Governo envia ao Congresso Orçamento de 2022 sem reajuste no Bolsa Família

Proposta também prevê pagamento integral dos precatórios
O ministro da Economia, Paulo Guedes Foto: Edu Andrade / Ministério da Economia

BRASÍLIA — O governo Jair Bolsonaro enviou ao Congresso Nacional nesta terça-feira o Orçamento de 2022, ano de eleições presidenciais. A peça não prevê aumento nos gastos do Bolsa Família, apesar de o presidente querer reajustar o valor médio do benefício, que passará a se chamar Auxílio Brasil. O programa ainda depende de aprovação de deputados e senadores. O projeto ainda prevê o pagamento integral dos precatórios.

Pedro Guimarães: Presidente da Caixa diz que banco fará 'maior operação de crédito da história' do Brasil'

O Orçamento foi enviado sem aumento do Bolsa Família por falta de espaço no teto de gastos — regra que impede o crescimento das despesas da União acima da inflação do ano anterior. A previsão é de gastar R$ 34,7 bilhões com o programa, mesmo valor deste ano. Esse recurso é suficiente para atender 14,7 milhões de famílias.

Já para o salário mínimo, a proposta prevê um reajuste de 6,2% para o ano que vem , o elevaria o valor para R$ 1.169.

Com o alto preço do gás, Simone, de 49 anos, é obrigada a retroceder à lenha para cozinhar no quintal de casa Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
Vitória dos Santos Macedo, de 21 anos, era ambulante na praia. Com a pandemia, deixou de trabalhar. Vivendo com o marido no Vale dos Eucaliptos, em Senador de Vasconcelos, Zona Oeste do Rio, a casa deles não tem água encanada, nem fogão, nem geladeira Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
Simone Souza Bernardes, 49 anos. Ela e os filhos, Aline, 6 anos, Marcos e Naiara, de 15, vivem na zona rural de Nova Iguaçu, Baixada Fluminense Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
Dados mostram que, com impacto da queda de renda durante a pandemia, 14% dos brasileiros que não eram considerados pobres em 2019 estão nesta situação em 2021 Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
No caixote onde Simone está sentada, estão guardados os poucos mantimentos que se tem para a família, um pouco de farinha e feijão Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
A pequena Aline come as migalhas de um bolo Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
Casal Gustavo Moura e Naomi da Silva, no quartinho onde vivem no Jardim dos Eucaliptos, em Senador Vasconcellos. Eles estão sem trabalhar e esperam o primeiro filho Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
Júlio, que preferiu não mostrar o rosto, era lanterneiro e perdeu o emprego na pandemia. Com problemas na família, foi morar recentemente na rua, dormindo na Praça Jardim do Méier, Zona Norte do Rio Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo

O Orçamento prevê gastos de R$ 89,1 bilhões para precatórios (despesas decorrentes de decisões judiciais), classificados como um "meteoro" pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. O valor foi incluído, apesar do governo negociar uma forma de reduzir esse montante para 2022.

— O aumento dos precatórios estrangula as despesas discricionárias. A gente vai ter um ano difícil. Com os precatórios, sem nenhuma solução, a gente não vai conseguir fazer nenhum tipo de ampliação de política pública. Pelo contrário, talvez até deduzir política pública. É dessa forma que a gente vai trabalhar, com discricionárias menores e cada vez mais enxutas — disse o secretário especiual de Tesouro e Orçamento do Ministério da Economia, Bruno Funchal.

Segundo o Ministério da Economia, o Orçamento será atualizado quando uma solução para os precatórios for encontrada. Também haverá uma atualização com a previsão de uma inflação maior, já que o projeto deste ano contempla uma inflação de 6,2%, percentual abaixo dos valores estimados pelo mercado.

Orçamento: Governo não prevê reajuste para servidores em 2022, mas terá 41 mil vagas de concurso

O crescimento dos gastos com sentenças judiciais limita outras despesas por conta do teto de gastos. Essa regra impede o crescimento das despesas da União acima da inflação. Quando um gasto cresce acima da inflação, outro precisa ser reduzido.

Com isso, a peça orçamentária prevê um total de R$ 98,6 bilhões para os gastos livres da União, como despesas com manutenção da máquina pública (contra R$ 96 bilhões na proposta deste ano). Isso representa apenas 6% de todo o Orçamento. O restante está sendo consumido por despesas obrigatórias, como aposentadorias.

A estimativa é de R$ 23,7 bilhões em investimentos totais, contra R$ 28,6 bilhões de 2021.

“O crescimento de pagamento dessas sentenças judiciais gera inevitavelmente a compressão dos gastos discricionários – em especial, investimentos – da União, para que sejam respeitadas as regras fiscais vigentes. A situação pode afetar o financiamento de políticas públicas finalísticas e colocar em risco a capacidade operacional de órgãos e entidades federais, visto que parte expressiva dos gastos discricionários são despesas essenciais ao funcionamento de quaisquer estruturas que executam e apoiam tais políticas”, afirma o Ministério da Economia.

