Economia Imóveis

Alta de Selic encarece financiamento imobiliário e prestação inicial da casa própria sobe 8,3%; veja simulações

Taxa básica de juros subiu de 6,25% para 7,75% ao ano, a maior desde 2017
O aumento dos juros tem pressionado o valor da mensalidade Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo
O aumento dos juros tem pressionado o valor da mensalidade Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

RIO — O aumento da taxa básica de juros — a Selic, que subiu de 6,25% para 7,75% ao ano , a maior desde 2017 — vai deixar o sonho da casa própria cada vez mais distante para boa parte das famílias brasileiras. A alta na prestação inicial para um financiamento imobiliário no valor de R$ 150 mil chega a 8,33%, quando comparadas as taxas dos bancos aplicadas nos contratos com linha prefixada hoje e há um ano.

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Segundo cálculos de economistas, em outubro de 2020, com uma taxa máxima de 8% ao ano, a prestação inicial custava R$ 1.381,77.

Agora, depois de seis altas consecutivas na taxa de juros básicos da economia e um movimento de elevação nos bancos, a mensalidade de um crédito imobiliário, com taxas reajustadas que chegam a 8,99% ao ano, atinge R$ 1.496,61.

Com o aumento no valor da prestação e famílias com orçamento mais restrito por conta da inflação, a dificuldade de contratação de uma dívida de longo prazo exigirá um nível de renda ainda maior para os compradores de imóvel.

— Em um financiamento de R$ 200 mil, se a taxa de juros cobrada passa de 8% para 8,99%, significa um aumento da renda mínima necessária para aprovação do financiamento da ordem de 13%. Ou seja, se antes o comprador precisava de R$ 5.890, o valor passará para R$ 6.650, para obedecer a regra de comprometimento de renda de no máximo 30% — explica Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção do FGV IBRE.

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Para a economista Ana Maria Castelo, a alta dos juros para o crédito imobiliário impõe ainda um desafio a mais para os consumidores que compraram imóveis novos:

— Quem comprou imóvel novo pode ter uma surpresa na hora da entrega do apartamento com o repasse do financiamento em taxas mais elevadas. Isso se reflete no valor da prestação. Se mudarem as condições das famílias no período que elas compraram em relação ao período da concessão do crédito, pode haver um desenquadramento da família por causa do comprometimento máximo de renda. Nesses casos, ou será preciso oferecer uma parcela maior de entrada para pegar financiamento menor ou desistir do imóvel — ressalta ela.

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Veja a simulação

Com a curva em ascensão da taxa básica de juros da economia, os bancos fizeram ajustes e elevaram os juros cobrados no financiamento imobiliário. As últimas correções foram feitas no mês passado. O movimento atingiu principalmente os juros dos novos contratos prefixados e atrelados a TR.

Na linha pós-fixada corrigida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), há expectativa de que também haja alta para contratos antigos.

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— A inflação está crescendo bastante, e os salários não acompanham imediatamente este movimento. Esse aumento de cerva de 8% na prestação inicial vai refletir de uma forma bem pesada no orçamento familiar, principalmente para as famílias com renda mais baixa, as quais têm acesso a menos instrumentos para manter o poder aquisitivo — avalia Rodrigo Novinski, professor de economia do Ibmec RJ.

O Santander e o Banco do Brasil informaram que, embora o Banco Central (BC) tenha elevado em 1,5 ponto percentual a Selic, não há previsões de novos aumentos em suas taxas, por enquanto. Já o Itaú, o Bradesco e a Caixa não informaram se vão promover novos reajustes em juros de crédito imobiliário após a última alta da Selic.

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Confira as condições de cada banco

  • Santander

A última correção da taxa foi realizada pelo Santander no início de Setembro. No momento, o banco segue com uma taxa mínima de 8,99% ao ano + TR e máxima de 10,99% a.a. + TR, na tabela SAC para financiamento imobiliário residencial. As operações possuem ainda custos de taxas administrativas e seguros obrigatórios. O comprometimento de renda é de até 35%.

Para operações dentro do âmbito Sistema Financeiro da Habitação (SFH), é possível financiar imóveis entre R$ 90 mil e R$ 1,5 milhão. Para operações fora do âmbito SFH, é possível financiar também os imóveis acima de R$ 1,5 milhão. Para imóveis residenciais, o prazo mínimo de financiamento é de um ano, e máximo de 35 anos. E o percentual chega a 80% do valor do imóvel.

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  • Banco do Brasil

O Banco do Brasil oferece taxas mínimas a partir de 7,58% + TR, que variam conforme perfil do cliente, prazo do financiamento e relacionamento com o banco. O financiamento é de até 80% para imóveis residenciais e comerciais. O valor mínimo de financiamento é de R$ 20 mil e o valor máximo é de R$ 5 milhões. O banco oferece ainda até 180 dias para o pagamento da primeira parcela de capital, e prazo de até 360 meses, sendo que quanto menor o prazo do financiamento, menor a taxa de juros.

  • Bradesco

No Bradesco, as taxas na linha prefixada variam de 7,30% a 8,5% + TR ao ano. Ao longo do ano, foram duas altas nos juros. O banco oferece prazo de pagamento de até 30 anos e comprometimento de renda de até 30% na tabela SAC. É possível usar o FGTS para imóveis avaliados em até R$ 1,5 milhão.

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  • Itaú

No Itaú, os juros da modalidade tradicional do crédito imobiliário chega a 8,30% ao ano mais TR. Na linha de crédito imobiliário com taxa prefixada a partir de 7,30% + Taxa Referencial (TR) ao ano, é possível financiar até 90% do valor do imóvel, com prazo de até 30 anos. Dependendo do caso, é possível usar o FGTS.

  • Caixa

As taxas praticadas pelo banco variam entre 7% e 8% ao ano + TR. No mês passado, o banco anunciou redução nos juros. O financiamento varia de 70% a 90%, a depender da modalidade e do sistema de amortização: SAC ou Price. O prazo máximo de financiamento varia de 120 a 420 meses.