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Por — Brasília

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil (BC) decidiu manter a taxa básica de juros da economia estável em 10,50% ao ano, num cenário de dólar em alta e pressão sobre a inflação.

A decisão foi anunciada no início da noite desta quarta-feira, após a reunião da diretoria colegiada do órgão, que considera que o cenário de dentro e fora do Brasil exige uma "maior cautela". A Taxa Selic permanece no menor nível desde fevereiro de 2022. A decisão do Copom foi unânime, repetindo a unidade da última reunião.

No comunicado, o Copom afirma que optou por manter a taxa de juros inalterada, destacando que o cenário global incerto e o cenário doméstico marcado por resiliência na atividade, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas "demandam acompanhamento diligente e ainda maior cautela".

O Copom também ressalta que a política monetária deve se manter contracionista "por tempo suficiente em patamar que consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno da meta". A meta é manter a inflação em 3% ao ano, podendo variar entre 1,5 ponto para mais ou menos.

Projeções de analistas de mercado compiladas pelo BC no Boletim Focus basearam decisão do Copom — Foto: Editoria de Arte
Projeções de analistas de mercado compiladas pelo BC no Boletim Focus basearam decisão do Copom — Foto: Editoria de Arte

"O Comitê se manterá vigilante e relembra que eventuais ajustes futuros na taxa de juros serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta", diz o texto.

O BC também reforçou que o processo desinflacionário tende a ser mais lento, com ampliação da desancoragem das expectativas de inflação e um cenário global desafiador.

Reformulação na redação

O Copom reformulou o parágrafo que costumeiramente trata do cenário fiscal e de seus impactos para a condução da política de juros. O documento desta quarta acrescenta que “a percepção dos agentes econômicos sobre o cenário fiscal, junto com outros fatores, tem impactado os preços de ativos e as expectativas dos agentes”.

Por outro lado, foi retirada a frase do comunicado anterior que trazia a importância de o Comitê monitorar “com atenção como os desenvolvimentos recentes da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros”.

Política fiscal pode ajudar a baixar juros

O colegiado manteve a avaliação apresentada em junho de que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária.

O BC também cita que o ambiente externo mantém-se adverso, em função da incerteza sobre os impactos e a extensão da flexibilização da política monetária nos Estados Unidos, e aborda as dinâmicas de atividade e de inflação em diversos países.

Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho segue apresentando dinamismo maior do que o esperado, de acordo com o BC. As expectativas de inflação para 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 4,1% e 4,0%, respectivamente.

Analistas não descartam alta nos juros, mas isso é improvável

Alberto Ramos, do Goldman Sachs, afirma, a partir do comunicado, que um eventual aumento de juros de curto prazo ainda é possível, mas é improvável que o texto leve o mercado a aumentar significativamente a probabilidade de uma alta na Selic na reunião de setembro.

A manutenção da taxa era amplamente esperada pelo mercado, disse Mirella Hirakawa, economista e coordenadora de pesquisa da Buysidebrazil. Ela destacou, contudo, que os analistas esperavam uma sinalização mais clara no comunicado do Copom sobre uma possível retomada da alta nos juros.

Segundo ela, a expectativa era que o documento repetisse uma frase adotada em março de 2022 de que o Copom não hesitaria em retomar o ciclo de elevação da Selic, caso o processo de desinflação não transcorra como esperado. Isso não ocorreu, mas também não foi descartado, disse Mirella:

— Com isso, a leitura do mercado é que a Selic será mantida no patamar de 10,50% na próxima reunão do Copom, em setembro.

Ela destacou, contudo, que duas palavras expressadas no comunicado — vigilância e diligente — sobre o acompanhamento de cenário traz um recado duro e de alerta.

Vigilância

O analista Luis Otávio Leal da G5 Partners, observou que o BC manteve a Selic em 10,5% ao ano, mas deu um recado mais duro em relação ao tom adotado em junho. A autoridade monetária cita como fatores de risco um processo de desinflação mais lento, além das políticas econômicas interna e externa e a taxa de câmbio.

Ele também destacou o aviso de "maior vigilância", do comunicado: “Em particular, os impactos inflacionários decorrentes dos movimentos das variáveis de mercado e das expectativas de inflação, caso esses se mostrem persistentes, corroboram a necessidade de maior vigilância".

Para Rafael Cardoso, economista-chefe do Departamento de Pesquisa Econômica do Banco Daycoval, o comunicado foi duro:

— Diversos pontos do comunicado dão a ideia de que eventualmente o cenário de se subir os juros não é desprezível. A comunicação do BC deixa a porta aberta para isso — disse Cardoso, acrescentando, contudo, que isso não deve ocorrer em setembro.

Entre os pontos, ele cita o cenário externo, que se mantém adverso a despeito a proximidade do corte de juros pelo Fed (banco central americano). No cenário interno, a surpresa é em relação à atividade econômica, sobretudo o mercado de trabalho aquecido e em relação, à inflação, os núcleos estão acima do compativel coma meta.

Previsão de inflação

A decisão desta quarta-feira ocorre num momento de alta do dólar e de maior pressão sobre a inflação. A moeda americana acumulou alta de de 15,9% neste ano, o que é um fator que pode gerar alta de preços dentro do Brasil. O dólar fechou em R$ 5,65 nesta quarta. Segurar os juros, por sua vez, tende a inibir a alta da divisa americana.

A alta do IPCA-15 de julho, de 0,30%, acima das estimativas, reforçou a preocupação de analistas. No acumulado em 12 meses até julho, o percentual fechou em 4,45%, superior aos 4,06% até o mês anterior. Esse patamar está próximo da meta de inflação, de 3% ao ano (podendo chegar até 4,5%).

A previsão do mercado para a inflação de 2025 também tem subido. Saiu de 3,87% no início deste ano para 3,96% nesta semana,

Ao longo de todo este ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem criticado recorrentemente a taxa de juros e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. O BC tem autonomia operacional e Campos Neto tem mandato até o fim deste ano.

Decisão do Fed

Também nesta quarta, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) decidiu manter os juros do país inalterados, na faixa de 5,25% a 5,50% ao ano. A decisão foi unânime. Esse continua sendo o maior nível das taxas desde 2001.

Jerome Powell em entrevista coletiva após Fed decidir pela manutenção dos juros — Foto: Andrew Harnik/Getty Images/AFP
Jerome Powell em entrevista coletiva após Fed decidir pela manutenção dos juros — Foto: Andrew Harnik/Getty Images/AFP

Em entrevista a jornalistas, o presidente do Fed, Jerome Powell, disse que um corte na taxa poderá "estar na mesa" já na próxima reunião do colegiado, em setembro. Isso se os dados econômicos do país caminharem conforme o esperado.

Essa mudança pode ser positiva para o Brasil, porque tende a fazer investidores colocarem recursos em países com juros mais altos.

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