O Ibovespa encerrou o dia em baixa de 0,95%, aos 136.041 pontos. A realização desta quinta-feira vem um dia depois do índice renovar seu recorde, refletindo a aprovação dos agentes pela nomeação de Gabriel Galípolo como indicado do governo para presidir o Banco Central a partir de 2025.
Os papéis reagiram ao PIB do segundo trimestre dos Estados Unidos. O dado de tudo que é produzido na maior economia do mundo cresceu 3% entre abril e junho, acima de expectativas de mercado, que esperavam um avanço de 2,8%.
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Mas, na leitura de analistas, o dado amplia as chances de um corte de apenas 0,25% na taxa de juro americana, hoje na faixa de 5,25% e 5,5%.
— Por um lado é bom que afasta temores de recessão na economia americana. Quando vêm dados mais fortes, a gente está lendo como possivelmente uma política monetária mais restritiva lá fora, com uma menor queda de juros — diz Wagner Varejão, especialista da Valor Investimentos.
Pesquisa FedWatch, do CME, que analisa a probabilidade através de contratos, mostra que 65,5% dos agentes creem nesta magnitude menor de corte. Ainda assim, 34,5% ainda crê num corte maior, de meio ponto, para a banda entre 4,75% e 5%.
Os pedidos de auxílio-desemprego semanal, também divulgados nesta quinta-feira, vieram em linha com as expectativas, a 231 mil, o que contribuiu para robustecer o cenário de “pouso suave”, isto é, quando há desaceleração da economia, mas não abrupta a ponto de causar uma recessão.
Com os dados, os juros futuros dispararam. A taxa de depósito interfinanceiro para janeiro de 2025 chegou a superar os 11% durante as negociações. Isso, segundo os agentes, embute nos contratos um aumento de, pelo menos, meio ponto percentual na Taxa Selic, hoje em 10,5%.
Apesar da queda, Filipe Villegas, estrategista de ações da Genial Investimentos, o movimento é natural, depois de um período de extrema valorização:
— A Bolsa brasileira praticamente durante o mês de agosto não “respirou”, só subiu em linha reta. E isso acaba gerando uma assimetria mais negativa: quando sobe muito, extrapola indicadores técnicos e abre espaço para a entrada de especuladores — diz ele, sobre a realização de lucros.
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Com o avanço dos juros futuros, empresas voltadas ao setor doméstico sentiram mais: Pão de Açúcar recuou 4,56%, a R$ 3,14; Azzas perdeu 4,23%, a R$ 50,72; Assaí diminuiu 2,7%, aos R$ 9,36; Petz perdeu 2,64%, ais R$ 5,16, e Magazine Luiza desvalorizou 2,2%, aos R$ 14,66.
A maior queda do índice foi da Azul, que recuou 24,14%, a R$ 5,50. Mais cedo, uma notícia da agência Bloomberg afirmou que a empresa estaria avaliando opções que vão desde uma oferta de ações a um pedido de proteção contra credores nos EUA, conhecido como "Chapter 11", enquanto luta para cumprir obrigações de dívida com vencimento iminente, disseram fontes a par do assunto.
Para Villegas, o histórico de situações correlatas no setor e uma posição conservadora dos agentes promoveu a queda:
— Você tem uma possibilidade de recuperação judicial somada à situação do setor aéreo brasileiro, com episódios recentes de Avianca e Gol. Então o mercado junta as peças e, na dúvida, prefere não pagar para ver, e tem postura mais conservadora — ele diz.
Já o dólar, que chegou a encostar nos R$ 5,66 durante as negociações, encerrou em alta de 1,2%, aos R$ 5,62. Para Rodrigo Miotto, gerente de câmbio da Nippur Finance, a valorização do câmbio também advém do PIB americano mais forte, demonstrando resiliência da economia dos EUA.
Desde o dia 7 de agosto, dois dias depois do episódio conhecido como segunda sangrenta, a moeda americana não alcançava este patamar.