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Forças Armadas pedem mais R$ 1 bi do Orçamento para aviões e submarinos. Na Educação, verba disponível despencou

Total para despesas livres no Ministério da Defesa é um dos maiores, com R$ 8,4 bi. MEC terá R$ 8,9 bi, valor que é menos da metade do executado em 2018
Ministério da Defesa perdeu R$ 3,3 bilhões e ficou com um orçamento total para este ano de R$ 113 bilhões. Foto: Adriano Machado / Reuters

BRASÍLIA - Uma semana depois dos vetos do presidente Jair Bolsonaro para ajustar o Orçamento de 2021, o Ministério da Defesa pediu para acrescentar R$ 1 bilhão aos recursos da pasta e diz que os cortes impactam “diretamente o cumprimento da missão constitucional” das Forças Armadas. Enquanto isso, no Ministério da Educação, a verba disponível para gastos discricionários (ou seja, valores livres para investir) ficou em apenas R$ 8,9 bilhões, menos da metade do executado em 2018 .

Os pedidos do Ministério da Defesa constam em um ofício do ministro Walter Braga Netto, obtido pelo GLOBO, encaminhado à Casa Civil e ao Ministério da Economia na última quinta-feira.

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Entre vetos e bloqueios, o Ministério da Defesa perdeu R$ 3,3 bilhões, ficando com um orçamento total de R$ 113 bilhões, a maior parte para o pagamento de salários dos militares. O total disponível para as despesas livres (como custeio e investimento) ficou em R$ 8,4 bilhões, ainda assim um dos maiores da Esplanada.

Missão constitucional

“Tal redução impacta diretamente o cumprimento da missão constitucional do Ministério da Defesa, visto que as programações afetadas são de extrema importância para assegurar a defesa do território nacional e a continuidade de projetos prioritários, que, além de serem de grande relevância para a atuação das Forças Armadas, contribuem sobremaneira para a retomada da economia, com geração de renda, recuperação de empregos e divisas para o país”, diz Braga Netto.

