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Economia

Gol ultrapassa Latam e se torna líder em Congonhas, aeroporto mais disputado do país

Com compra da MAP, empresa terá 48% dos horários de pouco e decolagem. Companhia vai pagar R$ 28 milhões pela aérea
Aeroporto de Congonhas: Gol se torna líder no terminal, após compra da MAP, com 48% dos slots Foto: Michel Filho / Agência O Globo
Aeroporto de Congonhas: Gol se torna líder no terminal, após compra da MAP, com 48% dos slots Foto: Michel Filho / Agência O Globo

SÃO PAULO e RIO - A Gol anunciou a compra da MAP , regional amazonense que pertencia à VoePass (antiga Passaredo). Na prática, vai pagar R$ 28 milhões — assumindo ainda R$ 100 milhões em compromissos financeiros da miúda — e saltar ao posto de líder em permissões para horários de pousos e decolagens ( slots ) em Congonhas, o aeroporto mais disputado do país. Terá 48,41% dos slots vigentes, batendo a Latam.

Em meio à tentativa de compra da Latam pela Azul, a Gol correu por fora e abocanhou espaço no aeroporto paulistano, cujo leilão de concessão à iniciativa privada está marcado para 2022.

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A aposta é que, na retomada da economia no pós-pandemia, Congonhas recupere movimento e rentabilidade com rapidez, considerando que concentra movimento de viajantes de negócios, o que pode acelerar a expansão da malha aérea e da oferta de assentos da Gol.

Guilherme Amaral, especialista em Direito Aeronáutico do ASBZ Advogados, destaca que, ainda que esteja com movimento reduzido em razão da crise da pandemia, Congonhas é sempre “a opção segura” para as companhias.

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— Com a Azul trabalhando para ser ainda maior, a Gol encontrou a opção mais viável para dar um sinal de que segue na briga. Num mercado com poucos concorrentes e com pouca consolidação viável, a empresa mostra que é mais como a Azul, que quer comprar a Latam. É como se dissesse: “A Azul fala, mas quem consolida sou eu” — diz Amaral.

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Em comunicado distribuído ao mercado, Paulo Kakinoff, CEO da Gol, deixa claro que a empresa está marcando território diante das concorrentes e pavimentando o caminho para seu crescimento.

Avião da Gol Foto: Reprodução
Avião da Gol Foto: Reprodução

“Acreditamos que a aquisição da MAP seja, neste momento, a única oportunidade viável de consolidação racional no mercado de aviação brasileiro. Daqui para frente, continuaremos focados na estratégia de crescimento orgânico, estimulando a demanda para expansão de nossa malha”, disse o CEO.

Terminal disputado

Na região central de São Paulo, Congonhas leva a vantagem de permitir às companhias operarem nos trechos mais rentáveis da aviação nacional, com destaque para a ponte aérea Rio-São Paulo, o filé mignon do setor.

Não à toa, até o início da pandemia, o terminal figurava como o segundo de maior movimento de passageiros do país, atrás apenas de Guarulhos.

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Com a crise trazida pela Covid-19, Congonhas decaiu ao 7º aeroporto com maior número de embarques e desembarques de passageiros, tendo sido superado pelos de Campinas (centro de distribuição da Azul), Recife, Brasília, Confins (Belo Horizonte) e Santos Dumont, no Rio.

A queda de Congonhas reflete o tombo no segmento corporativo. Com isso, na retomada, a expectativa é que o terminal seja um motor de recuperação de tráfego aéreo, avalia Amaral, com a vantagem de ancorar voos de alta rentabilidade.

Assim, slots em Congonhas são cobiçados. Foi grande a expectativa pela distribuição das permissões da Avianca Brasil, quando a empresa deixou de voar em 2019.

Na época, Gol e Latam, que detinham as maiores fatias no aeroporto, ficaram fora da partilha definida pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

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De lá para cá, são 537 slots autorizados. A Gol detém 234, com 43,57% de participação no total. Assumindo os 26 slots da MAP, passa para 260, ficando com 48,41%. A Latam perde a liderança, mantendo seus 236 voos e uma fatia de 43,95%. Na sequência vem a Azul, com 41 slots . As empresas, contudo, já miram o cenário pós-pandemia.

‘Slots’ mudam em outubro

Com a Covid, o cancelamento de permissões por não regularidade no serviço ficou suspenso. Mas, esta semana, a Anac definiu como será a divisão de slots a partir de outubro. O novo desenho retira quatro slots da MAP — o que já estava definido desde sua fusão com a Passaredo — dividindo-os igualmente entre a Azul e a novata ITA.

— Não se cresce apenas via Congonhas. Não avalio como um movimento que vai puxar crescimento orgânico da Gol. É mais uma forma de manter slots afastados de outros concorrentes. Uma estratégia defensiva. Lá atrás, Gol e Latam queriam levar os slots da Avianca, houve disputa pela empresa — relembra Cleveland Prates, ex-conselheiro do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e professor da FGV.

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Para ele, a aquisição pode enfrentar desafios para ser aprovada:

— A aprovação não é líquida e certa. Pode haver questionamento regulatório da Anac, porque a Gol está ficando com os slots da MAP, enquanto os aviões ficarão com a VoePass. E não se pode comprar slots no Brasil. Já do ponto de vista da concorrência, podem estar contando com o fato de ser um acréscimo pequeno em slots , mas o Cade foi firme na época da divisão de slots da Avianca.

Prates considera que o fluxo de negócios vai voltar, mas o perfil deve mudar, o que dificulta prever a demanda.

A aposta da Gol é na reativação de Congonhas. Em fevereiro do ano passado, a empresa era a segunda no mercado doméstico, a uma cabeça da Latam, com 37,1% de participação, ante 38,1% da concorrente. Em abril deste ano, figurava na terceira posição, com 25,95%, atrás da Latam (28,49%). As duas foram ultrapassadas pela Azul, que bateu uma fatia de 45,1%.