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Dólar fecha em R$ 5,10, menor valor desde julho. Na Bolsa, Americanas recua mais de 6% após suspeita de ataque hacker

Ibovespa cai com piora do mercado externo. Em dia de menor liquidez, investidores monitoram acirramento das tensões entre Rússia e Ucrânia
Dólar opera abaixo dos R$ 5,10, ajudado por fluxo estrangeiro. Foto: Reuters
Dólar opera abaixo dos R$ 5,10, ajudado por fluxo estrangeiro. Foto: Reuters

RIO — O dólar fechou no patamar mais baixo desde julho nesta segunda-feira. A moeda americana teve queda de 0,64%, e terminou o dia negociada a R$ 5,1070. É a menor cotação de fechamento desde o dia 29 de julho, quando a divisa terminou cotada a R$ 5,0792.

O país se beneficia da maior entrada de dólares por diferentes vias, como a atração de invesitores e o aumento do valor das exportações de matérias-primas, valorizando o real frente à moeda americana.

Enquanto isso, na Bolsa, o dia foi de ações em queda. O Ibovespa (principal índice da B3) cedeu 1,02%, aos 111.725 pontos.

Após operar em alta durante boa parte do dia, o sentimento de aversão ao risco no exterior prevaleceu sobre o desempenho positivo de empresas importantes para o índice, como a Vale e a Petrobras.

O destaque mais negativo foi a queda de 6,61% dos papéis ordinários da Americanas (AMER3, com direito a voto).

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Controlados pela holding Americanas S.A., os sites de Americanas e Submarino se encontram fora do ar desde o fim de semana, sob suspeita de ataque hacker.

Na cena externa, os investidores seguiram acompanhando a movimentação de tropas russas perto da Ucrânia esforços diplomáticos pouco eficazes para impedir um conflito armado.

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Os mercados tiveram menor liquidez devido ao feriado nos Estados Unidos, que mantiveram as bolsas do país fechadas.

Investimentos estrangeiros, juros e commodities explicam

O operador de câmbio da Fair Corretora, Hideaki Iha, destaca que o real segue se beneficiando de fatores como o fluxo de investimentos estrangeiros em direção ao país, a alta internacional das commoditie s (que favorece exportações) e o fato de estarmos com um patamar de juros alto, o que atrai mais dólares do exterior e força para baixo a cotação da moeda americana no Brasil:

— Tem entrado muito dinheiro na nossa Bolsa. A alta das commodities e nossa Selic também ajudam.

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Até o pregão do dia 17 de fevereiro, o fluxo estrangeiro no segmento secundário da B3, aquele com ações já listadas, era positivo em R$ 53,7 bilhões.

Cenário externo pode afetar câmbio

Iha ressalta, no entanto, que o sentimento no mercado piorou após o presidente da Rússia, Vladimir Putin, sinalizar o reconhecimento da independência das repúblicas separatistas de Luhansk e Donetsk, na Ucrânia, onde rebeldes pró-Moscou controlam boa parte do território desde 2014.

Para Iha, a tendência para o real no curto prazo segue positiva. No entanto, fatores externos, como uma possível invasão russa ao território ucraniano, e internos, com destaque para o cenário fiscal brasileiro, podem prejudicar a nossa moeda.

— Em um primeiro momento, você vai ver isso (valorização do dólar). Essa invasão não vai beneficiar ninguém – disse o operador sobre a possibilidade de uma piora ainda maior na relação entre a Rússia e o Ocidente.

Diferencial de juros atrai dólares

O operador da Fair, lembra que o acirramento do conflito tende a elevar o preço do petróleo, o que pressionaria ainda mais a inflação com o impacto nos combustíveis. No caso dos EUA, uma alta maior dos preços pode acelerar o aperto monetário por parte do Federal Reserve, banco central do país.

O diretor da FB Capital, Fernando Bergallo, destaca o diferencial de juros do Brasil  em comperação com outros países como um dos principais fatores que vem ajudando o real.

—  É natural que, retomando os juros a um patamar de prêmio que faça frente ao risco do país, o investimento volte — disse Bergallo, que enxerga um patamar de equilíbrio para o câmbio entre R$ 5 e R$ 5,10.

O diferencial entre taxas de juros praticadas aqui e no mercado externo estimula a prática chamada de carry trade , que consiste em tomar o dinheiro em países onde as taxas são baixas e investir em outros que têm juro maior e que trazem, portanto, mais rentabilidade.

Sites fora do ar prejudicam Americanas

Durante o fim de semana, a Americanas informou ao mercado que suspendeu proativamente parte dos servidores do ambiente de e-commerce , impactando os seus sites Americanas.com e Submarino, como parte de seu protocolo de resposta após identificar um "acesso não autorizado", informou a empresa.

