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Criptoverso: Ao investir, cuidado com ciladas no mundo real e no virtual

Promessas de ganhos muito elevados devem acender o alerta, dizem especialistas. E antes de aplicar em uma exchange, busque referências
Investidor deve estar atento a golpes os que envolvem pirâmide financeira, caso da GAS Consuloria, de Glaidson Acácio dos Santos, o 'faraó dos bitcoins', preso sob suspeita de liderar uma organização criminosa Foto: Reprodução
Investidor deve estar atento a golpes os que envolvem pirâmide financeira, caso da GAS Consuloria, de Glaidson Acácio dos Santos, o 'faraó dos bitcoins', preso sob suspeita de liderar uma organização criminosa Foto: Reprodução

SÃO PAULO - Com o maior uso das criptomoedas no mundo, vem crescendo também o número de golpes aplicados por cibercriminosos com esses ativos.

Os crimes de roubo, sequestro de dados em troca de resgate, fraudes com os chamados NFTs (do inglês non fungible tokens , que são contratos que equivalem à representação digital de uma obra de arte, uma música ou até mesmo uma fotografia) envolvendo criptomoedas somaram US$ 14 bilhões em 2021, um recorde histórico e um aumento de 79% em relação ao ano anterior, segundo a empresa de pesquisa blockchain Chainnalysis.

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Num mercado ainda não regulado, especialistas recomendam que as pessoas mantenham com os cirptoativos os mesmos cuidados que mantêm com suas aplicações financeiras para evitar cair em armadilhas e perder dinheiro.

— No mundo dos criptoativos, valem os mesmos cuidados que se deve tomar para não cair em golpes financeiros, como por exemplo não clicar em links recebidos de emails desconhecidos ou por SMS. Os cibercriminosos se aproveitam da distração e curiosidade das pessoas — diz Fernando de Falchi, gerente de Engenharia de Segurança da Check Point Software Brasil.

O consultor de investimentos Paulo Bittencourt alerta ainda que promessas de ganhos elevados com uma nova cripotomoeda, divulgadas especialmente através de grupos de WhatsApp, também devem ser evitadas.

Nesse tipo de golpe, os criminosos levam o investidor a abrir uma carteira digital, fazer um depósito, mas roubam o dinheiro. Como há uma infinidade de corretoras de criptoativos (as chamadas exchanges) que oferecem carteiras digitais, ter uma referência de terceiros, antes de abrir a conta, previne que se caia numa cilada.

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Há registros e golpes aplicados até mesmo por aplicativos de paquera, como o Tinder. Nesse caso, os golpistas, disfarçados de pretendentes, levam a conversa para o mundo das finanças e convencem a pessoa a desembolsar determinada quantia para ter ganhos com criptomoedas.

Mas os golpistas pegam o dinheiro depositado na carteira digital e somem. Também já foram registrados casos de tokens que simulam investir em determinados projetos, mas são concebidos apenas para atrair investidores desavisados. Assim que são feitos os investimentos, o projeto desparece da internet.

— E ao cair num golpe desse não há como pedir ajuda à Justiça. A maior parte das exchanges não têm uma sede fixa. Portanto, o poder judiciário não consegue alcançá-las. Nesse caso não há como reaver o dinheiro. Portanto, é preciso gerenciar a ansiedade e ter cuidado ao aplicar em plataformas desconhecidas atrás de promessas de ganhos exorbitantes — conta Isac Costa, professor nos cursos de pós-graduação do Ibmec SP e coordenador da obra "CryptoLaw: Inovação, Direito e Desenvolvimento".

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Golpe com pirâmide financeira

O relatório da Chainnalysis, divulgado no mês passado, alerta que o valor envolvido nos crimes com criptomoedas em 2021 chama a atenção e "cria enormes impedimentos para a adoção contínua de criptomoedas, aumenta a probabilidade de restrições impostas pelos governos e, o pior de tudo, vitimiza pessoas inocentes em todo o mundo".

Um dos casos mais emblemáticos de golpes com criptomoedas no Brasil foi desvendado pela Polícia Federal, na cidade de Cabo Frio, no Rio de Janeiro, no ano passado.

A GAS Consultoria prometia ganhos mensais de 10% sobre o montante investido. A promessa atraiu um leque diversificado de clientes: políticos, empresários, policiais, autônomos, servidores públicos. Para fazer as aplicações, alguns até venderam seus bens.

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Mas tratava-se de um esquema de pirâmide financeira montado pelo ex-garçom e ex-pastor Glaidson Acácio dos Santos, de 38 anos. Na pirâmide, investidores recebem o ganho prometido enquanto continuam entrando novas pessoas no esquema.

Quando as adesões diminuem, a pirâmide não se sustenta e os pagamentos cessam. Glaidson chegou a movimentar R$ 38 bilhões em seis anos e ficou conhecido como o "faraó dos bitcoins". Ele está preso e sob suspeita de liderar uma organização criminosa.

— A pirâmide é um golpe antigo que atrai as pessoas com a promessa de ganhos elevados, que agora chega aos criptoativos. Quanto mais pessoas são atraídas, mais tempo ela se sustenta com dinheiro novo — explica Paulo Bittencourt.

Em novembro passado, a Check Point Research (CPR) alertou os usuários de carteiras criptográficas sobre uma enorme campanha de phishing que resultou em pelo menos meio milhão de dólares sendo roubados em questão de dias.

O phishing é uma forma de roubar dados confidenciais, como senhas de contas bancárias ou carteiras digitais, através de emails ou mensagens de SMS. Os e-mails geralmente são assinados por colegas de trabalho, um banco ou um órgão governamental.

Quando a vítima abre o e-mail ou o texto, há uma mensagem que a induz a clicar no link e realizar uma ação que acaba expondo do seus dados.

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O relatório da Chainnalysis observa ainda que a ascensão do chamado DeFi, ou finanças descentralizadas, levou os criminosos a se aproveitarem de pessoas atraídas pela valorização de algumas criptomoedas.

Nas finanças descentralizadas, através de plataformas DeFi, investidores, financiadores, tomadores de empréstimo, vendedores e compradores negociam entre si diretamente com cripotmoedas.

Não há intermediação de bancos, corretoras ou mesmo exchanges e as transações são registradas no blockchain, através de contratos inteligentes (os chamados smart contratcst).

Os cibercriminosos se aproveitam de falhas nesses contratos inteligentes e roubam o dinheiro. A Chainalysis estima que cerca de US$ 7,8 bilhões do total de US$ 14 bilhões em atividades criminosas vieram de fraudes cometidas no universos das finanças descentralizadas.