O principal índice da Bolsa voltou a renovar sua máxima histórica, menos de uma semana depois de renovar o recorde por três dias seguidos. O Ibovespa encerrou a segunda-feira em alta de 0,94%, aos 136.888 pontos. Com a nova marca, o índice valoriza 2% em 2024.
O Ibovespa foi puxado pela Petrobras e pela Vale. As duas principais empresas do índice — juntas, as ações ordinárias e preferenciais da petrolíferas, somadas às da mineradora representam 22,8% da composição — surfaram na alta das respectivas commodities no mercado internacional.
A alta da petrolífera — que chegou a superar os 9% de valorização em seu papel ordinário durante as negociações — foi impulsionada ainda pela reclassificação do banco Morgan Stanley, para “overweight”, ou seja: a ação está retornando ao investidor um desempenho superior às expectativas.
No fim do dia, os papéis ordinários, com direito a voto, encerraram em alta de 8,96%, aos R$ 42,92. Já os preferenciais, sem voto, fecharam o dia em avanço de 7,26%, a R$ 39,57. Com a valorização, a empresa ampliou em R$ 41,3 bilhões seu valor de mercado, saindo de R$ 499,8 bilhões na sexta-feira para R$ 541,10 bilhões no fim do pregão de hoje.
Além disso, o banco americano prevê que a petrolífera consiga distribuir cerca de US$ 7 bilhões (cerca de R$ 38 bilhões) até o ano que vem. A instituição também aumentou o preço-alvo da ação, de US$ 18 para US$ 20. A ADR (recibos de ações não americanas negociadas nos EUA) da empresa, listada na Bolsa de Nova York, encerrou a segunda em alta de 8,68%, cotada a US$ 15,65.
“Com a reintrodução de dividendos extraordinários, vemos um potencial de retorno total de 60%, composto por 37% de valorização do preço das ações, 16% de dividendos regulares e 7% de distribuições extraordinárias”, disse o analista Bruno Montanari, do Morgan Stanley, à agência Bloomberg.
Ele afirmou ainda que os fluxos de caixa da empresa são resilientes e podem suportar distribuições mesmo em ambientes de mercado desafiadores. O analista elencou ainda que os “ruídos” tendem a diminuir gradualmente após a mudança de gestão, o que pode remover o componente de volatilidade da ação.
A alta da commodity ajudou a valorizar outras petrolíferas, também. Prio, PetroRecôncavo e 3R fecharam o dia em alta, respectivamente, a 0,43%, 0,56% e 1,98%.
Para Luan Aral, especialista da Genial Investimentos, a reclassificação de compra catapultou o preço da ação:
— A Petrobras já abriu o dia precificando a alta do petróleo, mas as duas coisas somadas adicionaram o patamar à Petrobras. Já vimos outras altas, mas um dos maiores bancos dos EUA recomendando compra fez preço — disse.
O contrato futuro para outubro do barril do Brent valorizava, no meio da tarde, 2,8%, a mais de US$ 80. A alta correspondia à escalada de tensões no Oriente Médio. No fim de semana, Israel atacou alvos do Hezbollah no sul do Líbano. O Oriente Médio produz cerca de 1/3 da produção mundial da commodity. Além disso, o governo do Leste da Líbia anunciou a interrupção da produção do óleo, após o conflito com o governo da capital do país, Trípoli.
— Há duas grandes forças, para cima e para baixo, está comprometendo a volatilidade da commodity: para baixo, o desaquecimento da economia, principalmente da China. E, para cima, a escalada dos conflitos que temos visto — afirma Davi Lelis, especialista da Valor Investimentos, sobre a volatilidade do petróleo na cotação internacional.
Do outro lado do mundo, outro afago trouxe ânimo a ações: a diminuição dos estoques em portos chineses ajudaram a elevar o preço do minério de ferro. O sinal ainda recente, após um momento de excesso de oferta, aliviou o preço dos contratos futuros nas bolsas asiáticas.
Duas semanas depois de alcançar a cotação mais baixa desde 2022, os futuros da commodity chegaram a valorizar 4% em Cingapura, um dos principais mercados de negociação, superando os US$ 100 por tonelada.
A Vale encerrou o dia em alta de 1,13%, a R$ 58,05 os papéis preferenciais da Gerdau valorizaram 0,77%, a R$ 18,42, enquanto a Usiminas ampliou 0,3, a R$ 6,60%.
Reação a Powell
Por aqui, o rali de valorização também correspondeu às falas de Jerome Powell, chefe do Federal Reserve, o banco central americano, sobre o início do afrouxamento monetário nos Estados Unidos.
Na sexta-feira, o presidente do Fed afirmou que havia “chegado a hora” de ajustar a política monetária.
— As falas de Powell fizeram com que as bolsas voltassem a subir. Os dados do PCE dirão se a economia norte-americana está saudável ou em recessão, e mostrará com que rapidez o Fed terá de reduzir os juros para evitar o que Powell chamou de “enfraquecimento indesejado das condições do mercado de trabalho” — afirma Hemelin Mendonça, especialista em mercado de capitais da AVG Capital.
Uma queda nos juros americanos é esperada por agentes de todo o mundo. Isso porque, com uma diminuição, investidores deixam de aplicar nos títulos americanos — considerados os investimentos mais seguros do mundo — e optam por ativos de maior risco em outras partes do mundo, que podem dar retornos maiores.
Dólar fechou dia em ligeira alta
A moeda americana oscilou na estabilidade durante toda a segunda. No fim do dia, o câmbio encerrou as negociações valendo R$ 5,49, em alta de 0,23%.
— O dólar foi pouco impactado pelas variáveis globais, afetando mais empresas ligadas a commodities. A agenda estava esvaziada. Mas a semana terá motivadores — disse Aral, da Genial Investimentos.
Para ele, a formação da PTAX (preço do dólar para contratos a vencer no mês seguinte) durante o fim do mês e a divulgação do PCE (inflação de preços ao consumidor), na sexta-feira, impactará o valor da divisa ainda nesta semana.
(com Bloomberg)