Houve suspensão de parte dos servidores tanto no sábado quanto no domingo. As lojas físicas não tiveram suas atividades interrompidas.

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Em relatório, a XP avalia o evento como marginalmente negativo, uma vez que o canal on-line representa quase 60% das receitas da empresa.

"No entanto, importante monitorar para ver quanto tempo levará para normalizar as operações e assim entender melhor o potencial impacto nos resultados da companhia", destacaram os analistas, em relatório. A corretora mantém recomendação neutra e preço-alvo de R$ 40 por ação.

Na Europa, tensão na Ucrânia predomina

As Bolsas europeias fecharam em queda nesta segunda-feira, diante das dúvidas quanto à reunião diplomática entre os presidentes dos Estados Unidos, Joe Biden, e da Rússia, Vladimir Putin. Na noite de domingo, o presidente francês, Emmanuel Macron, disse que os dois líderes haviam concordado com o encontro.

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Nesta segunda-feira, porém, o Kremlin disse que “não há planos concretos” para a cúpula. Autoridades dos EUA disseram que a reunião só ocorrerá se a Rússia não invadir a Ucrânia, enquanto a Rússia disse repetidamente que não tem planos de fazê-lo.

A Bolsa de Paris recuou 0,39% e a de Frankfurt, 2,07%. Em Londres, ocorreu baixa de 2,04%.

Na Ásia, as bolsas fecharam com baixas. O índice Nikkei, da Bolsa de Tóquio, cedeu 0,78%. Em Hong Kong, houve baixa de 0,65%. A Bolsa de Xangai fechou estável.

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Petrobras e Vale sobem

As ordinárias da Petrobras (PETR3) subiram 2,70% e os preferenciais (PETR4, sem direito a voto), 2,58%.

O movimento acompanhou o avanço do petróleo no exterior. O preço para o contrato de abril do petróleo tipo Brent subiu 1,97, negociado a US$ 95,39.

Os papéis ON da PetroRio (PRIO3) avançaram 3,65% e os da 3RPetroleumon (RRRP3), 3,87%.

Em dia positivo para o minério de ferro negociado na China, as ordinárias da Vale (VALE3) avançaram 0,08% e as da Siderúrgica Nacional (CSNA3), 0,41%.

No setor financeiro, as preferenciais do Itaú (ITUB4) e do Bradesco (BBDC4) tivera quedas de 2,45% e 1,17%, respectivamente.

As ações ON do BRMalls (BRML3) cederam 2,47%. A empresa informou ao mercado que a Aliansce Sonae já comprou mais de 5% do seu capital social.

No início de janeiro, a Aliansce, que é dona do Shopping Leblon e do Via Parque, chegou a apresentar uma proposta para se fundir com a BR, que controla o NorteShopping e o Shopping Villa-Lobos, em São Paulo.

No entanto, a proposta foi recusada em tempo recorde pelo conselho administrativo da BR, que considerou o preço ofertado baixo.

Os papéis ON da Aliansce (ALSO3) caíram 4,60%.

Marfrig vai influenciar gestão da BRF

Ainda no nocitiário corporativo, a Marfirg anunciou que deverá exercer seus diretos de acionista na BRF, influenciando a gestão da companhia.

Em fato relevante, a empresa de Marcos Molina afirmou que irá apresentar à BRF chapa de candidatos a serem indicados para o Conselho de Administração na próxima assembleia geral ordinária da dona da Sadia.

Hoje, a Marfrig possui quase 33% do capital da BRF. No início do mês, a BRF levantou R$ 5,4 bilhões em uma oferta secundária de ações (follow-on).

Havia a expectativa no mercado de que a Marfirg pudesse aproveitar a oferta para aumentar sua participação na empresa. No entanto, a empresa comprou o suficiente apenas para manter sua posição.

As ordinárias da Marfirg (MRFG3) e as da BRF (BRFS3) tiveram quedas de 4,57% e 2,55%, respectivamente.

Boletim Focus: mais inflação

O mercado voltou a elevar as estimativas para a inflação ao final deste ano. Segundo o Boletim Focus, relatório semanal divulgado pelo BC, a expectativa para inflação ao final de 2022 subiu de 5,50% para 5,56, na sexta alta consecutiva. O número é superior ao teto da meta do BC, que é de 5%.

Para o término de 2023, a previsão se manteve em 3,50%.

No caso do câmbio, houve recuo nas previsões para este e para o próximo ano. Ao término de 2022, a estimativa caiu de R$ 5,58 para R$ 5,50. Já para o final de 2023, a taxa passou de R$ 5,45 para R$ 5,36.

As estimativas para a Selic mantiveram-se inalteradas em 12,25% ao término de 2022 e 8% ao final de 2023.

No caso do Produto Interno Bruto (PIB), também não ocorreram alterações. A estimativa para o fim de 2022 segue em 0,30% e ao término de 2023, em 1,50%.