'Eu dirijo a nação para o lado que os senhores desejarem', diz Bolsonaro a pastores. Presidednte se encontra com lideranças evangélicas e chorou ao relembrar da facada na campanha de 2018 Foto: Cristiano Mariz / Agência O Globo - 08/03/2022
Bolsonaro passeia de jet-ski com sua filha Laura no litoral de Santa Catarina, em dezembro de 2021. O presidente foi alvo de críticas por curtir dias de folga enquanto a tragédia das chuvas deixava mortos e desabrigados na Bahia Foto: Dieter Gross / iShoot/Agência O Globo
Bolsonaro, em discurso em evento da Fiesp, em São Paulo, disse ter demitido a chefia do Instituto Nacional do Patrimônio Histórico e Cultural Nacional (Iphan) depois que órgão embargou obra do empresário bolsonarista Luciano Hang Foto: Reprodução
Bolsonaro assinou no dia 2 de dezembro decreto que nomeia André Mendonça para o STF, tão prometido aceno à bancada religiosa com a indicação de um ministro 'terrivelmente evangélico'. Mendonça, ex-advogado-geral da União, também é pastor licendiado Foto: Alan Santos / Agência O Globo
Bolsonaro, que se elegeu pregando distância do dito Centrão e contra o principal programa de transferência do país, o extinto Bolsa Família, se filia ao Partido Liberal (PL), sob slogan aluviso ao do PT Foto: Divulgação
O presidente Jair Bolsonaro fez um discurso radical e repleto de inverdades na abertura da Assembleia Geral da ONU, em setembro de 2021 Foto: AFP
Bolsonaro come pizza na calçada em Nova York, com ministros, em setembro: sem estar vacinado, presidente não poderia entrar em restaurantes da cidade Foto: Reprodução
Momento em que Bolsonaro chega ao ato de 7 de Setmbro para discursar em palanque na Avenida Paulista: em discurso, presidente atacou ministros do STF e chamou Alexandre de Moraes de 'canalha' Foto: Miguel Schincariol / AFP - 07/09/2021
Bolsonaro recebeu o comboio de blindados e outros veículos militares na rampa do Palácio do Planalto, acompanhado de comandantes militares e do ministro da Defesa, Braga Neto, além de ministros civis. Oposição e até aliados analisaram o desfile como tentativa de intimidação Foto: Cristiano Mariz / Agência O Globo - 09/08/2021
Bolsonaro e Ciro Nogueira juntos durante a posse do novo ministro da Casa Civil. A pasta é considerada a mais importante do Executivo e concentra todas as nomeações da máquina pública. Caberá ao novo ministro azeitar a relação com o Congresso e tentar mitigar os danos provocados pela CPI da Covid no Senado Foto: Adriano Machado / Reuters
O servidor Luis Ricardo Miranda denunciou suspostas irregularidades envolvendo a compra da vacina indiana Covaxin. A reação do governo Bolsonaro foi mandar PF e CGU investigarem servidor – ao invés de investigar a denúncia Foto: Acervo pessoal
Manifestantes exibem cartazes representando o presidente brasileiro com a frase "A cepa Bolsonaro, perigo mundial", em frente à embaixada do Brasil em Buenos Aires, Argentina. Brasil ultrapassou a marca de 360 mil mortos pela Covid-19 Foto: AGUSTIN MARCARIAN / REUTERS - 14/04/2021
Quarto ministro da Saúde do governo, o médico Marcelo Queiroga. Pressionado pelo centrão, depois da repercussão do discurso de Lula, após decisão de Fachin de anular condenações em Curitiba, Bolsonaro fez mais uma troca no comando da pasta em meio à crise da Covid-19 Foto: EVARISTO SA / AFP - 15/03/2021
Depois de discursar ao lado de ministros em novo tom, usando máscara e a favor da vacina, o presidente Jair Bolsonaro apareceu em live, no dia seguinte, com um globo terrestre à mesa. O terraplanismo é uma das ideias difundidas pelo guru do presidente, Olavo de Carvalho Foto: Reprodução - 11/03/2021
Quatro horas do discurso do ex-presidente Lula, após ter condenações anuladas pelo ministro do STF Edson Fachin, Bolsonaro e ministros que costumavam aparecer em público sem máscara, usam acessório de proteção durante cerimônia oficial para assinar leis para facilitar a aquisição de vacinas. O evento no Palácio do Planalto, que já estava programado, foi antecipado Foto: UESLEI MARCELINO / Reuters - 10/03/2021
O general Eduardo Pazuello assumiu interinamente o Ministério da Saúde em 15 de maio de 2020, após o médico Nelson Teich, segundo a liderar a pasta durante a pandemia de Covid-19, pedir para sair pouco antes de completar um mês no cargo. Pazuello era secretário executivo do ministério da Saúde Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
Para substituir o médico Luiz Henrique Mandetta no Ministério da Saúde, Jair Bolsonaro anunciou outro médico, Nelson Teich, que pediu demissão com menos de um mês no cargo. O motivo: Bolsonaro pressionou Teich para ampliar o uso de cloroquina Foto: Jorge William / Agência O Globo - 16/04/2020
O então ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, entrou em rota de colisão com o governo quando o presidente tentou interferir na Polícia Federal e acabou sendo demitido em abril de 2020, pouco depois do primeiro ministro da Saúde a deixar o cargo, Luiz Henrique Mandetta Foto: Adriano Machado / Reuters
Manifestantes participam de panelaço durante pronunciamento do presidente Jair Bolonaro na TV. A cena ser repete a cada pronunciamento em rede nacional durante a pandemia. A mudança de tom do negacionismo ao pró-vacina não mudou a reação da população Foto: PILAR OLIVARES / REUTERS - 24/03/2019
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que rompeu com Bolsonaro em junho de 2020, anunciou a primeira vacina no mês seguinte Foto: HANDOUT / AFP
A primeira entrevista coletiva de Jair Bolsonaro na pandemia foi marcada pelo tom negacionista. Reduziu o perigo da ciência, convocou apoiadores e incentivou aglomerações, indo contra o próprio Ministério da Sáude Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo - 18/03/2020
Presidente Jair Bolsonaro cumprimenta seus apoiadores durante manifestação em Brasília. Ele deveria estar em isolamento social por ter tido contato com pelo menos 10 membros de sua equipe Foto: SERGIO LIMA / AFP - 15/03/2020
Bolsonaro defendeu o uso de cloroquina em lives, remédio sem qualquer comprovação científica no tratamento da Covid-19 Foto: Reprodução
“Você é um otário”, disse Bolsonaro a um repórter após ser questionado, durante cerimônia em Ipatinga (MG), em agosto de 2020, sobre os motivos que levaram a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, a receber depósitos de Queiroz e da mulher dele, Márcia Foto: Marcos Correa / PR
“Vontade de encher a tua boca na porrada”. Bolsonaro reagiu com a frase depois que repórter do GLOBO perguntou sobre sobre os depósitos. Presidente, que se encontrava em frente à Catedral Metropolitana de Brasília quando foi questionado sobre o fato, completou xingando o o repórter de “safado” Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
“Não tenho que conversar com vocês”. A resposta do presidente, em janeiro de 2020, foi motivada durante uma entrevista sobre ser favorável ou não à concessão de subsídio para a conta de luz de templos religiosos. Bolsonaro encerrou a conversa depois de indagado se o teria orientado o ex-assessor de Flávio a faltar um depoimento, sobre o caso Queiroz, marcado no Ministério Público do Rio de Janeiro Foto: Jorge William / Agência O Globo
Bolsonaro recebe a benção do bispo Edir Macedo durante visita visita ao Templo de Salomão, em São Paulo Foto: Terceiro / Reprodução de vídeo
Manifestação, em São Paulo, contra queimadas e desmatamento na Amazônia, que motivaram protestos em diversos países do mundo Foto: NELSON ALMEIDA / AFP / 23/08/2019
Parentes de Jair Bolsonaro usaram um helicóptero da Presidência da República para ir ao casamento do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, com a psicóloga Heloísa Wolf, no dia 25 de maio. Sobrinho de Bolsonaro, Osvaldo Bolsonaro Campos, divulgou vídeo nas redes sociais em que mostra o grupo com trajes de festa a caminho do casamento de Eduardo em Santa Teresa, no centro do Rio Foto: Picasa / Reprodução
No dia 15 de maio, população foi às ruas de todo o país para protestar contra o corte de verbas na educação. Esta foi a primeira grande manifestação popular contra medidas do governo Bolsonaro Foto: Alexandre Cassiano / Agência O Globo
Em Dallas, nos EUA, para receber uma homenagem da Câmara de Comércio Brasil-EUA, Bolsonaro chamou os manifestantes de 'idiotas úteis' Foto: Marcos Corrêa / Presidência da República -15/05/2019
O presidente assina decreto que flexibiliza as regras para posse e porte de armas Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo - 07/05/2019
Bolsonaro assina, em 25 de abril, o decreto que revoga o horário de verão no Brasil Foto: Marcos Corrêa / Presidência da República
No fim de março, após determinar que as Forças Armadas comemorassem o golpe militar de 1964, que completou 55 anos, Bolsonaro voltou atrás e disse que a ordem foi para "rememorar" e "rever o que está certo e o que está errado" no período. A declaração gerou protestos, notas de repúdios de instituições brasileiras e também de um dos relatores especiais da ONU Foto: Ailton de Freitas / Agência O Globo
Em 17 de março, Bolsonaro foi recebido por manifestantes na Casa Branca, em Washington, EUA, na primeira visita oficial como presidente Foto: Eric Baradat / AFP
Em visita ao Chile, Bolsonaro também foi recebido com protestos por opositores de Piñera Foto: Martin Bernetti / AFP
Após a tragédia que deixou Brumadinho (MG) sob a lama em 25 de janeiro, Bolsonaro sobrevoou o município para observar os estragos deixados pelo rompimento da barragem da Vale e destacou a necessidade de 'cobrar justiça' Foto: Divulgação / Isac Nóbrega/PR
Em 15 de janeiro, Bolsonaro assina seu primeiro decreto: registro, posse e comercialização de armas de fogo Foto: Jorge William / Agência O Globo
Bolsonaro deu posse a 22 ministros, entre eles sete militares com características conservadoras Foto: Alan Santos / Alan Santos/PR
Na cerimônia de posse, a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, chamou a atenção ao fazer um discurso em libras no parlatório, antes de Bolsonaro Foto: Jorge William / Agência O Globo
Após ser eleito com 57.797.847 votos, Jair Bolsonaro recebeu a faixa presidencial de Michel Temer em 1º de janeiro Foto: Evaristo Sá / AFP

