RIO — A Marfrig anunciou, em fato relevante ao mercado, que buscará exercer influência na gestão da BRF, indicando membros para o Conselho de Administração na próxima assembleia geral ordinária da dona da Sadia. Hoje, a empresa de Marcos Molina possui participação de 33,25% na dona da Sadia.
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No comunicado, a companhia informou que seu conselho decidiu que a Marfirg “deve exercer seus direitos de acionistas para passar a influenciar na administração da BRF”.
A assembleia está agendada para 28 de março.
No início do mês, a BRF levantou R$ 5,4 bilhões em uma oferta secundária de ações (follow-on). Havia a expectativa no mercado de que a Marfirg pudesse aproveitar a oferta para aumentar sua participação na empresa. No entanto, a empresa comprou o suficiente apenas para manter sua posição.
Em 2021, a Marfrig comprou ações da BRF e ficou próxima de ultrapassar o poison pill (pílula do veneno) no estatuto da BRF, que obriga qualquer acionista que exceder a participação de 33,3% de seu capital a fazer uma oferta por toda a companhia com um prêmio sobre a maior cotação média dos papéis de 30 ou 120 dias anteriores.
Na época da compra das ações, a empresa sinalizava que seria um investidor passivo na BRF.
Para os analistas, o anúncio vai em linha com a postura que se esperava da Marfrig à medida que se aproxima a Assembleia.
— Surpreendente seria ser 100% passiva. Boa parte do mercado já esperava uma mudança da atitude — disse o analista da Guide Investimentos, Rodrigo Crespi.
Para Crespi, o lançamento de uma chapa de candidatos pode ser lido como um indicativo dos próximos passos da Marfirg no negócio.
— Sendo aprovada essa chapa da Marfirg, é mais um grande indicativo de uma potencial fusão no curto e médio prazo.
Em comentário, o analista de Research da Ativa Investimentos, Sérgio Berruezo, destaca que o anúncio pode enfrentar a resistência de outros acionistas, como pôde ser visto no processo de follow-on.
“Recentemente, a Marfrig enfrentou oposição de outros acionistas da BRF em decisão relativa ao recente follow on da companhia, o que pode continuar a se repetir com a mudança de postura da Marfrig de acionista passivo para influenciador da gestão”, destacou.
Há sinergias?
Para os especialistas, existem sinergias entre as empresas, mas, principalmente na parte comercial.
O analista de alimentos e bebidas da XP, Leonardo Alencar, ressalta que as divisões de transporte e indústria não possuem sinergias. Mas em termos de portfólio e atuação geográfica, o negócio pode ser positivo, especialmente, para a Marfirg, que vem apresentando resultados melhores nos últimos anos.
— A Marfrig é 100% carne bovina e a BRF 100% aves e suínos. Tem complementariedade na parte de geografias também — disse Alencar, destacando que as operações da BRF no exterior estão mais concentradas nos EUA e no Oriente Médio.
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A empresa de Molina, portanto, ficaria menos dependente da divisão de bovinos, podendo oferecer um portfólio mais variado aos seus clientes.
Vale lembrar que a BRF vem passando por uma pressão em suas margens, sobretudo, pelo aumento dos preços dos grãos. Para Alencar, caso a Marfirg realmente dê novos passos na tentativa de se fundir com a BRF, precisará ser mais transparente ao mercado,
— Ela precisa mostrar ao mercado quais são as estratégias para os próximos anos para a BRF. Vai precisar ser ainda mais transparente para poder reconquistar credibilidade do mercado.
Em um pregão negativo para os ativos locais, as ordinárias da Marfirg (MRFG3) e as da BRF (BRFS3) tiveram quedas de 4,57% e 2,55%, respectivamente.