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Dólar fecha em R$ 5,16 e Bolsa cai 1,43%, com cautela no exterior e baixa de commodities

Investidores seguem apreensivos com tensão entre Rússia e Ucrânia. Entre ações, desempenho ruim de Vale e Petrobras pressiona Ibovespa
Tensão entre Rússia e Ucrânia e ata do Federal Reserve, banco central americano, são destaques no dia dos mercados. Foto: Reuters
Tensão entre Rússia e Ucrânia e ata do Federal Reserve, banco central americano, são destaques no dia dos mercados. Foto: Reuters

RIO —  O dólar fechou em alta enquanto a Bolsa interrompeu sua sequência de ganhos nesta quinta-feira. Os ativos foram influenciados pelo sentimento de cautela no exterior diante das tensões geopolíticas envolvendo a Rússia e a Ucrânia.

A moeda americana teve alta de 0,76%, negociada a R$ 5,1670. O Ibovespa cedeu 1,43%, aos 113.528 pontos. O principal índice da B3 foi pressionado pelo desempenho ruim de empresas ligadas a commodities.

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Além dos conflitos na politica, os investidores seguiram repercutindo os sinais dados pelo Federal Reserve, banco central americano, em sua ata divulgada na véspera .

Tensão volta

Na cena geopolítica, os agentes de mercado parecem não ter se convencido completamente a respeito do recuo das tropas russas na fronteira com a Ucrânia, o que pressionou os índices europeus e americanos.

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Na terça-feira, o porta-voz do ministério da Defesa russo, Igor Konashenkov, anunciou em comunicado que o governo decidiu retirar parte dos militares da fronteira. Mas tanto países do Ocidente quanto representantes da Otan seguem lançando alertas sobre uma possível invasão russa.

O governo dos EUA voltou nesta quinta-feira a elevar o tom sobre a suposta "iminência" de uma invasão militar da Rússia à Ucrânia, rejeitando as alegações do Kremlin de que já está retirando suas forças de áreas próximas às fronteiras ucranianas.

Os russos, por sua vez, seguem negando que tenham planos de entrar em território ucraniano. Moscou expulsou o número dois da embaixada americana, por razões ainda não esclarecidas, e entregou sua tréplica às respostas de Washington às demandas de segurança que apresentou em dezembro.

De quanto será a alta dos juros?

No caso do Fed, a ata divulgada na quarta-feira não trouxe grandes novidades. O documento reforçou a tese de que a maior parte dos dirigentes defende uma atuação mais incisiva contra a inflação persistente no país.

No entanto, não houve um comprometimento claro com um percentual de elevação nos juros nem com o ritmo do aperto monetário.

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Nesta quinta,  o presidente do Fed de St. Louis, James Bullard, voltou a defender uma atuação mais forte por parte do banco.

— Estamos perdendo nossa meta de inflação em nossa medida preferida... e a política ainda está no fundo do poço e ainda temos compras de ativos em andamento. Este é um momento em que precisamos mudar para menos acomodação — disse Bullard em entrevista à CNN.

Bullard, que é membro votante do Comitê do banco que define as taxas, já havia defendido um aumento das taxas de juros em um ponto percentual completo até o início de julho durante entrevista na semana passada.

Volatilidade deve seguir

Para o gestor de renda variável da Western Asset, César Mikail, o noticiário geopolítico e as declarações do dirigente do Fed prejudicaram as bolsas.

— O mercado até vinha se desatrelando. Mas, hoje em específico, lá fora pesou pelo geopolítico e pelo Bullard enfatizando a preocupação com a inflação. O somatório dos dois fez o mercado realizar e nós não ficamos isentos.

Mikail acredita que a volatilidade deve seguir nos próximos pregões enquanto o mercado não tiver uma sinalização mais clara sobre o desfecho da crise entre russos e as potências ocidentais.

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Sobre os juros, o gestor ressalta que o mercado está precificando uma alta de 0,25% para a próxima reunião, mas que os membros do Fed vão aguardar novos indicadores econômicos para tomar sua decisão.

