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Quer investir no exterior? BDRs ou compra direta de ações são as alternativas

Recibos emitidos no Brasil são indicados para quem é novato na renda variável. Já aquisição do papel exige conta em corretora estrangeira
Com juros baixos, investidores migram para mercado de ações Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo
Com juros baixos, investidores migram para mercado de ações Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo

SÃO PAULO - Há três meses, o administrador Guilherme Araújo, de 40 anos, tomou uma decisão radical em relação a seus investimentos. Deixou a renda fixa, que vem perdendo para a inflação, e decidiu se arriscar no mercado de renda variável. Mas decidiu comprar ações de empresas negociadas nas Bolsas americanas. Como trabalha atualmente no ramo de tecnologia, escolheu papéis desse setor, como NVidia (fabricante americana de peças para computadores), Qualcomm (tecnologia para celulares) e Li (empresa chinesa de carros elétricos), entre outros.

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— O mercado de ações do Brasil sofre demais, está sujeito a muitos solavancos: seja pela troca do presidente do Banco Central da Turquia ou quando alguém importante sai do governo brasileiro. Venho estudando aplicações em renda variável há algum tempo, e achei melhor ir direto às ações do que comprar os BDRs, recibos que representam ações de empresas estrangeiras — conta Araújo.

Num momento em que é preciso diversificar as aplicações para ter um retorno maior que os 2,75% oferecidos pela taxa de juros (Selic) na renda fixa ou caderneta de poupança, aplicar em ativos do exterior é uma opção oferecida pelo mercado, que vem crescendo. Para os brasileiros, há dois caminhos para comprar ações de empresas estrangeiras como Disney, Google, Apple, Tesla ou Facebook.

O primeiro é buscar em uma corretora os chamados Brazilian Deposit Receipts (BDRs), papéis que passaram a ser oferecidos pela B3 para pequenos investidores desde outubro passado. O segundo é aplicar diretamente nessas ações através de uma corretora que faça esse tipo de operação, seguindo o exemplo de Araújo.

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Interesse em alta

Dados da B3 mostram que o interesse dos brasileiros pelos BDRs cresceu desde que eles passaram a ser oferecidos no varejo. Em dezembro de 2019, quando estes papéis só estavam disponíveis para os chamados investidores qualificados (com mais de R$ 1 milhão para aplicar), eram 2,9 mil aplicadores, com um total de R$ 3,3 bilhões investidos. Em dezembro do ano passado, esse número já havia saltado para 128,9 mil investidores com R$ 14,3 bilhões aplicados. Em fevereiro, o número de investidores chegou a 196 mil, com R$ 18,1 bilhões. Estão disponíveis quase 700 papéis de diferentes empresas.

— Para quem está começando no mercado de renda variável e quer aplicar em empresas estrangeiras, os BDRs são o primeiro passo — recomenda Paulo Bittencourt, consultor de investimentos.

.. Foto: Editoria de Arte
.. Foto: Editoria de Arte

O BDR não é propriamente uma ação. Trata-se de um recibo lastreado numa ação e emitido por um banco. A instituição compra a ação, emite o recibo e o oferece para negociação na B3. Quem compra esse papel ganha se a ação se valorizar e também se o câmbio subir, já que a aplicação é feita em reais, mas convertida em dólares. Se a empresa pagar dividendos, o proprietário do BDR também recebe. É a mesma lógica de uma ação.

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Uma forma de mitigar o risco de investir em apenas um ou dois desses recibos de ações é aplicar nos chamados BDRs de Exchange Traded Funds (ETFs), que replicam índices das Bolsas americanas ou uma cesta de ações de um determinado setor, como tecnologia ou saúde, por exemplo.

Carlos Takahashi, presidente da BlackRock Brasil, gestora global de ativos, explica que o ETF é uma espécie de fundo que replica índices como o S&P 500, composto por ações das 500 maiores companhias listadas na Bolsa de Nova York e na Bolsa de tecnologia Nasdaq. Também há ETFs que trazem ativos de empresas com práticas sustentáveis, as chamadas ESG (sigla em inglês para Governança Ambiental, Social e Corporativa).

— O ETF possibilita a diversificação, tanto de ações de um determinado setor como geográfica, já que por meio deles é possível investir em companhias asiáticas, por exemplo. Também é um instrumento interessante para reduzir os riscos do mercado de renda variável, especialmente para quem está iniciando — explica Takahashi.

A BlackRock, diz, já oferece onze ETFs de BDRs e, em breve, terá mais dez.

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Diferenças tributárias

. Foto: Editoria de Arte
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Ao comprar o BDR por uma corretora, o investidor o faz em reais. Já para adquirir uma ação de companhia estrangeira é preciso abrir conta em uma corretora no exterior e enviar os recursos, que serão convertidos em dólar. Na hora de vender o BDR, o investidor tem que recolher Imposto de Renda, à alíquota de 15% sobre o ganho obtido. Não há isenção, como ocorre com nas operações com ações no Brasil, isentas de IR até o limite de R$ 20 mil. O ganho com a venda de ações no exterior também é tributado em 15%, mas operações inferiores a R$ 35 mil são isentas.

Além disso, nos EUA os dividendos pagos por empresas americanas são tributados em 30%. Portanto, o banco que emitiu o BDR vai repassar os dividendos ao investidor já com esse desconto, além de cobrar uma taxa entre 3% e 5% sobre o valor dos proventos. Quando se investe diretamente na ação, não há taxa.

— Uma vantagem de investir diretamente em ações é que há um leque de mais de 6 mil papéis nas Bolsas americanas. É quase dez vezes o número de BDRs oferecidos no Brasil — lembra William Castro Alves, estrategista da Avenue, corretora com sede em Miami.

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Na prática, isso significa que as ações têm mais liquidez: se o investidor quiser vender o papel, não terá dificuldade. No caso dos BDRs, a liquidez acaba sendo menor.

Castro Alves observa que o interesse dos brasileiros por ações de empresas estrangeiras vem crescendo. A Avenue chegou ao mercado há pouco mais de dois anos e já tem 250 mil contas.

— O processo de investir em ações no exterior ficou mais fácil — diz Castro Alves, ressaltando que a abertura da conta e o envio dos recursos são feitos diretamente pelo site.