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Economia

Investimentos com Selic a 2,25%: saiba quando fundos de renda fixa terão rendimento negativo

Caderneta de poupança terá rendimento superior a fundos com taxa de administração maior que 0,5% ao ano
Com a Selic baixa, investidores devem ficar atentos com a renda fixa Foto: Arquivo
Com a Selic baixa, investidores devem ficar atentos com a renda fixa Foto: Arquivo

SÃO PAULO e RIO — A redução da taxa básica de juros brasileira para o menor patamar da história – 2,25% ao ano –  fará com que parte dos fundos de investimento de renda fixa tenha rendimento negativo. Isso acontecerá todas as vezes em que a inflação superar o retorno da aplicação.

— O rendimento negativo não aparece no extrato do banco. Ele na verdade se reflete na perda do poder de compra do investidor. Isso acontece quando a rentabilidade do fundo é menor do que a inflação. E é preciso lembrar que esses fundos cobram taxa de administração e Imposto de Renda sobre os rendimentos, o que reduz anda mais o retorno — explica Miguel Ribeiro de Oliveira, diretor da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac).

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Em um cenário de Selic a 2,25% ao ano e inflação de 1,60%, como estimado pelo boletim Focus do Banco Central para o final de 2020, o rendimento real bruto de um fundo de renda fixa atrelado à Selic será de 0,64% ao ano.

Descontado o IR e a taxa de administração de 1%, o aplicador já terá um rendimento 'negativo' de 0,50%. Quem aplicar R$ 1 mil nesse fundo terá ao final de 12 meses R$ 1.010,90.

Na poupança, o rendimento líquido será de 0,02% 'negativos' e os mesmos R$ 1 mil rendem R$ 1.015,80 em 12 meses. Na poupança não existe taxa de administração, nem cobrança de Imposto de Renda.

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Impacto da taxa de administração

Uma simulação feita pelo diretor da Anefac mostra que a poupança acaba oferecendo melhor retorno nos casos em que o fundo de renda fixa cobra uma taxa de administração superior a 1%.

– Portanto, o aplicador precisa prestar atenção na taxa de administração que o banco está cobrando. Geralmente as instituições cobram de 1% até 3% justamente de quem tem quantias menores para aplicar. Só quem tem mais recursos obtém taxas inferiores a 0,5%, mais atrativas – diz Ribeiro de Oliveira.

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Com a Selic a 2,25%, a poupança oferece um ganho mensal de 0,13%. Entre os fundos de investimento que acompanham a Selic, apenas aqueles com taxa de administração de 0,50% oferece um ganho mensal de 0,13%, igual ao da poupança, e mesmo assim se o dinheiro ficar aplicado por mais de 2 anos.

. Foto: Editoria de Arte
. Foto: Editoria de Arte

Embora a renda fixa esteja menos atraente após mais uma rodada de cortes na Selic, os especialistas indicam que este tipo de aplicação não deve deixar de fazer parte da carteira de investimentos.

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— Agora, é preciso que o investidor esteja atento aos produtos oferecidos pela renda fixa. Há fundos que não cobram taxa de administração, então eles são uma opção melhor que a poupança, mesmo com a incidência de IR. Além disse, há papéis públicos além do Tesouro Selic. Há opções prefixadas e atreladas à inflação que dão melhores retornos, mas para isso é preciso carregar o investimento até seu vencimento — destaca Sandra Blanco, estrategista-chefe da Órama.

Levantamento da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) mostra que a taxa média de administração cobrada em fundos de renda fixa para aplicações iniciais de até R$ 1 mil é de 1,37%. Para quem aplica entre R$ 1 mil e R$ 25 mil, a taxa cai para 1,04%.

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Quando a aplicação fica entre R$ 25 mil e R$ 100 mil, a taxa média cai para 0,69% e recua até 0,48% se o investidor colocar no fundo mais de R$ 100 mil.

Novo cenário de investimentos

Para Miguel Ribeiro, o novo mundo dos juros baixos trouxe mudanças profundas para o modo do brasileiro investir. Primeiro, não é mais possível "viver de renda" com o retorno oferecido pelos fundos de renda fixa. Quem quiser ter um ganho maior terá que correr mais risco na Bolsa, por exemplo.

– As aplicações de renda fixa servem agora para que a pessoa não perca seu poder de compra. Agora, vale a pena, por exemplo, aplicar diretamente num título do Tesouro mais a longo prazo - diz ele.

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Um título pré-fixado com vencimento em 2023 está rendendo 4%, um bom retorno.

Sandra, da Órama, também avalia que o cenário de juros baixos é um convite para os investimentos em renda variável, especialmente em ações. Entretanto, pondera que em um cenário tomado por incertezas, por conta da pandemia, a migração dos recursos para investimentos mais agressivos deve ser feita cautelosamente.

— No caso de um investidor que quer 20% de sua carteira em ações, a recomendação que faço é dividir esse montante em blocos, cada mês migrar 5% do patrimônio para ações. O cenário atual, embora convidativo para a entrada na renda variável, ainda tem muitas incertezas.