BRASÍLIA — Na primeira manifestação pública sobre a mudança no comando da Petrobras, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse nesta segunda-feira que a saída de Roberto Castello Branco da estatal foi uma uma resposta “política” do presidente Jair Bolsonaro aos caminhoneiros, base de apoio do governo.
Indicado por Guedes, Castello Branco será substituído pelo general da reserva
Joaquim Silva e Luna,
atual diretor-geral de Itaipu.
— O presidente, politicamente, teve uma reação e falou o seguinte. Para um público caminhoneiro, que é um público que é associado ao presidente Bolsonaro, são eleitores típicos e fiéis do presidente Bolsonaro. Para esse público o presidente deu uma satisfação política. Ele falou: “olha, eu tirei o cara que disse que não liga para vocês e ao mesmo tempo eu estou tirando todos os impostos” — disse Guedes, em entrevista à rádio Jovem Pan.
Bolsonaro decidiu
substituir Castello Branco
após sucessivas altas no preço dos combustíveis, alvo constante de críticas do presidente. Nesta semana, o governo zerou por dois meses os impostos federais sobre o diesel. O governo também zerou o imposto federal sobre o gás de cozinha de 13 kg por tempo indeterminado.
Apesar de dizer que a troca de Castello Branco é “compreensível” politicamente, Guedes reconheceu que a decisão foi “ruim” do ponto de vista econômico.
— É compreensível politicamente uma atitude, mas do ponto de vista econômico o efeito foi ruim. Essa foi a nossa conversa interna. O presidente sabe o que eu penso, eu sei o que ele pensa — disse Guedes.
O ministro também citou uma declaração de Castello Branco no fim de janeiro na qual o executivo disse que a dificuldade enfrentada pelos caminhoneiros “não se trata de um problema” da Petrobras:
— Do ponto de vista político é absolutamente compreensível (a troca). Do ponto de vista político o que acontece. Olha, esse preço está subindo sem parar, o presidente da Petrobras diz que o problema do petróleo e do combustível não é dele, isso é o que se atribui ao Castelo, mas eu não sei.
— Eu indiquei o Roberto Castello Branco, acho um excelente economista, ele fez um belo trabalho de recuperação da empresa. Agora, realmente o mandato dele está expirando agora, realmente quem indica o presidente da Petrobras é o presidente da República e o Conselho (de Administração) ratifica ou não. Até agora ninguém pode dizer que o presidente controlou, tanto que o Castello ainda deu aumento de preços — acrescentou.
Para o ministro, “o ônus e o bônus” da mudança na estatal “estão caindo na própria Presidência” da República. Guedes ainda chamou de “anomalia” a existência de estatais com ações na Bolsa de Valores, casos de Petrobras e Banco do Brasil:
— Uma estatal listada em Bolsa para mim é uma anomalia. Ela não é tatu nem cobra. Não é a Caixa Econômica Federal, que é 100% do governo, não tem acionistas minoritários. E ao mesmo tempo não é cobra. Ela não agrada nem ao mercado nem ao governo. A estatal listada em Bolsa é uma anomalia, uma farsa. É a minha opinião.
Guedes disse ainda que precisa respeitar a opinião do presidente, porque Bolsonaro é quem foi eleito:
— O presidente sempre foi muito claro. Ele disse: “olha, Petrobras, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, eu não estou vendo agora”. Então, o presidente é quem tem a última palavra. O homem que teve votos, o homem que representa as expectativas de mudança, que se sacrificou pessoalmente, fisicamente, o fenômeno eleitoral chama-se Bolsonaro. Ele ganhou a eleição. Ele tem nos apoiado nas pautas nossas. Agora, ele tem lá os espaços dele.
O ministro disse estar preocupado neste momento em privatizar, capitalizar a Eletrobras e privatizar os Correios. Para Guedes, estatal boa é “estatal privatizada”, citando como exemplo a Vale, privatizada na década de 1990.
— Todo mundo sabe o que eu penso das empresas estatais. Para mim, estatal boa é que foi privatizada. É a Vale do Rio Doce, por exemplo. Cria muito emprego, paga bastante impostos para o governo. Essa opinião eu tenho há muito tempo, antes de eu chegar ao governo. E continuo pensando assim e depois que passei aqui estou mais convencido disso.
Guedes ainda disse que a situação dos caminhoneiros é decorrente de governos passados, que financiaram caminhões a preços subsidiados num momento de petróleo em baixa. Agora, afirma, há mais caminhões com petróleo mais alto.