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Economia

Intel dá bônus de R$ 1.300 a funcionário que se vacinar no Brasil

Estratégia segue diretriz global e faz parte de plano da empresa para retorno presencial ao escritório, diz diretora-geral no país
Gisselle Ruiz y Lanza, diretora-geral da Intel no Brasil Foto: Silvia Zambon / Valor/21-11-2019
Gisselle Ruiz y Lanza, diretora-geral da Intel no Brasil Foto: Silvia Zambon / Valor/21-11-2019

Uma das maiores fabricantes de semicondutores do mundo, a Intel já traçou sua estratégia para lidar com o retorno aos escritórios, que inclui um incentivo financeiro à vacinação. No Brasil, a empresa paga R$ 1.300 “de bônus para quem se vacinar”, conta Gisselle Ruiz Lanza, executiva que comanda a companhia no país desde novembro de 2019. O valor é equivalente a US$ 250, estabelecido pela multinacional americana para funcionários, terceirizados e estagiários.

Mas, para a executiva, o maior investimento que a empresa tem feito é o de conscientizar os funcionários de que a vacinação é importante para virar a página da pandemia, um desafio maior em outros países.

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Espanhola criada na Argentina, Gisselle diz que a volta ao trabalho presencial dos funcionários no Brasil ainda será no modelo híbrido. Algumas equipes permancerão 100% em home office, outras serão integralmente readaptadas aos escritórios e um terceiro grupo vai se dividir entre a casa e o escritório.

A escassez global de chips exigiu mudanças na companhia, conta a executiva, como a ampliação da produção em diferentes partes do mundo e a criação de uma nova unidade de negócios, que vai produzir chips para gigantes como Qualcomm e Amazon.

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Como foi assumir o comando da Intel no Brasil em plena pandemia e com a escassez global de semicondutores?

Temos desde 2002, quando houve a Sars, um grupo de liderança pandêmica que justamente tem como objetivo atravessar esse momento. Mas, claro, ainda não tínhamos passado por algo tão profundo e longo.

Cancelamos eventos, adotamos o home office e agora o retorno para o escritório tem sido de forma faseada, mas, no Brasil, não voltamos ainda. Aqui só vamos voltar quando as condições estiverem adequadas. A gente monitora o número de contágios e mortes diárias. Estamos indo no caminho correto com a vacinação.

E como vai ser a volta ao escritório?

Nossa decisão é fazer um modelo de trabalho flexível. Estamos fazendo um piloto globalmente, pois há países que gradativamente já estão voltando para as condições de mercado. No Brasil não é o caso ainda.

Será um modelo híbrido. Há o grupo de fábrica, que precisa estar presencialmente. Há um outro grupo menor que ficará 100% remoto.

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Uma das coisas que a pandemia mostrou é a possibilidade de ter talentos em diversos lugares. Isso traz uma riqueza para o negócio do ponto de vista de diversidade. Mas a grande maioria vai ficar híbrida, com dois a três dias em casa ou dois a três dias na empresa.

E, por isso, estamos remodelando o escritório para que seja mais um ponto de encontro, de planejamento e cocriação. E, nos países em que estamos voltando, não estamos obrigando as pessoas a voltarem nesse momento, entendendo que há pessoas idosas em casa ou com algum tipo de comorbidade. Esse é um movimento global.

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Muitas pessoas estão com medo de voltar ao escritório porque sempre tem alguém que é contra a vacina. Como vocês estão lidando com isso?

É uma pauta quente. Um assunto muito discutido. Nossa política é de não obrigar, mas estamos estimulando fortemente. Agora estamos dando um bônus de agradecimento para quem está passando por um processo de vacinação.

Não estamos obrigando porque entendemos e até por respeito tem pessoas por uma questão de condição física, de saúde, de religião ou que for estão tomando uma decisão diferente, mas acreditamos no poder da vacinação e estamos estimulando para isso acontecer.

Como assim um bônus?

Há vários benefícios novos sendo estendidos, como equipamentos dentro de casa e internet. Ajudamos com as crianças, com um dinheiro mensal. E, gradativamente, abrindo para viajar, flexibilizando dentro das condições de cada país e retomando um pouco o contato.

Mas além desses benefícios novos, tem algum bônus específico para quem se vacinar?

Sim. São US$ 250, cerca de R$ 1.300, a depender do câmbio, de bônus para quem se vacinar. E vale entre todos os funcionários, terceirizados e estagiários. É um estímulo. O maior investimento que estamos fazendo é reforçar, educar as pessoas de que a vacinação é importante. É o cuidado com o próprio individuo.

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E isso tudo ocorre em um momento em que o setor tem muitos desafios, como a falta de chips.

É o assunto do momento. Hoje todo mundo sabe o que significa um semicondutor ou já ouviu falar da escassez em segmentos como o da indústria de automóveis. Um dos grandes desafios é a possibilidade de planejar e prever o quanto vai se produzir, e até mesmo a própria demanda.

Hoje há um desequilíbrio ente oferta e demanda. Esse desafio traz oportunidade e não só no curto prazo. Acreditamos que o equilíbrio deve ocorrer para o final do próximo ano, mas vai depender da demanda, que será alta durante a próxima década, por conta dessa digitalização que estamos vendo.

Esse ano, o nosso fornecimento já está crescendo em dois dígitos. O desafio hoje é como abastecer essa grande demanda. A produção é muito concentrada na Ásia. Por isso, estamos investindo em produção mais diversificada, como nos EUA, ampliando a produção no Arizona com investimentos de US$ 20 bilhões, além de ampliações no México, Costa Rica, Irlanda e Israel. Estamos olhando a Europa. Fizemos road show em países como Alemanha, França, Irlanda, entre outros. Diversificar é importante.

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E há planos para o Brasil?

Para quem representa uma operação aqui, a gente sempre olha para oportunidades. Para uma fábrica, a gente avalia uma série de fatores como talento, custo e incentivo. No Brasil, muitos de nossos parceiros, como fabricantes de produtos e servidores, produzem e montam no Brasil e contribuímos com esse sistema local.

No Brasil, estamos buscando diversificar nossos negócios. Há alguns anos, era mais concentrado em PCs, que somavam 55% do faturamento e aqui era mais. Com isso, vamos ampliando nossa atuação com internet das coisas, cloud (computação em nuvem) e data center. E estamos nos aproximando de setores como o de saúde, criando vários projetos na área.

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O Brasil consome muito semicondutor?

O Brasil está entre os dez maiores mercados globais. Em PCs, somos o quarto maior mercado. No Brasil, há uma aceleração para a jornada na nuvem e já somos o sétimo país no mundo que mais consome cloud , sendo os EUA e China os dois maiores. A taxa de crescimento acumulado em cloud é de 23% até 2024.

Outra tendência é a conectividade impulsionada por 5G. E estamos esperando o leilão de 5G no Brasil. A quinta geração é importante, e estamos vendo sua implementação em vários mercados. Espero que o leilão finalmente avance esse ano para começarmos a ver mais implementação.

O 5G é um acelerador para vários modelos de uso, como cirurgias a distância, carros autônomos e campo. Trazemos tecnologia desde a ponta até a nuvem, com soluções para as teles.

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A empresa anunciou recentemente que vai produzir chips para outras companhias. Isso chega no Brasil?

Criamos uma nova unidade de negócios em que vamos produzir tecnologia para outras empresas. Nossos primeiros clientes são a Qualcomm e a Amazon Web Services. Essa será uma rota de crescimento no nosso faturamento nos próximos anos. Temos flexibilidade de onde produzir. É um mercado (com potencial) de US$ 100 bilhões. Há oportunidades em diversos países.