Governo lança série de 'bondades' econômicas que podem ajudar a recuperar popularidade de Bolsonaro

Em meio à piora das expectativas, todas têm em comum um forte apelo popular
Energia: A tarifa social para a baixa renda, além da isenção da bandeira tarifária de escassez hídrica, dá descontos de 10% a 65% Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

BRASÍLIA — Menos de uma semana após Paulo Guedes ser cobrado por Jair Bolsonaro, em reunião ministerial, a apresentar resultados positivos na economia, uma série de medidas de aprimoramento da chamada microeconomia — ou seja, que beneficiam grupos específicos, não toda a sociedade — começa a sair do papel.

Outras, como novas linhas de crédito com juros reduzidos, serão apresentadas ainda esta semana. Todas têm em comum um forte apelo popular, o que pode ajudar eleitoralmente o governo em um cenário de piora das expectativas macroeconômicas e a sepultar a crise do 7 de Setembro, como mostra a colunista Malu Gaspar .

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Na noite de domingo, o governo sancionou a lei que deve mais que dobrar o número de beneficiários do programa de tarifa social de energia, que garante desconto de até 65% na conta de luz e isenção da bandeira de escassez hídrica. 

Na segunda-feira, aumentou os limites do Casa Verde e Amarela , para a baixa renda, e editou a medida provisória do Habite Seguro, programa habitacional subsidiado para policiais. Essas medidas têm grande impacto para grupos específicos, em um momento em que a popularidade de Bolsonaro cai.

Fantasiado como o extremista que invadiu o Capitólio dos EUA, em ato pró-Trump, manifestante demonstra apoio ao deputado Daniel Silveira, preso por ameaçar o ministro do STF Alexandre de Moraes e defender o AI-5 Foto: MIGUEL SCHINCARIOL / AFP
"Queremos a destituição dos ministros do STF", diz cartaz de apoiador de Bolsonaro em manifestação, na Avenida Paulista, em São Paulo Foto: PAULO LOPES / AFP
Manifestantes seguram cartaz pedindo intervenção militar em português, inglês, italiano e espanhol – este com erro de grafia Foto: Fotoarena / Agência O Globo
Em Copacabana manifestantes, usando um carro da Polícia Militar, encenam a prisão do ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito que investiga atos antidemocráticos Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo
"Presidente, ative as forças armadas, queremos uma nova Constituição", diz cartaz, em francês, de manifestante na Avenida Paulista, em São Paulo Foto: MIGUEL SCHINCARIOL / AFP
Cartaz escrito em inglês ataca o Supremo: 'podre e criminoso' Foto: Bruno Rocha / Agência O Globo
Cartaz em Copacabana, Zona Sul do Rio, acusa STF de corrupção e pedei impeachment de ministros Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo
Manifestação na Avenida Paulista, em São Paulo Foto: Bruno Rocha / Agência O Globo
Manifestação na Avenida Paulista, em São Paulo Foto: Fotoarena / .
Manifestação na Avenida Paulista, em São Paulo Foto: Agencia Enquadrar / .

E ocorrem em meio à piora das expectativas econômicas. O Boletim Focus, apurado pelo Banco Central junto ao mercado financeiro, divulgado ontem, mostra que a previsão do crescimento do PIB em 2022, ano eleitoral, recuou a 1,72%. Há um mês, era de 2,04%.

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Já a estimativa para a inflação deste ano atingiu 8%, mais que o dobro do centro da meta do BC, de 3,75%. Segundo fontes do governo, a piora das condições econômicas foi o principal argumento para convencer Bolsonaro a, na última quinta-feira, escrever uma carta de recuo em relação aos ataques que fez ao Judiciário nos atos antidemocráticos de Sete de Setembro.

Caixa quer baixar juros

Outras medidas virão esta semana. Nessa segunda-feira, o presidente da Caixa Econômica Federal,  Pedro Guimarães, afirmou, em evento no Palácio do Planalto, que o banco irá anunciar na quinta-feira uma redução da taxa de juros para financiamento da casa própria — apesar de a taxa básica de juros (Selic), hoje em 5,25%, estar em trajetória de alta por causa da inflação.

— A Caixa vai reduzir os juros. Não está aumentando a Selic? Então a Caixa, com o lucro que nunca teve, sem roubar, vai diminuir os juros da casa própria — afirmou.

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A Caixa também deve anunciar, nesta semana, o que Guimarães tem chamado de “ maior programa de crédito do mundo ”.

Segundo fontes do governo, seriam oferecidos empréstimos, com taxas baixas, a todos os 105 milhões de brasileiros com conta no Caixa Tem. Muitos deles, porém, só tiveram relacionamento com o banco na pandemia, para receber o auxílio emergencial ou fazer os saques do FGTS.

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Além disso, aumenta a pressão para que o governo amplie por mais dois meses o auxílio emergencial, previsto para terminar em outubro. Isso porque o Auxílio Brasil, substituto turbinado do Bolsa Família, até o momento não avançou no Congresso, não tem fonte de renda no Orçamento e nem mesmo parâmetros econômicos.

Uma das medidas que mais devem afetar as classes mais pobres, contudo, já está garantida: a ampliação da tarifa social de energia, que proporciona descontos de 10% a 65%, dependendo da faixa de consumo.

