RIO — Um grupo de 21 atuais e ex-funcionários da Blue Origin acusam o CEO e bilionário, Jeff Bezos, de sacrificar a segurança da empresa para vencer a corrida espacial contra Elon Musk, CEO da Space X, e Richard Branson, fundador da Virgin Galactic, disse o jornal britânico Financial Times nesta sexta-feira.
Como consequência, a equipe também afirma que Bezos fomentou uma cultura de trabalho "sexista e tóxica". A Administração Federal de Aviação dos EUA diz que está investigando as questões de segurança levantadas pelo grupo.
No espaço : Por que Elon Musk assumiu a dianteira da corrida espacial dos bilionários?
Em postagem, feita nesta quinta-feira, esses profissionais relataram uma série de atitudes discriminatórias, excesso de trabalho e de priorização da velocidade em relação a segurança.
“Na Blue Origin, uma pergunta comum durante as reuniões de alto nível era:‘ Quando Elon ou Branson irão voar? ’”, Dizia o post. “Competir com outros bilionários — e‘ fazer progresso para Jeff — parecia ter precedência sobre questões de segurança que teriam atrasado o cronograma.”
A mensagem foi escrita por Alexandra Abrams, ex-chefe de comunicações dos funcionários da Blue Origin, e 20 outros funcionários atuais e ex-funcionários não identificados de toda a empresa, incluindo equipes de engenharia e recursos humanos.
Abrams e os demais signatários afirmam que muitas das preocupações sobre a segurança dos foguetes Blue Origin foram ignoradas e que a empresa não segue as medidas de segurança adequadas.
Bilhões nas estrelas: Entenda como a corrida espacial já gera negócios na Terra e pode abrir novas fronteiras
O motivo por trás da pressa seria a corrida espacial com os bilionários Branson e Musk, que enviaram seus primeiros tripulantes ao espaço no início de julho e meio de setembro, respectivamente.
Abrams disse ao jornal norte-americano CBS que, em 2018, uma equipe documentou mais de mil preocupações com a segurança dos foguetes. Em resposta, a liderança teria dito que os indivíduos não eram tão "tolerantes ao risco".
Abrams saiu da empresa no mesmo ano, após os executivos supostamente afirmarem que "não poderiam mais confiar nela".
Quer viajar ao espaço? Veja o que você precisa além de (muito) dinheiro
"Muitos de nós passamos nossas carreiras sonhando em ajudar a lançar um foguete tripulado ao espaço e vê-lo pousar em segurança na Terra", disse na carta. "Mas quando Jeff Bezos voou para o espaço em julho deste ano, não compartilhamos sua alegria. Em vez disso, muitos de nós assistimos com uma sensação avassaladora de mal-estar. Alguns de nós não conseguiam suportar assistir de jeito nenhum."
Apelidos depreciativos
Os funcionários também afirmaram que relatos de assédio sexual foram ignorados pela liderança. Vários executivos teriam rebaixado funcionárias da Blue Origin, incluindo um próximo a Bezos e o CEO Bob Smith.
Apesar das acusações de que o executivo teria chamado mulheres por apelidos depreciativos como "baby doll" e "baby girl" ("boneca" e "menina" no diminutivo, em português), ele teria sido promovido.
A postagem continuava alegando que os funcionários, principalmente mulheres, foram submetidas a demandas “desumanizantes” de seu tempo e a comentários “consistentemente inadequados” de alguns membros da liderança sênior.
Humanoide : Cansou de ir ao mercado? Musk anuncia robô que fará isso por você.
Também alegou que um líder sênior não identificado “certa vez instruiu um grupo de mulheres com quem estava colaborando da seguinte maneira: 'Você deve pedir minha opinião porque eu sou um homem.'” Outro foi forçado a sair depois de “apalpar fisicamente uma subordinada”, após uma série de comportamentos inadequados, disse o post.
Ecoando preocupações anteriormente expressas sobre a equipe executiva da Amazon, o grupo acusou Bezos de criar uma equipe na Blue Origin que era “em sua maioria homens e predominantemente brancos, 100% dos técnicos seniores e líderes de programa são homens.
Blue Origin diz que não tolera assédio
"Se a cultura e o ambiente de trabalho desta empresa são um modelo para o futuro que Jeff Bezos imagina, estamos caminhando em uma direção que reflete o pior do mundo em que vivemos agora e precisamos urgentemente mudar", disse a carta.
Em email à CBS, a Blue Origin disse que não tolera assédio dentro da empresa e que investigaria as alegações.
“A Blue Origin não tolera discriminação ou assédio de qualquer tipo. Oferecemos vários caminhos para os funcionários, incluindo uma linha direta anônima 24 horas por dia, 7 dias por semana, e investigaremos imediatamente quaisquer novas alegações de má conduta ”, disse.
Pesquisador explica: O que esperar da nova era da exploração espacial?
“Mantemos nosso recorde de segurança e acreditamos que New Shepard é o veículo espacial mais seguro já projetado ou construído.”
A empresa também disse que Abrams foi “demitida por justa causa há dois anos, após repetidos avisos sobre questões envolvendo regulamentações federais de controle de exportação”, de acordo com um porta-voz.
Abrams negou essa afirmação à CBS News.
Essa disputa é a complicação mais recente da Blue Origin, que foi financiada inteiramente por Bezos, vendendo suas ações da Amazon. A empresa tem se envolvido em disputa pública com a SpaceX de Musk, já que ambos competem pelos mesmos contratos da Nasa. Até agora, a SpaceX voa na frente.