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Dólar fecha abaixo de R$ 5 pela primeira vez em mais de um ano, com Copom e EUA no radar dos investidores

Ata do Comitê mostra que foi considerado um ajuste maior na taxa de juros já na semana passada. Presidente do BC americano reafirmou caráter tranistório da inflação no país. Ibovespa recua
Após ata do Copom, dólar e juros futuros operavam em alta. Foto: Reuters
Após ata do Copom, dólar e juros futuros operavam em alta. Foto: Reuters

RIO — Após mais de um ano, o dólar fechou abaixo do patamar de R$ 5. A moeda americana terminou negociada com baixa de 1,12%, aos R$ 4,9661. A última vez que a divisa fechou nesse valor foi no longínquo 10 de junho de 2020, quando encerrou o dia cotada a R$ 4,9334.

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O dólar apresenta desvalorização de 4,26% no ano e 4,94% só neste mês.

No cenário interno, os investidores repercutiram a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) , divulgada nesta terça-feira. O documento mostrou que foi cogitada uma aceleração maior dos juros já na reunião deste mês.

No exterior, os agentes de mercado aguardavam falas do presidente do Federal Reserve, banco central americano, Jerome Powell, sobre a economia do país a um subcomitê da Câmara.

Ele adotou um tom mais moderado, reafirmando o caráter transitório da inflação. E isso enfraqueceu a leitura de uma retirada de estímulos da economia americana no curto prazo.

Copom mais duro

Apesar de considerarem uma alta mais expressiva já neste mês, os membros do comitê concluíram que o melhor seria elevar a Selic em 0,75 ponto percentual, sinalizando um aperto maior na reunião de agosto. Hoje, a taxa está em 4,25% ao ano.

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“Considerando os diversos cenários alternativos, o Comitê entendeu que a melhor estratégia seria a manutenção do atual ritmo de redução de estímulos, mas destacando a possibilidade de ajuste mais tempestivo na próxima reunião”, destaca a ata.

Para o estrategista da RB investimentos, Gustavo Cruz, após a ata, a interpretação do mercado é a de um Copom menos permissivo com a inflação e entendendo que seria interessante elevar os juros para uma taxa neutra, próximo a 6,5%, até o final do ano.

— A mensagem que sai dessa ata é que o Banco Central entende que ele realmente terá de levar a Selic até 6,5% e talvez tenha que fazer isso de forma mais rápida caso as projeções de inflação continuem subindo — disse Cruz, destacando que o Boletim Focus da semana elevou novamente a projeção de inflação, mesmo com a perspectiva de mais altas nos juros.

Efeito no câmbio

Segundo a chefe de economia da Rico Investimentos, Rachel de Sá, a ata do Copom foi o principal motivo do dólar ter operado abaixo de R$ 5 durante o dia.

— O principal driver foi a alta do Copom, que reforçou tendências que já estavam acontecendo nas últimas semanas, com uma melhora na percepção de risco fiscal agudo. A cereja do bolo foi essa posição mais dura que foi confirmada pela ata.

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O estrategista Macro na XP, Victor Scalet, ressalta que a alta de juros no Brasil favorece o real, pois possibilita ao investidor estrangeiro realizar as operações de carry trade, que consiste em tomar o dinheiro em países onde as taxas são baixas e investir em outros que têm o juro maior e que trazem, portanto, mais rentabilidade.

Scalet ainda destaca os efeitos da ata do Copom nas curvas de juros futuros, impulsionando a subida daqueles de curto prazo.

— O Banco Central mais duro faz aumentar as curvas de juros no curto prazo e isso beneficia mais o real — disse Scalet, destacando que as commodities continuam impactando positivamente a dinâmica da nossa moeda

Inflação transitória

Durante a audiência, Powell reiterou sua opinião de que as pressões inflacionárias serão transitórias, mesmo após um aumento notável nos últimos meses.

Ele disse que tem "um nível de confiança" de que os preços irão cair, mas é muito difícil dizer quando os gargalos irão desaparecer. O dirigente também ressaltou que um ambiente de inflação de 5% não seria aceitável e pediu paciência para avaliar os dados de preços.

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Para ele, o aumento dos preços ocorre em grande parte de setores cujos preços foram especialmente impulsionados pela reabertura, como veículos usados.

— Não aumentaremos as taxas de juros preventivamente porque tememos o possível surgimento de inflação. Vamos esperar por evidências de inflação real ou outros desequilíbrios — disse Powell

Segundo a analista da Rico, o cenário internacional, com o posicionamento de Powell, contribuiu com o comportamento da divisa.

— Quando o Powell destaca que o aumento dos preços é temporário e que o Fed não vai subir os juros de uma maneira preventiva isso significa que os juros não vão subir tão cedo nos Estados Unidos, o que é positivo para os mercados emergentes — disse Sá.

Ibovespa em queda

O Ibovespa, por sua vez, terminou o dia em queda, pressionado pela desvalorização de empresas de diversos setores. O principal índice da B3 terminou com queda de 0,38%, aos 128.767 pontos.

Entre as ações, as ordinárias da Petrobras (PETR3, com direito a voto) subiram  0,10% e as preferenciais (PETR4, sem direito a voto), 0,52%. As ordinárias da Vale (VALE3) avançaram 1,17%.

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Nas baixas, estavam as administradoras de shoppings. As ordinárias da BR Malls (BRML3), da Multiplan (MULT3) tiveram quedas de 2,48% e 2,65%, respectivamente. A exceçao ficou com os papéis ON do Iguatemi (IGTA3), que subiram 0,74%.

As ordinárias da Tim (TIMS3) lideraram as perdas, com queda de 3,81%. As da CCR (CCRO3) cederam 2,93%.

O setor financeiro também teve quedas, com as preferenciais do Itaú (ITUB4) e do Bradesco (BBDC4) cedendo 1,29% e 1,84%, respectivamente.

Juros futuros em alta

A sinalização exposta na ata fez com que os juros futuros subissem nesta terça, principalmente, os de mais curto prazo.

As taxas dos contratos futuros de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 escalaram de 5,59% no ajuste anterior para 5,7%.

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As taxas do DI para janeiro de 2023 passaram de 7,12% para 7,27%; as do DI para janeiro de 2025 avançaram de 8,19% para 8,25%.

As do DI para janeiro de 2027 subiram de 8,64% para 8,70%.

Bolsas no exterior

As bolsas americanas fecharam em alta, seguindo a tendência vista no dia anterior. O índice Dow Jones subiu 0,20%. No S&P e em Nasdaq as altas foram de 0,51% e 0,79%, respectivamente. Em Nasdaq, houve novo recorde intradiário, com altas em empresas como a Amazon e Microsoft.

Na Europa, as bolsas fecharam com ganhos no positivo. A Bolsa de Londres subiu 0,39%. Em Frankfurt e Paris as altas foram de 0,21% e 0,14%, respectivamente.

As bolsas asiáticas fecharam no positivo. O índice Nikkei, da Bolsa de Tóquio, subiu 3,12%, praticamente se recuperando das perdas do dia anterior. Na China, houve alta de 0,80%.

A exceção ficou por conta de Hong Kong, com recuo de 0,63%.