Ambulantes no Largo da Concórdia, Brás, na cidade de São Paulo Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo
Margarida Ramos vende fantasias infantis no centro de São Paulo Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo
Na foto, Adriana da Silva dos santos, trabalha em Copacabana vendendo artesanato Foto: Roberto Moreyra / Agência O Globo
No Rio, pobreza cresce e número de camelôs aumenta nas ruas Foto: Alexandre Cassiano / Agência O Globo
Na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, cresce número de ambulantes Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo
Ambulantes na Praia do Leblon. Trabalho por conta própria atinge recorde Foto: Luiza Moraes / Agência O Globo

Funchal descartou o orisco de paralisação da máquina pública (o chamado shutdown ).

— Não tem risco de shutdown, mas é bastante desafiador — disse.

O governo enviou ao Congresso uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para parcelar os precatórios, mas o texto foi mal recebido. Diante das dificuldades, a solução agora é buscar um entendimento na Justiça a favor de criar um teto para os precatórios.

Guedes: Ministro é convidado a dar explicações na Câmara sobre saída da Caixa e BB da Febraban

A solução que está sendo desenhada passaria pelo Conselho Nacional da Justiça (CNJ), presidido pelo ministro Luiz Fux, também presidente do Supremo Tribunal Federal (STF).

A ideia discutida no CNJ é estabelecer um limite anual de pagamento de precatórios, corrigido pela inflação, para dar previsibilidade ao Orçamento do governo federal. Isso pode reduzir, dos atuais R$ 89 bilhões, para cerca de R$ 39,9 bilhões, o valor total de precatórios que o governo federal terá de pagar em 2022.

O Orçamento do próximo ano prevê déficit de R$ 49,6 bilhões, bem abaixo do oficialmente autorizado pelo Congresso (de R$ 170 bilhões), em razão do aumento da arrecadação. O governo vai esperar o melhor momento político para propor uma alteração formal na meta.

Essa melhora foi possível por conta do aumento da arrecadação de impostos, causada pelo crescimento da economia e pela inflação.

Portugal: País se abre, clientes voltam, mas empresários brasileiros vivem dilema: candidatos a emprego sumiram

“O resultado primário projetado para 2022 neste PLOA deixa evidente os benefícios do novo regime fiscal (teto de gastos) que, a partir do controle de gastos, traduz o aumento de receita em melhores resultados fiscais, com reflexo no endividamento do Governo Geral e nas expectativas de médio prazo em relação às contas públicas”, diz a pasta.

A peça orçamentária prevê um total de R$ 1,646 trilhão em gastos da União. Desse total, R$ 765,5 bilhões serão para Previdência Social (aposentadorias do INSS); R$ 342,7 bilhões para gastos com servidores públicos; R$ 73,4 bilhões para o Benefício de Prestação Continuada; R$ 63,4 para o abono salarial e o seguro desemprego; e R$ 13,3 bilhões para subsídios.

Na véspera de parecer: Magistrados e MP pressionam para continuar fora da reforma administrativa

O texto não considera receitas com privatizações, mas prevê receitas de dividendos em R$ 26,2 bilhões.

O Ministério da Economia aproveitou a divulgação do Orçamento para defender o teto de gastos. Afirma que a regra, além da redução dos prêmios de risco, diminuiu a trajetória de resultado primário convergindo rapidamente para a volta do superávit primário.

“Tais evidências ajudam a reforçar a importância dessa regra para o processo de consolidação fiscal que é base para que a economia brasileira tenha um ambiente de juros mais baixos e, portanto, incentivos a mais investimentos e geração de emprego, pilares para o crescimento sustentável”, diz o texto.

Orçamento por ministério

O Orçamento também precisa ser analisado pela lógica do total das despesas livres para cada ministério. É com esses gastos que um governo consegue fazer a sua política pública, como obras e outros investimentos. São as chamadas despesas discricionárias, que chegam a R$ 98,6 bilhões em 2022, o equivalente a 6% do Orçamento.

O Ministério da Educação é o que tem o maior número dessas despesas, seguido por Saúde, Economia e Defesa.

  • Advocacia-Geral da União: R$ 533,5 milhões
  • Agricultura: R$ 2,1 bilhão
  • Banco Central: R$ 343 milhões
  • Cidadania: R$ 2,5 bilhões
  • Ciência e Tecnologia: R$ 6,5 bilhões
  • Comunicações: R$ 1,5 bilhão
  • Controladora-Geral da União (CGU): R$ 136,6 milhões
  • Defesa: R$ 11,8 bilhões
  • Desenvolvimento Regional: R$ 4,4 bilhões
  • Economia: R$ 12,1 bilhões
  • Educação: R$ 21,2 bilhões
  • Infraestrutura: R$ 7 bilhões
  • Justiça: R$ 2,8 bilhões
  • Meio Ambiente: R$ 796 milhões
  • Minas e Energia: R$ 1,3 bilhões
  • Mulher, Família e Direitos Humanos: R$ 261 milhões
  • Presidência da República: R$ 475,6 milhões
  • Relações Exteriores: R$ 2,2 bilhões
  • Saúde: R$ 17,3 bilhões
  • Trabalho: R$ 1,9 bilhão
  • Turismo: R$ 674 milhões
  • Vice-Presidência: 6,8 milhões