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Economia

John McAfee, criador do antivírus, promete revelar quem está por trás do bitcoin

Revelação, no entanto, fica 'no ar', já que controvérsia pode prejudicar seu próprio processo de extradição
John McAfee. criador do antivírus que leva seu nome Foto: Bloomberg
John McAfee. criador do antivírus que leva seu nome Foto: Bloomberg

PORTLAND, EUA  — John McAfee, o excêntrico criador do software antivírus que leva seu nome e conhecido por seus percalços com a lei, disse ter conversado com o criador do bitcoin, Satoshi Nakamoto, e prometeu revelar sua verdadeira identidade. Mas ele acabou recuando, e o anúncio ficou "no ar". Depois de dizer à agência de notícias Bloomberg que iria desmascarar Nakamoto "dentro de uma semana", McAfee desistiu do plano.

Nessa terça-feira,  o programador disse no Twitter que a controvérsia sobre quem é Satoshi pode prejudicar seus esforços para impedir sua possível extradição para os Estados Unidos. Ao adiar a revelação, McAfee publicou uma carta de Mario Gray, seu advogado de extradição, dizendo que expor Nakamoto poderia torná-lo alvo de ações judiciais, forçando-o a se defender "em muitas frentes".

"O pedido de extradição dos EUA para as Bahamas é iminente. Eu me encontrei com Mario Gray, meu advogado de extradição, e agora está claro (leia a carta abaixo) que liberar a identidade de Satoshi neste momento poderia influenciar o julgamento e arriscar minha extradição. Eu não posso arriscar isso. Eu vou esperar", diz a mensagem publicada pelo criador do antivírus.

"Eu falei com ele e ele não está nada feliz com minha tentativa de desmascará-lo", disse a McAfee em uma entrevista por telefone diretamente das Bahamas.

Em 2012, McAfee protagonizou fuga cinematográfica na América Central, após ter sido revelada sua vida de drogas, armas e sexo com menores de idade em Belize. Posteriormente, o empresário seria processado pela família de Gregory Faull, morto a tiros no fim de 2012 naquele país e que era vizinho de McAfee. McAfee foi acusado de ser o responsável pelo assassinato.

A criação do bitcoin é cercada de mistérios. Ele nasceu a partir de um artigo científico, publicado em 2008 na internet, que descrevia como uma criptomoeda deveria funcionar. O artigo era assinado por Satoshi Nakamoto, mas sua identidade real permanece um enigma, e tentar resolvê-lo virou obsessão na imprensa especializada. Dezenas já foram apontados como o próprio e todos negaram, entre eles Elon Musk, fundador do PayPal e da Tesla. Como inventor do protocolo, Nakamoto amealhou em sua conta na rede uma carteira de cerca de 1 milhão de bitcoins, o que faria dele uma das pessoas mais ricas do mundo. Ele jamais moveu sequer uma dessas moedas.

No entanto, nos últimos dias,  McAfee tem afirmado que Nakamoto vive nos EUA. Em tuíte publicado no dia 17, o pioneiro do antivírus disse saber quem é o verdadeiro Satoshi. Ele prometeu revelar pistas sobre sua real identidade até Satoshi venha a público. Caso Satoshi não desista do anonimato por conta própria, McAfee disse que iria desmascará-lo.

As declarações polêmicas e o comportamento errático de McAfee ofuscaram seu passado como pioneiro de software, e é difícil saber se ele realmente rastreou o verdadeiro Nakamoto, um feito que muitos outros não conseguiram.

Mas McAfee disse na entrevista que passou toda a vida perseguindo hackers,  e sua experiência o tornou uma pessoa adequada para essa tarefa:

— As pessoas esquecem que eu sou um tecnólogo. E sou um dos melhores.

História da McAfee

O empresário fundou a McAfee Associates em 1987, embora a empresa tenha passado por várias mãos. Nos últimos anos, a McAfee tem investido em moedas digitais, além de promovê-las — por uma taxa — em seu próprio feed no Twitter. Ele também está concorrendo à presidêmcia  dos EUA.

Se Nakamoto estiver de fato vivo, isso pode afetar a negociação de Bitcoin. Nakamoto - possivelmente junto com outros pioneiros da criptomoeda - acredita-se que seja um dos maiores detentores de Bitcoins. Ele pode possuir quase 1 milhão de moedas digitais, uma grande parcela se considerarmos que toda a oferta em  circulação é de cerca de 17,6 milhões de moedas. A participação valeria US$ 5,6 bilhões em valores correntes.

Como essas moedas não foram movimentadas em 10 anos, a maioria das pessoas presume que Nakamoto tenha morrido — uma teoria apoiada por um processo movido pela propriedade de um homem da Flórida que alega ter ajudado a criar o Bitcoin.

Teorias sobre Nakamoto circulam há anos. O New York Times e a New Yorker tentaram encontrar a pessoa (ou pessoas) por trás do pseudônimo. Em uma reportagem de capa de 2014, a Newsweek identificou o verdadeiro Nakamoto como um físico da Califórnia, que negou a informação. Em um post de 2016 e entrevistas com três meios de comunicação, o empresário australiano Craig Wright disse que ele é Nakamoto.

A ameaça da McAfee contra Nakamoto foi motivada, em parte, por um processo recente de difamação que Wright apresentou contra um podcaster que questionou se ele é mesmo Nakamoto. McAfee garantiu à Bloomberg que Wright não é o homem que ele encontrou e com quem falou:

—Toda a minha vida eu tenho rastreado pessoas que são as melhores do mundo, e escondendo sua identidade", disse ele na entrevista. "Encontrar Satoshi foi a cereja do bolo para mim.