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Dólar chega a cair abaixo de R$ 5 com expectativa de nova alta da Selic. Novo patamar de câmbio veio para ficar?

Apos anúncio do banco central americano, moeda termina negociada a R$ 5,05. Mercado aposta em elevação de 0,75 ponto percentual, o que tende a fortalecer o real. Mas questões internas podem conter queda da moeda americana
Banco Central deve aumentar novamente a taxa básica de juros. Medida deve ajudar na depreciação do dólar ante o real. Foto: DADO RUVIC / Reuters
Banco Central deve aumentar novamente a taxa básica de juros. Medida deve ajudar na depreciação do dólar ante o real. Foto: DADO RUVIC / Reuters

RIO — O dólar comercial chegou a furar a barreira dos R$ 5 pela primeira vez em quase um ano, nesta quarta-feira, mas após a sinalização por parte do Federal Reserve, Banco Central americano, de um aumento de juros antes do esperado , a moeda engatou viés de alta, fechando a R$ 5,05, alta de 0,33%. Agora, as expectativas dos agentes do mercado se voltam para o anúncio sobre os juros aqui.

Há apenas três meses, o dólar estava perto de R$ 5,80 (em 9 de março, a cotação foi de R$ 5,79). Mas as seguidas altas na taxa de básica de juros Selic - a maioria dos analistas prevê nova alta, de 0,75 ponto perceutal para 4,25% ao ano na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) desta quarta-feira - têm fortalecido o real.

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Mas, para analistas de mercado, o sobe-e-desce no câmbio permanecerá até o fim do ano. Após chegar a R$ 4,99, o dólar voltou a superar R$ 5 poucos minutos depois.

. Foto: Editoria de Arte
. Foto: Editoria de Arte

A elevação dos juros pelo Banco Central (BC) no Brasil favorece o real, pois possibilita ao investidor estrangeiro realizar as operações de carry trade, que consiste em tomar o dinheiro em países onde as taxas são baixas e investir em outros que têm o juro maior e que trazem, portanto, mais rentabilidade.

Com isso, mais dólares entram no mercado brasileiro, diminuindo o preço da divisa. A alta da Selic desde o início do ano possibilitou ao Brasil se aproveitar dessas operações.

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Em junho, o dólar tem queda acumulada de 3,47%, enquanto no ano a baixa é de 2,78%

Por que caiu?

Além dos juros, outros motivos colaboraram para a queda do dólar no Brasil. Entre eles, estão a apresentação de resultados econômicos melhores, como o crescimento do PIB do primeiro trimestre acima do esperado, a redução da dívida pública em relação ao próprio PIB e o aumento na arrecadação.

Em abril, por exemplo, as contas do governo federal fecharam com um resultado positivo de R$ 16,5 bilhões . O resultado foi o melhor para este mês em sete anos.

— No próprio mercado internacional, o dólar tem demonstrado mais fraqueza nessas últimas semanas. Outro fator ainda mais importante é que não tivemos novidades negativas sobre o risco fiscal e estamos tendo melhores resultados primários — disse o economista da Rio Bravo, João Leal.

Alta no preço das commodities é um dos fatores que ajudaram na queda do dólar Foto: Fotoarena / Agência O Globo
Alta no preço das commodities é um dos fatores que ajudaram na queda do dólar Foto: Fotoarena / Agência O Globo

Outro fator a ser considerado é o aumento dos preços das commodities, como o minério de ferro. Importantes empresas brasileiras e partes da nossa economia têm perfil exportador. Com o aumento das vendas, mais dólares entram no nosso mercado, favorecendo o real.

— O fato da gente estar com a moeda muito depreciada, deixou o produto brasileiro mais competitivo. A gente está vendo a China com uma demanda muito forte por commodities – destaca o sócio da Inove Investimentos, Igor Seixas.

Pode baixar dos R$ 5?

Para os analistas, esses fatores devem continuar ajudando o real até o fim do ano. No entanto, eles destacam que as sinalizações do BC brasileiro e do Federal Reserve, banco central americano, sobre suas políticas monetárias podem realmente indicar os rumos que o dólar irá tomar.

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O mercado vem precificando uma nova alta da Selic, hoje em 3,5%, de 0,75 ponto percentual, apesar de não ter quem descarte uma alta de 1 ponto percentual.  A discussão existente é se as autoridades do banco abandonaram a expressão “normalização parcial” adotada nas últimas reuniões.

No caso do Fed, a expectativa é que o banco mantenha sua política estimulativa de juros baixos e compra de títulos públicos. Os integrantes do banco vêm reforçando que uma mudança de postura só ocorrerá com uma melhora substancial no mercado de trabalho naquele país

Investidores estrangeiros supriram a saída de pessoas físicas na B3 e ajudaram na valorização do real Foto: Patricia Monteiro / Bloomberg
Investidores estrangeiros supriram a saída de pessoas físicas na B3 e ajudaram na valorização do real Foto: Patricia Monteiro / Bloomberg

Para o estrategista de câmbio e juros na América Latina do BNP Paribas, Luca Maia, um discurso de maior aperto monetário do BC somado a manutenção de estímulos monetários pelo Fed pode ajudar o dólar a romper a bandeira dos R$ 5, mesmo que esse movimento não ocorra de maneira uniforme.

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— Caso o BC entregue esse aumento de 0,75 ponto percentual e adote um tom mais agressivo em relação aos juros, sinalizando que esse ciclo de aumentos deve continuar, acreditamos que a moeda possa romper esse patamar de R$ 5. Mas não será um movimento tão rápido  — disse Maia,

Leal complementa:

— Depende do que o BC for comunicar. Já está precificada uma alta de 0,75 ponto percentual, mas não é desprezível a possibilidade de subir 1 ponto percentual. Se isso acontecesse, já seria um estímulo direto para o câmbio.

Por quanto tempo?

Entre as variáveis do mercado financeiro, o dólar é um das mais difíceis de se fazer previsões.  Para os analistas, notícias negativas sobre as contas públicas e a antecipação do debate eleitoral no segundo semestre podem jogar contra a nossa moeda.

— Não acredito que o dólar fique abaixo de R$ 5 por muito tempo. Acho que vai ser mais um efeito temporário e concentrado — pontua Leal.

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Mas o fato de a moeda brasileira ter sido uma das mais depreciadas frente ao dólar nos últimos meses poderá ajudar na sua valorização.

— O mais provável é vermos uma apreciação mais lenta. A moeda aqui no Brasil deve se apreciar mais em relação a outras moedas emergentes, pois elas não tiveram uma performance tão negativa frente ao dólar como a nossa — destaca Maia

Uma eventual mudança na política do Fed, com a retirada de estímulos, poderia impactar o real de forma negativa, já que faria com que os investidores estrangeiros sejam mais seletivos na hora de alocar seus recursos.

Um ponto pacífico entre eles é que a moeda já poderia estar abaixo dos R$ 5, se o cenário doméstico contribuísse.

— Levando em conta a melhora das commodities no mercado internacional, o câmbio ideal seria em torno de R$ 4,50, mas o ambiente brasileiro, com risco fiscal, político e pandemia ainda não permite isso — disse Leal, que acredita em um câmbio entre R$ 5,20 e R$ 5,30 ao final do ano.