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CEO da Tesla e SpaceX se muda para casa com estilo minimalista e sem espaço para luxos Foto: Reprodução/Boxabl
Casa pré-fabricada é chamada e Casita e possui sala, quarto, cozinha e banheiro Foto: Reprodução/Boxabl
Bilionário optou por se mudar com a sua esposa, a cantora Grimes, e seu filho mais novo,  X Æ A-XII, para um pequeno lar Foto: Reprodução/Boxabl
Casa de Elon Musk é pre-moldada e tem apenas 37m² Foto: Reprodução
Módulo fica dentro das instalações de teste da SpaceX, no sul do Texas, nos Estados Unidos, onde está sendo construído o foguete gigante “Super Heavy” de Musk Foto: Reprodução/Boxabl
De acordo com informações do site Teslarati, casa pré-moldada de Musk é tão leve que pode ser rebocada por um Tesla Model X Foto: Reprodução/Boxabl

Conta do subsídio

Com a entrada em vigor em 120 dias, ou seja, já em 2022, ano eleitoral, a conta do subsídio será repassada aos consumidores em 2023.

A ampliação da tarifa social de 12,2 milhões de pessoas para até 25 milhões de pessoas vai impactar os demais consumidores de energia, já que o benefício é bancado com recursos da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), um fundo formado a partir de encargos cobrados de todos os consumidores

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Em 2020, a CDE transferiu R$ 21,67 bilhões, dos quais R$ 2,7 bilhões foram para a tarifa social.

Esse fundo também cobre ações como programas de universalização de acesso à energia, o custo da geração a diesel no Norte, nos sistemas que não são interligados, e benefícios para, entre outros, carvão mineral e irrigação agrícola.

É a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) que determina anualmente os valores dessas cotas, que serão pagas às distribuidoras e, consequentemente, repassadas nas tarifas dos consumidores.

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Na prática, a nova regra estabelece que os brasileiros que estejam no Bolsa Família e no Cadastro Único, ou que recebem o Benefício de Prestação Continuada (BPC), com renda per capita inferior a meio salário mínimo (atualmente equivalente a R$ 550) serão automaticamente incluídos na tarifa social, sem precisarem recorrer às empresas de energia.

O presidente da Caixa, Pedro Guimarães, posa na lama de um mangue em Belmonte, na Bahia, ao lado de pescadores de guaiamum, durante uma de suas viagens pelo país. Foto: Caixa / Divulgação
Em Campina Grande, na Paraíba, Guimarães não recusou a contradança. Ele se arriscou dançando quadrilha na capital brasileira do forró. Foto: Caixa / Divulgação
Pedro Guimarães ajuda a plantar uma árvore em Cruzeiro do Sul, no Acre. Foto: Caixa / Divulgação
Além de inaugurar agências e fazer contatos com políticos, o presidente da Caixa também visita locais que têm desafios urbanos, como um lixão em Itabuna (BA). Foto: Caixa / Divulgação
Pedro Guimarães é abraçado por Bolsonaro em um evento com gestores da Caixa, em Brasília, em maio de 2019. O executivo conquistou a confiança do presidente. Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo
Pedro Guimarães participa de transmissão na internet do presidente Jair Bolsonaro. O presidente da Caixa é figura fácil nas lives de quinta-feira. Já participou de 22. Foto: Reprodução
Guimarães conversa com o ministro da Economia, Paulo Guedes, em julho de 2019. Guedes o convidou para a Caixa no fim de 2018, mas o executivo conheceu Bolsonaro antes, em 2017. Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo
O senador Flávio Bolsonaro fala com Guimarães em cerimônia no Planalto, em 2019. Foram os filhos de Jair Bolsonaro que o apresentaram ao executivo, que ajudou a família na pré-campanha, em 2017. Foto: Jorge William / Agência O Globo
Guimarães em seu gabinete, em Brasília. A gestão é marcada por tensão interna. Já afastou ou trocou de lugar mais de dez executivos. É descrito como quem não tolera discordâncias. Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo
Os resultados de Guimarães na Caixa são bem avaliados. O banco bateu recorde de lucro em 2019 e 2020. A venda de ativos já soma R$ 100 bilhões. Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo
O presidente do BC, Roberto Campos Neto, com Guimarães. Os nomes dos dois são citados em Brasília como alternativas de Bolsonaro a Guedes, numa eventual saída do ministro. Foto: Jorge William / Agência O Globo
Guimarães, que sempre faz um esforço para ser didático em entrevistas, fala em cerimônia para marcar 100 milhões de contas do app Caixa Tem, que centraliza auxílio emergencial. Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo

 

Faixa tem consumo baixo

Especialistas ouvidos pelo GLOBO defendem a medida. Para eles, há outros benefícios que podem ser cortados para compensar esse auxílio, como subsídios para grandes consumidores e para a agricultura.

Autor da proposta, o deputado André Ferreira (PSC-PE) diz que a ideia do projeto nasceu a partir do exemplo da cidade de Jaboatão dos Guararapes (PE), onde a prefeitura firmou um convênio com a companhia de energia para retirar os entraves burocráticos para incluir famílias na tarifa social.

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— Não mudamos nada na lei, só simplificamos. É um ganho social para essas famílias carentes muito grande, em momento de desemprego e recessão — afirmou.

Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, ressalta que o consumo de eletricidade dessas famílias é tão baixo que dificilmente elas entrariam em um esquema de racionamento de energia.

— Ampliar o acesso de quem está cadastrado nos programas sociais faz todo sentido. O consumo desse pessoal é muito baixo — explicou Pires, dizendo ver espaço para a revisão dos benefícios a indústrias e propriedades agrícolas.

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Para o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), a medida não vai prejudicar os esforços do país para lidar com os efeitos da crise hídrica, pois só entrará em vigor em 2022, quando se espera que a situação esteja melhor.

E afirmou que “no atual cenário de crise econômica, os recursos economizados com a conta de luz certamente serão destinados a cobrir outros gastos do orçamento doméstico”.

A Aneel foi perguntada sobre os impactos da medida, mas não respondeu até o fechamento desta edição. ( Colaboraram Geralda Doca e Jussara Soares)