Do total solicitado agora pelo ministério, a maior parte do valor — R$ 500 milhões — é para a aquisição de duas aeronaves de transporte que serão usadas para o combate à Covid-19.

Nota técnica da Aeronáutica, anexada ao ofício, afirma que a compra das aeronaves foi uma “decisão presidencial”. Em janeiro, Bolsonaro citou a intenção de comprar os aviões ressaltando que o governo teve dificuldade de transportar oxigênio durante o colapso no sistema de saúde de Manaus.

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A pasta pede também R$ 267,5 milhões para o Programa de Desenvolvimento de Submarinos e o Programa Nuclear da Marinha, que tiveram parte dos recursos vetados. Segundo o ofício, o dinheiro é necessário para pagar parcelas dos contratos.

Em uma mensagem enviada ao ministério, a Marinha afirmou que a falta de pagamento pode afetar a “credibilidade internacional” do Brasil e levar a um prejuízo de mais de R$ 21 bilhões. O documento diz que a redução no orçamento levará à “inadimplência contratual e à consequente rescisão unilateral por parte das empresas contratadas”.

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Ajuda a venezuelanos

Braga Netto registra também a necessidade de R$ 178,8 milhões “para manter a atuação das Forças Armadas nas ações de acolhimento humanitário e assistência emergencial aos venezuelanos em situação de vulnerabilidade”, na chamada Operação Acolhida.

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Por último, o ministro pede R$ 38 milhões para a implantação do Colégio Militar de São Paulo. A instalação de colégios militares é uma das bandeiras de campanha de Bolsonaro.

Procurado, o Ministério da Economia disse que não irá comentar. A Casa Civil confirmou o pedido da Defesa e disse que os pedidos estão sendo analisados por técnicos do governo.