— A inflação está persistente. Mas o quão persistente ela vai ficar, você vai ver com os números saindo. Você tem uma dúvida entre os membros. O mercado vai ficar nessa volatilidade até a hora da reunião.

Para o economista e sócio da BRA, João Beck, a queda forte no dia ainda não é suficiente para indicar uma mudança de rumo na trajetória positiva do Ibovespa, que vem se beneficiando da forte entrada de fluxo estrangeiro.

— A Bolsa brasileira vinha de uma sequência de 7 dias sem quedas. Dólar e perspectivas de taxa de juros caíram bastante ao longo desses dias. O movimento de hoje ainda pode ser considerado como algo pontual sem reverter a tendência principal. Investidores querem deixar de lado a Rússia, mas a informação de que ações militares teriam ocorrido no Leste da Ucrânia ainda deixam a situação indefinida.

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Para Mikail, o aperto monetário por parte do Fed pode reverter ou desacelerar a entrada dos recursos a depender de como será a condução do processo.

— Vai depender muito como se dará o processo. Se for 0,25% a cada reunião, o fluxo continua, porque o Brasil vinha muito descontado, tanto que você teve uma correção da moeda e da Bolsa. Quem está entrando aqui sabe que os Estados Unidos vão fazer o aperto monetário. E você tem o lado das (empresas de) commodities, que protegem contra a inflação.

Vale e Petrobras caem

Entre as ações, as ordinárias da Petrobras (PETR3, com direito a voto) cederam 0,47% e as preferenciais (PETR4, sem direito a voto), 0,39%.

O movimento acompanhou as quedas dos preços do petróleo no exterior diante de informações sobre o progresso na negociação do acordo nuclear entre os Estados Unidos e o Irã, que pode resultar no aumento da oferta.

O contrato para abril do petróleo tipo Brent caiu 1,94%, negociado a US$ 92,97, o barril. Já o contrato para março do tipo WTI cedeu 2,03%, negociado a US$ 91,76, o barril.

As ordinárias da Vale (VALE3) caíram 4,30% e as da Siderúrgica Nacional (CSNA3), 5,85%.

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As preferenciais da Usiminas (USIM5) cederam 4,07%.

O movimento foi influenciado por mais um dia de queda do minério de ferro negociado na China. Autoridades chinesas vêm apertando a fiscalização dos níveis dos estoques da commodity nos portos e sobre as negociações nos mercados à vista e futuro, na tentativa de evitar operações irregulares.

No setor financeiro, as preferenciais do Itaú (ITUB4) e do Bradesco (BBDC4) tiveram quedas de 1,40% e 1,17%, respectivamente.

Na cena interna, segue a temporada de balanços do quarto trimestre. O resultado positivo da Totvs (TOTS3) impulsionou os papéis ordinários da empresa, que subiram 5,81%, liderando as altas do Ibovespa.

A Totvs reportou lucro líquido de R$ 125,8 milhões, alta de 31% ante o ano anterior. As receitas saltaram 33,5% na mesma base de comparação, para R$ 920,6 milhões em relação a 2020.

Bolsas no exterior

As bolsas americanas tiveram fortes quedas com o aumento das tensões geopolíticas. O índice Dow Jones cedeu 1,78% e o S&P, 2,12%. A Bolsa Nasdaq caiu 2,88%.

No país, foram divulgados dados do mercado de trabalho. Os novos pedidos de seguro-desemprego subiram 23 mil na semana encerrada em 12 de fevereiro, totalizando 248 mil. Os números vieram acima das expectativas do mercado.

Na Europa, as bolsas fecharam com quedas. A Bolsa de Londres cedeu 0,87% e a de Frankfurt, 0,67%. A Bolsa de Paris caiu 0,26%.

As bolsas americanas fecharam com direções contrárias. O índice Nikkei, da Bolsa de Tóquio, caiu 0,83%. Em Hong Kong, houve alta de 0,30% e, na China, de 0,06%.