Economia Petrobras

Guedes reconhece que troca no comando da Petrobras foi 'ruim' do ponto de vista econômico

Segundo ministro, mudança foi ‘satisfação política’ de Bolsonaro a caminhoneiros
O presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, durante pronunciamento no Palácio do Planalto Foto: Pablo Jacob/Agência O Globo/05-02-2021
O presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, durante pronunciamento no Palácio do Planalto Foto: Pablo Jacob/Agência O Globo/05-02-2021

BRASÍLIA — Na primeira manifestação pública sobre a mudança no comando da Petrobras, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse nesta segunda-feira que a saída de Roberto Castello Branco da estatal foi uma uma resposta “política” do presidente Jair Bolsonaro aos caminhoneiros, base de apoio do governo.

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Indicado por Guedes, Castello Branco será substituído pelo general da reserva Joaquim Silva e Luna, atual diretor-geral de Itaipu.

— O presidente, politicamente, teve uma reação e falou o seguinte. Para um público caminhoneiro, que é um público que é associado ao presidente Bolsonaro, são eleitores típicos e fiéis do presidente Bolsonaro. Para esse público o presidente deu uma satisfação política. Ele falou: “olha, eu tirei o cara que disse que não liga para vocês e ao mesmo tempo eu estou tirando todos os impostos” — disse Guedes, em entrevista à rádio Jovem Pan.

Bolsonaro decidiu substituir Castello Branco após sucessivas altas no preço dos combustíveis, alvo constante de críticas do presidente. Nesta semana, o governo zerou por dois meses os impostos federais sobre o diesel. O governo também zerou o imposto federal sobre o gás de cozinha de 13 kg por tempo indeterminado.

Apesar de dizer que a troca de Castello Branco é “compreensível” politicamente, Guedes reconheceu que a decisão foi “ruim” do ponto de vista econômico.

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— É compreensível politicamente uma atitude, mas do ponto de vista econômico o efeito foi ruim. Essa foi a nossa conversa interna. O presidente sabe o que eu penso, eu sei o que ele pensa — disse Guedes.

O ministro também citou uma declaração de Castello Branco no fim de janeiro na qual o executivo disse que a dificuldade enfrentada pelos caminhoneiros “não se trata de um problema” da Petrobras:

— Do ponto de vista político é absolutamente compreensível (a troca). Do ponto de vista político o que acontece. Olha, esse preço está subindo sem parar, o presidente da Petrobras diz que o problema do petróleo e do combustível não é dele, isso é o que se atribui ao Castelo, mas eu não sei.

O mandato de Castello Branco na Petrobras se encerra no dia 20 de março. Ele foi indicado por Guedes ainda durante a transição presidencial, em 2018.

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— Eu indiquei o Roberto Castello Branco, acho um excelente economista, ele fez um belo trabalho de recuperação da empresa. Agora, realmente o mandato dele está expirando agora, realmente quem indica o presidente da Petrobras é o presidente da República e o Conselho (de Administração) ratifica ou não. Até agora ninguém pode dizer que o presidente controlou, tanto que o Castello ainda deu aumento de preços — acrescentou.

Para o ministro, “o ônus e o bônus” da mudança na estatal “estão caindo na própria Presidência” da República. Guedes ainda chamou de “anomalia” a existência de estatais com ações na Bolsa de Valores, casos de Petrobras e Banco do Brasil:

— Uma estatal listada em Bolsa para mim é uma anomalia. Ela não é tatu nem cobra. Não é a Caixa Econômica Federal, que é 100% do governo, não tem acionistas minoritários. E ao mesmo tempo não é cobra. Ela não agrada nem ao mercado nem ao governo. A estatal listada em Bolsa é uma anomalia, uma farsa. É a minha opinião.

Guedes disse ainda que precisa respeitar a opinião do presidente, porque Bolsonaro é quem foi eleito:

— O presidente sempre foi muito claro. Ele disse: “olha, Petrobras, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, eu não estou vendo agora”. Então, o presidente é quem tem a última palavra. O homem que teve votos, o homem que representa as expectativas de mudança, que se sacrificou pessoalmente, fisicamente, o fenômeno eleitoral chama-se Bolsonaro. Ele ganhou a eleição. Ele tem nos apoiado nas pautas nossas. Agora, ele tem lá os espaços dele.

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O ministro disse estar preocupado neste momento em privatizar, capitalizar a Eletrobras e privatizar os Correios. Para Guedes, estatal boa é “estatal privatizada”, citando como exemplo a Vale, privatizada na década de 1990.

— Todo mundo sabe o que eu penso das empresas estatais. Para mim, estatal boa é que foi privatizada. É a Vale do Rio Doce, por exemplo. Cria muito emprego, paga bastante impostos para o governo. Essa opinião eu tenho há muito tempo, antes de eu chegar ao governo. E continuo pensando assim e depois que passei aqui estou mais convencido disso.

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Guedes ainda disse que a situação dos caminhoneiros é decorrente de governos passados, que financiaram caminhões a preços subsidiados num momento de petróleo em baixa. Agora, afirma, há mais caminhões com petróleo mais alto.