Economia

Investimentos em energia eólica e solar disparam com equipamentos mais baratos e financiamentos

Avanço de tecnologias barateiam equipamentos, cuja cadeia industrial ainda em desenvolvimento no Brasil abre oportunidade de geração de empregos
O aprimoramento de tecnologias de geração de energia eólica ampliou o investimento no segmento. Cerca de 15 mil empregos são gerados a cada 1 GW instalado Foto: Norm Betts / Bloomberg
O aprimoramento de tecnologias de geração de energia eólica ampliou o investimento no segmento. Cerca de 15 mil empregos são gerados a cada 1 GW instalado Foto: Norm Betts / Bloomberg

Nos últimos 20 anos, as tecnologias para gerar energia de fontes renováveis avançaram, os custos despencaram e o crédito aumentou no Brasil. Essa combinação favoreceu investimentos na casa dos bilhões, principalmente em energia eólica e solar.

Isso não só aumentou a oferta de energia, mas também desenvolveu uma cadeia de suprimentos e serviços que gera empregos.

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Elbia Gannoum, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), aponta o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas (Proinfa), de 2002, como um marco que impulsionou a geração de energia a partir dos ventos no Brasil, na época ainda vista como experimental e cara.

O governo fez leilões para contratar energia eólica, estimulando empreendimentos. As primeiras unidades eólicas entraram em operação no Brasil em 2011. Em dez anos, a capacidade instalada dessa fonte no país saltou de 1 gigawatt (GW) para os atuais 18,6 GW.

Aerogeradores produzem energia elétrica nas dunas de Beberibe, no Ceará, no parque eólico implantado pelo grupo GDF Suez: intermitência é ainda um limitador de fontes limpas Foto: Adriano Machado / Bloomberg
Aerogeradores produzem energia elétrica nas dunas de Beberibe, no Ceará, no parque eólico implantado pelo grupo GDF Suez: intermitência é ainda um limitador de fontes limpas Foto: Adriano Machado / Bloomberg

O segmento deve continuar crescendo, em média, 2 GW por ano, mobilizando R$ 14 bilhões anuais. Estima-se que, a cada 1 GW instalado, 15 mil postos de trabalho são criados.

— Embora a tecnologia para a produção de energia eólica seja padronizada, por aqui houve uma tropicalização dos equipamentos, que chegam a gerar o dobro da energia gerada na Europa — diz Elbia, observando que o país importa menos hoje com o desenvolvimento de fabricantes locais.

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Na energia solar, investimentos somam R$ 46,4 bilhões desde 2012, tanto por usinas quanto por quem decidiu gerar a própria energia com painéis fotovoltaicos nos telhados de casas, negócios ou propriedades rurais. No período, foram gerados 264 mil empregos no setor, calcula a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar).

Atualmente, a energia obtida da luz do sol equivale a quase 2% da geração do país. Usinas de grande porte entregam 3,3 GW, e sistemas de geração própria somam 5,5 GW. Segundo a consultoria Greener, 4,1 GW de novas usinas solares entram em operação até 2022.

— Hoje, já temos 40 fabricantes de equipamentos no país, mas ainda importamos. O Brasil é um dos maiores polos de energia solar do mundo. Estamos recuperando um atraso histórico — diz Rodrigo Sauaia, presidente da Absolar.

Preços de equipamentos como placas para painéis fotovoltaicos caíram muito nos últimos anos Foto: Jose Manuel Ribeiro / REUTERS
Preços de equipamentos como placas para painéis fotovoltaicos caíram muito nos últimos anos Foto: Jose Manuel Ribeiro / REUTERS

Na área de equipamentos, companhias têm diversificado sua receita com energia renovável. A catarinense Weg, que se destacou na fabricação de aerogeradores, já produz e instala peças para usinas solares e sistemas de menor porte. No início deste mês, a empresa firmou parceria com a Vale para produzir equipamentos solares em sua nova unidade em Betim (MG).

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Vão para o Projeto Sol do Cerrado, no norte de Minas, empreendimento de energia fotovoltaica com capacidade de 1,6 GW a partir de 2022. Vai custar US$ 500 milhões, mais de R$ 2,5 bilhões.

BNDES foca em renováveis

Com o desenvolvimento de fontes de energia limpa, bancos públicos e privados passaram a oferecer financiamentos com juros abaixo de 1% ao mês para os projetos. O BNDES tem uma carteira de 114 complexos eólicos contratados totalizando 15,1 GW, cerca de 80% da capacidade instalada no Brasil.

Na semana passada, o banco estatal aprovou crédito para financiar 72% dos R$ 2 bilhões que serão investidos em 14 usinas fotovoltaicas em Minas, com 700 MW.

Em 2016, o BNDES reformulou sua política para energia, privilegiando fontes renováveis com melhores condições de crédito. Desde então, já desembolsou R$ 28,8 bilhões para geração de energia, sendo 90% de fontes limpas.

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O Banco do Brasil criou o programa para produtores rurais Agro Energia, que já contratou R$ 1,34 bilhão em crédito para usinas solares, de biomassa e parques eólicos.

A Absolar calcula que há atualmente 70 linhas de financiamento para geração solar distribuída, a dos telhados. O Santander lidera com 45% desse mercado. Em 2020, financiou R$ 9,6 bilhões.