RIO — Com risco de racionamento e a certeza de que a conta de luz vai subir, investidores se voltam para o desempenho das ações de empresas do setor elétrico. A crise hídrica já afeta os papéis de empresas geradoras de energia hidrelétrica. Mas elas não são as únicas. Afinal, quem ganha e quem perde na Bolsa com a crise?
Há mais perdedores do que ganhadores. No setor elétrico, além das geradoras de energia dependentes de hidrelétricas, são prejudicadas as distribuidoras, devido à queda no consumo e à maior inadimplência, frutos de uma energia elétrica mais cara .
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A escassez de água deve prejudicar também os papéis de empresas que consomem muito recursos hídricos como as do setor de celulose e frigoríficos.
Companhias que produzem energia a partir de termelétrica ou outras fontes renováveis, por sua vez, tendem a sair ganhando. Já as transmissoras de energia ficarão no zero a zero.
O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, disse nesta quarta-feira que não trabalha com a hipótese de racionamento. Mas analistas avaliam que há chance real de isso acontecer.
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No acumulado do mês, o IEE, índice de energia elétrica da B3, tem queda de 0,40% ante o avanço de 2,02% do Ibovespa. No ano, há alta de 0,53%, muito abaixo dos 8,19% do índice geral. Nesta terça-feira, em um dia negativo para a Bolsa, o IEE teve queda de 0,82%, aos 83.286 pontos.
Frigoríficos e empresas de celulose
O consenso entre os especialistas é que o setor elétrico será o mais impactado pela crise hídrica. Mas além dele, outros serão afetados de forma direta ou indireta.
É o caso dos serviços, componente importante do PIB brasileiro, dos frigoríficos, commodities, papel e celulose, e setor de saneamento.
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— Tem algumas commodities que utilizam a água como um insumo direto na produção. Celulose e frigorífico também seriam bem impactados. Dependendo da duração da crise, isso pode afetar os preços dos produtos e das ações — disse o chefe de Renda Variável da Ável Investimentos, Leonardo Schmitt.
O estrategista da RB Investimentos, Gustavo Cruz, ainda destaca efeitos não imediatos que o aumento na tarifa de energia no país gera para as empresas, o que pode afetar companhias do setor de varejo presentes na Bolsa, e influenciar a política monetária.
— Com o aumento dos gastos com a tarifa de energia, toda a parte do consumo da população vai ser afetada, o que pode impactar no varejo. Você terá mais pressão sobre um IPCA já estressado, aumentando a possibilidade de altas maiores nos juros. E, nesse cenário, terão empresas que vão se beneficiar e outras não.
Geração hidrelétrica
As empresas mais afetadas devem ser as geradoras de energia, principalmente aquelas concentradas na geração hidrelétrica, como a Cesp (CESP3,CESP6) e a AES Brasil (AESB3). No intervalo de um mês, a CESP teve queda de 2,54%
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Outras companhias que podem sofrer danos são aquelas que atuam desde a geração até a distribuição. São os casos da Copel (CPLE6), Cemig (CMIG4) e Engie (EGIE3).
Quem também perde são as companhias elétricas distribuidoras, que atendem diretamente o consumidor.
Com a conta de luz mais cara, essas empresas podem repassar os custos para o consumidor final, porém estarão expostas a inadimplência. São os casos da Energias Brasil (ENBR3), Equatorial (EQTL3) e Light (LIGT3). No intervalo de um mês, a Light já acumula perdas de 8,1%.
A escassez de água afetará as empresas de saneamento, como os casos da Sabesp (SBSP3) e Copasa (CSMG3).
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— Há uma necessidade muito grande do fator água. E quando a gente pega a estrutura de custos do setor de saneamento, boa parte é proveniente do setor de energia elétrica — destaca o analista de research da Ativa Investimentos, Ilan Arbetman.
O tamanho dos danos dependerá do volume de chuvas e nível dos reservatórios nos próximos meses, além da região de atuação de cada empresa.
Energia renovável em alta
No lado vencedor, devem ficar as empresas geradoras focadas em energia renovável e térmica. Entre elas, o destaque fica para a Eneva (ENEV3), uma small cap focada na geração térmica e que opera com usinas de gás e carvão. Os papéis da empresa têm valorização de 4,96% desde o dia 21 de maio.
Além dela, quem pode se aproveitar do momento é a Omega Geração (OMGE3), focada em geração através de energia renovável, como a solar e a eólica e a Renove (RNEW3).
As transmissoras são conhecidas por não darem muita dor de cabeça para os investidores e isso deve continuar assim. Essas empresas atuam com contratos longos, pré-estabelecidos e que são corrigidos por índices inflacionários.
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Elas são responsáveis apenas por “transportar” a energia. Portanto, não são penalizadas caso transportem menos e tampouco ficam com a conta da inadimplência dos consumidores. A Taesa (TAEE11) e Transmissão Paulista (TRPL4) serão bons abrigos durante a crise para os investidores mais medrosos.
E a Eletrobras?
A Eletrobras é uma das empresas que tem atuação em mais de uma ponta da cadeia de energia. Portanto, ela poderá ser afetada pela crise, mas os analistas destacam que a aprovação da medida provisória (MP), que abre caminho para a privatização da empresa , valorizou os papéis, arrefecendo possíveis danos.
— A discussão da privatização amenizou um efeito negativo sobre os papéis, mas a depender do nível de agravamento dessa crise ter uma retração de preço. São dois eventos muito importantes somados, então é difícil dizer qual vai ser mais forte — destaca Schmitt.
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Cruz complementa:
— O papel está bem direcionado para a privatização. Vai ficar um pouco alheio o setor elétrico.
Caráter didático
O setor elétrico costuma ser visto pelos investidores como previsível e composto por boas pagadoras de dividendos. Para o analista da Ativa, a crise possui um caráter didático, pois mostra a diversidade existente dentro do setor e traz o debate sobre a utilização de novas fontes energéticas, a fim de diminuir a dependência das hidrelétricas.
— Essa crise tem um caráter didático. Vemos que duas possíveis ganhadoras dessa crise (Omega e Eneva) buscam o crescimento e não pagam dividendos de forma tão forte — complementa.
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Segundo o especialista da Ável, a tendência é que aqueles investidores com receio dos efeitos da crise sobre as empresas já tenham saído dos papéis. Ele destaca o caráter mais de longo prazo da renda variável.
— O lucro da empresa pode até ser impactado por um tempo, mas se for uma boa empresa, a tendência é que ela se valorize com os anos. Boa parte da saída já deve ter acontecido, com isso embutido nos preços atuais.