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Preço dos imóveis terá reajuste acima da inflação em 2022, com juros e custos mais altos

Selic subiu de 2% a 11,75% em menos de um ano. Guerra na Urânia impacta valor das matérias-primas da construção civil
Preço de imóveis é puxado pela disparada na taxa Selic e nos custos da construção civil Foto: Agência O Globo

RIO — Realizar o sonho da casa própria ficou mais difícil em 2022. O preço dos imóveis deve ser reajustado acima da inflação este ano, segundo especialistas, com o aumento da taxa básica de juros (Selic), que encareceu o financiamento ao consumidor e às incorporadoras.

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Os custos da construção civil subiram, pressionados também pela guerra na Ucrânia. A alta será mais concentrada no segmento de alto padrão, que tem mais condição de absorver o impacto, e em cidades e regiões em que o estoque de unidades prontas foi reduzido nos últimos dois anos.

— Em 2021, houve cidades em que o preço subiu acima da inflação. Foi um ano bom em lançamentos e vendas. Com mais venda do que lançamentos. Isso reduz o estoque de imóveis prontos e a tendência é que os novos cheguem ao mercado com preço maior — prevê Claudio Hermolin, presidente do Sinduscon-Rio.

Vista aérea da Villa Nellcôte, situada em localizada em uma cidade adjacente a Saint-Jean-Cap-Ferrat, onde os Rolling Stones gravaram seu álbum ''Exile On Main St.'', na década de 1970 Foto: Reprodução/Pinterest
A Villa Heir, localizada em Cap d'Antibes, foi adquirida por 127 milhões de euros em 2008 Foto: Reprodução
O magnata das commodities Andrey Melnichenko causou bastante alvoroço em 2005 em seu casamento na Villa Altaïr, com shows de Whitney Houston e Christina Aguilera Foto: Reprodução/Twitter
O Château de la Croë foi comprado pelo magnata russo Roman Abramovich há cerca de 20 anos. Rei Edward VIII morou nela logo após ter abdicado da coroa, em 1937, para se casar com a socialite americana Wallis Simpson. Foto: Reprodução
Uma vista aérea da baía de Villefranche-sur-Mer e Saint-Jean-Cap-Ferrat, sudeste da França, onde estão localizadas as mansões de oligarcas russos Foto: Christophe SImon/AFP
Mapa mostra onde estão as mansões dos oligarcas russos Foto: Bloomberg

Ele diz que não dá para repassar todo aumento de custo sob risco de não vender:

— O ajuste será onde há maior demanda e no alto padrão.

Recorde de vendas em 2021

Em 2021, lançamentos e vendas de imóveis residenciais bateram recordes . Cresceram 27% e 4%, respectivamente, segundo a Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) e Fipe em pesquisa com 18 incorporadoras.

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Também no ano passado, o índice FipeZap+, que acompanha preços em 50 cidades, subiu 5,29%, a maior alta em sete anos. Os preços tiveram ajuste abaixo da inflação, que foi de 10,06% em 2021.

A economista Larissa Gonçalves, do DataZAP+, fez um recorte com dados do Índice FipeZap+ mapeando a variação para residenciais em São Paulo, Rio, Curitiba, Florianópolis, Goiânia e Recife, em imóveis novos e usados de dois e três quartos em 2021. Houve alta em todas as cidades. Para ela, o aumento segue este ano:

— As vendas ainda estão altas como reflexo do aquecimento do ano passado. A tendência é que os preços continuem a subir, porém menos, em razão da queda na demanda, com o aumento da Selic.

