Peac-FGI: O Programa Emergencial de Acesso a Crédito (FGI-Peac) foi criado durante a pandemia e segue em vigor. É voltado a MEIs, micro, pequenas e médias empresas. A taxa de juros pode ser negociada livremente entre o tomador e a instituição financeira concedente do crédito, mas a taxa média praticada na carteira por cada instituição financeira operadora não pode exceder 1,75% ao mês. Oferece garantias via fundo garantidor para investimentos (FGI).