Economia

Guedes reconhece que 'barulho político' afeta a economia e que inflação está em seu pior momento

A investidores estrangeiros, Guedes admite problemas, mas passa mensagem de otimismo, tanto da força das instituições como da recuperação da atividade
O ministro da Economia, Paulo Guedes Foto: Edu Andrade / Ministério da Economia
O ministro da Economia, Paulo Guedes Foto: Edu Andrade / Ministério da Economia

BRASÍLIA – Paulo Guedes reconheceu nesta sexta-feira, a investidores internacionais, que os "barulhos políticos"afetam a economia, que pode crescer menos, e que a inflação está em seu pior momento. O ministro da Economia ainda disse que o presidente Jair Bolsonaro pode ter passado dos limites "nas palavras, não nas ações" , em sua primeira fala após os atos antidemocráticos do 7 de Setembro, o recuo do presidente e dias de fortes oscilações no mercado financeiro. Porém, Guedes tentou demontrar otimismo tanto no controle da inflação como nas instituições brasileiras.

— Nunca aposte contra a democracia brasileira. Nós estamos avançando o tempo todo. É muito barulho, mas estamos avançando. Somos os único país promovendo reformas estruturais em meio à pandemia.

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O ministro também comentou sobre o "barulho" da democracia brasileira. Ele reconheceu que o presidente Jair Bolsonaro pode ter se excedido em palavras, mas não em ações , e destacou a solidez da democracia brasileira ao afirmar que os excessos de um ator vêm sendo contidos por outras instituições.

Questionado sobre efeitos na economia brasileira, o ministro ponderou que pode haver uma desaceleração do crescimento, mas que o governo está na direção certa, após anos em rota oposta. Ele ainda defendeu seu ponto sobre o país ter tido uma recuperação em V, e acrescentou que isso não significa uma rota em V.

— A sua pergunta é se poderia todo esse barulho sobre as instituições e democracia perturbar esta muito bem posicionada economia, no sentido de que já estamos prontos para avançar de novo. Minha resposta é que pode fazer muito barulho, pode desacelerar o crescimento, mas nós não vamos mudar a direção. Nós estamos na direção certa. Interrompemos a rota errada. Estamos de volta aos negócios e nosso governo está seguro de que vamos seguir na direção correta — afirmou.

Um dia após a divulgação da inflação, que se aproxima dos dois dígitos , o ministro da Economia, Paulo Guedes, reconheceu que a pressão sobre os preços é uma questão chave e que o Brasil vive o pior momento da inflação.

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A inflação , medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), acumula alta de 9,68%, segundo dados do IBGE. O indicador tem sido pressionado, sobretudo, pelo preço dos combustíveis. A aceleração, no entanto, começou já no ano passado, com a elevação do preço dos alimentos e repercussões do aumento das tarifas de energia elétrica.

— Inflação é uma questão chave. Eu acho que estamos no pior momento da inflação – disse o ministro durante painel do Credit Suisse.

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Para ele, o processo de redução da inflação será lento:

— Ela vai reduzir lentamente e vamos fechar o ano entre 7,5% e 8% porque ainda temos alguns avanços para fazer — afirmou.

O ministro sugeriu ações como a reduzir tarifas de importação, fazendo alusão às discussões no âmbito do Mercosul , e de outras taxas, num movimento para abrir a economia.

— Vamos reduzir (tarifas de importação), esse é o momento certo de aumentar a oferta, aumentar a integração nos mercados globais, e isso vai ajudar a controlar um pouco a escalada dos preços

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O ministro afirmou acreditar que o país terá sucesso no controle da inflação e mencionou ações de ajuste fiscal, como os gatilhos para contenção de gastos públicos que foram definidos na aprovação da PEC emergencial, e a política monetária que vem sendo conduzida por um Banco Central independente, cuja principal tarefa é conter a escalada da inflação.

A expectativa do ministro é de que a inflação esteja controlada em dezembro do próximo ano, com projeção de 4%, próximo à meta, que é de 3,5%.

Conversa sobre precatórios

Guedes também afirmou que as conversas a respeito de uma solução para o impasse dos precatórios serão retomadas na próxima semana. Ele disse que deve se reunir com representantes do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Congresso, já que solucionar o problema do "meteoro" é a primeira prioridade. Ele também declarou que o governo quer aprovar a reforma tributária neste ano.

— Acredito que vamos encontrar uma solução para os precatórios respeitando o teto de gastos — declarou.

A proposta de emenda à Constituição (PEC) feita pelo governo prevê o parcelamento dos precatórios, que são dívidas das quais o governo não pode mais recorrer, em até dez anos. Essa é a solução para liberar espaço fiscal no Orçamento do próximo ano, já que a despesa com os percatórios chegou a quase R$ 90 bilhões.

Essa sugestão é alvo de críticas, sobretudo de quem considera que o parcelamento dos débitos é um tipo de calote. Um desses críticos é o deputado Marcelo Ramos (PL-AM), que está coletando assinaturas para protocolar uma PEC que retira os precatórios do teto .

O deputado argumenta que os precatórios são despesas obrigatórias que possuem a mesma natureza jurídica de repasses para estados e municípios e, portanto, não deveriam ter permanecido dentro do teto de gastos. Em suas contas, sua proposta vai abrir um espaço fiscal de R$ 20 bilhões, próximo do valor que o governo precisa para destravar a reformulação do Bolsa Família.