CEO da Tesla e SpaceX se muda para casa com estilo minimalista e sem espaço para luxos Foto: Reprodução/Boxabl
Casa pré-fabricada é chamada e Casita e possui sala, quarto, cozinha e banheiro Foto: Reprodução/Boxabl
Bilionário optou por se mudar com a sua esposa, a cantora Grimes, e seu filho mais novo,  X Æ A-XII, para um pequeno lar Foto: Reprodução/Boxabl
Casa de Elon Musk é pre-moldada e tem apenas 37m² Foto: Reprodução
Módulo fica dentro das instalações de teste da SpaceX, no sul do Texas, nos Estados Unidos, onde está sendo construído o foguete gigante “Super Heavy” de Musk Foto: Reprodução/Boxabl
De acordo com informações do site Teslarati, casa pré-moldada de Musk é tão leve que pode ser rebocada por um Tesla Model X Foto: Reprodução/Boxabl

Os juros têm papel central no mercado imobiliário. Até meados de 2021, a Selic estava no seu patamar mais baixo, em 2% ao ano, o que deu impulso às vendas.

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Depois disso, para frear a inflação, o Banco Central elevou os juros nove vezes seguidas, chegando agora a 11,75%. Mas o mercado espera que alcance 13,75%, com a inflação em 11,3% no acumulado em 12 meses até março.

— Ninguém esperava, no início de 2021, a inflação acima de 10%. Este ano, as incorporadoras não terão mais como segurar o repasse. O reajuste, sobretudo nos lançamentos, será superior à inflação, com a alta dos materiais de construção — diz Paulo Pôrto, professor de Negócios Imobiliários da FGV.

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Para ele, imóveis populares e até de médio padrão tendem a ser afetados porque a margem de negociação é estreita. Segundo ele, a conjuntura favorece o aluguel — já que muitos adiam o sonho da casa própria com preços mais altos — e o mercado de usados e de compra de imóveis remanescentes das construtoras (estoque), nos quais há mais espaço para barganhar.

Mesmo com a alta de juros, Alan Victor Sales comprou um apartamento em Copacabana, com financiamento pela Caixa por 15 anos Foto: Fábio Rossi / Agência O Globo

O empresário Alan Victor Sales, de Araruama, na Região dos Lagos, pesquisava desde 2021 com a intenção de se mudar para o Rio, onde ficam seus clientes. Para fugir das idas e vindas, optou por um imóvel usado, em Copacabana, e teve desconto de R$ 40 mil:

— A ideia era comprar à vista, mas isso levaria mais uns três anos. E como eu queria para logo, acabei comprando.

Sem capacidade de pagar

O segmento de moradia popular foi, nos últimos anos, o motor de expansão da construção civil. Já o alto padrão, recupera lançamentos e preço. Entre os dois está a camada mais afetada atualmente.

— Tem o Casa Verde e Amarela e tem o topo. E tem um grupo que vai sofrer mais com esse aumento dos juros que é o de média renda. Há uma régua que tira a capacidade de pagamento de algumas famílias porque as condições mudaram. Serão menos famílias financiando — prevê Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção da FGV.

O financiamento de um imóvel de R$ 300 mil, em 350 meses, teria parcela de R$ 2.708 se tivesse sido fechado em junho de 2021, quando a taxa média de juros era de 7,66%, diz Ana Maria. Em dezembro, a taxa subiu para 9,49%, o que elevaria a parcela para R$ 3.132, alta de 15,7%:

— Não vejo a taxa retrocedendo. Se cabe no orçamento, é bom momento para comprar.

A Caixa Econômica Federal prevê alta de 10% nos empréstimos, menos da metade do ano passado, de 21%. Na última quarta-feira, o Conselho Curador do FGTS, gerido pela Caixa, autorizou o uso do Fundo para quem tem até 12 prestações do financiamento em atraso. Até agora, só quem tinha três parcelas vencidas poderia usar o Fundo. A medida é oportuna, segundo especialistas, com o cenário de desemprego alto e inflação crescente.

Em março, o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), da FGV, acumulou alta de 11,63% em 12 meses. Mesmo com a queda do dólar, de R$ 5,70 para R$ 4,60, o conflito na Ucrânia aumenta a pressão nos custos nos derivados de petróleo e o aço.

Para o presidente da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), José Ramos Rocha Neto, os preços tendem a se manter estáveis:

— Tem inflação, juros e menos confiança. Mas, quando se põe na balança, o crédito imobiliário vai subir. Já tivemos juros de 11% em 2014, com grande volume de vendas.