Economia

Joseph Safra morre em São Paulo, aos 82 anos

Banqueiro e fundador do banco Safra morreu de causas naturais nesta quinta. Ele é apontado como o homem mais rico do Brasil pela revista Forbes
O banqueiro Joseph Safra Foto: Agência O Globo
O banqueiro Joseph Safra Foto: Agência O Globo

SÃO PAULO - O banqueiro e fundador do grupo Safra, Joseph Safra, morreu nesta quinta-feira, em São Paulo, aos 82 anos. Segundo nota do banco Safra, ele morreu de causas naturais. Neste ano, Safra superou o empresário Jorge Paulo Lemann e se tornou o homem mais rico do Brasil, segundo a revista Forbes. Lemann estava no topo do ranking desde 2013.

“Homem afável e perspicaz, dedicou sua vida à família, aos amigos, aos negócios e causas sociais. Foi um grande banqueiro, um verdadeiro empreendedor que construiu o grupo Safra no mundo, obtendo sucesso por sua seriedade e visão de negócios. Foi um grande líder e muito respeitado dentro e fora da organização", diz a nota de falecimento.

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“Seu José deixa um legado a ser seguido por muitas gerações. À família e aos amigos, Seu José deixa seus ensinamentos e grande saudade”, continua a nota.

Safra sofria do mal de Parkinson, e nos últimos anos morava na Suíça com a mulher Vicky. A família participará de uma cerimônia na sinagoga Beit Yaacov e o sepultamento ocorrerá no cemitério do Butantã às 13h desta quinta-feira.

Joseph Safra nasceu em 1938 no Líbano e imigrou para o Brasil na década de 60 para dar continuidade aos negócios de seu pai. Em 1969, casou-se com Vicky Sarfaty, com quem teve quatro filhos (Jacob, Esther, Alberto e David) e 14 netos.

Empreendedor, o banqueiro foi responsável pela construção do Grupo Safra no mundo. Hoje, está em mais de 160 cidades, em 25 países,  com 36 mil funcionários, e mais de R$ 1 trilhão sob gestão.

Tradição no mercado financeiro

A família Safra tem tradição em atuar na área financeira. Ainda no Oriente Médio, os Safra ficaram conhecidos por fazer empréstimos e troca de moedas entre comerciantes que usavam rotas entre a região e a África, Europa e Ásia.

No ano de 1800, a família fundou a Safra Frères & Cie, em Alepo, na Síria, empresa de câmbio. Jacob Safra, pai de Joseph, nasceu em Alepo, onde cresceu e acabou fazendo carreira bancária.

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Nos anos 1950, os Safra chegaram a São Paulo para fundar um banco. O período de crescimento do país no pós-guerra era um campo aberto de oportunidades.

Joseph Safra estudava na Inglaterra quando a família chegou e de lá seguiu para os Estados Unidos, onde começou a trabalhar no Bank of America.

Só na década de 1960 ele desembarcou em São Paulo e ingressou na instituição financeira de sua família. Foi em 1963 que o patriarca da família, Jacob Safra, morreu e o banco passou a ser administrado pelos filhos.

Em 1967, foi fundada a financeira Safra. Depois, compraram o Banco Nacional Transatlântico e a instituição passou a se chamar Banco de Santos.

Em seguida, foi comprado o Banco das Indústrias e, em 1972, ganhou oficialmente o nome de Banco Safra S.A.

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A sede do Safra fica num prédio localizado na Avenida Paulista, um dos metros quadrados mais caros de São Paulo. Apaixonado por arquitetura, o banqueiro acompanhou passo a passo a construção da nova sede do banco e deu vários palpites.

A estratégia da família foi sempre a de construir e manter uma instituição financeirra sólida, que trouxesse segurança aos investidores. Joseph sempre repetia que os clientes conheciam a família há anos e queriam solidez e segurança para seus investimentos.

Em 1974, foi criado o Safra Asset Management, de investimentos, e em 1987, a Safra Corretora.

No Brasil, ficaram tocando os negócios, os irmãos Joseph e Moise. Edmond, o irmão mais velho, ficou encarregado dos negócios no exterior. Ele mudou-se para os Estados Unidos, dando origem ao Trade Development Bank e o Republic National Bank of New York. Em 1974, criou o Safra National Bank of New York.

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Em 2006, Joseph comprou a parte do irmão Moise, unifiando as instituições financeiras que ambos detinham.

Joseph, além do banco Safra, também era dono do J.Safra Sarasin, banco suíço criado em 2013. Tinha negócios também em outras áreas. Era dono de 50% da Chiquita Brands International, uma das maiores produtores de banana do mundo, em parceria com José Cutrale.

No mercado imobiliário, os Safra investiram em prédios de escritórios, um deles na Madison Avenue, em Nova York, comprado por US$ 285 milhões, alem do edifício Gherkin, em Londres, adquirido por US$ 1,15 bilhão, só para citar dois exemplos.

Segundo a revista Forbes, Joseph Safra tinha um patrimônio de US$ 23,2 bilhões e era o 63º mais rico do mundo.

O Safra é o oitavo maior banco privado brasileiro, segundo o Banco Central, com R$ 205,060 bilhões em ativos.

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Fanático por futebol e amante das artes

Segundo o jornal "Valor Econômico", Joseph Safra gostava de colecionar livros raros, obras de arte, adorava arquitetura e ainda era fanático por futebol, a ponto de viajar ao exterior só para assistir a um jogo da seleção brasileira. Torcia para o Corinthians.

A familia criou o Instituto Cultural J. Safra, que nasceu da ligação com as artes, a cultura e a filantropia. Todos os anos, o Instituto publica um novo livro à série "Museus brasileiros", que foi iniciada em 1982 com a história do MASP.

Esse elo com a cultura rendeu muitos patrocínios importantes, doações de obras de arte, restuaração de cnstruções históricas.

O Instituto patrocinou a exposição Brésil Baroque, que representou nossa arte barroca em Paris, em 1999, e à mostra A Arte Desnatural do Jardim do paisagista Roberto Burle Marx no MoMa, Museu de Arte Moderna de Nova York, em 2019.

Na Pinacoteca do Estado de São Paulo, o instituto patrocinou o ciclo dos grandes escultores franceses (Auguste Rodin, Aristide Maillol e Camille Claudel), exposições que registraram longas filas de visitantes.

O Quinta Musical, um dos primeiros festivais de música clássica e aberto ao público, foi realizado toda quinta-feira no saguão do Banco Safra, na Avenida Paulista.

Na área de filantropia, o instituto matém parcerias como a Fundação Dorina Nowill Para Cegos, Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer (Graac), Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD), entre outras, tendo colaborado na construção de hospitais, entre outras ações.

O ex-ministro do Planejamento e da Fazenda Delfim Netto ressaltou que Safra teve papel fundamental na integração do Brasil ao mercado financeiro internacional.

- Estou de luto, perdi um grande amigo, e o Brasil perdeu um grande brasileiro. Poucas pessoas têm consciência do papel que Zé Safra para o desenvolvimento econômica deste país. Era extremamente inteligente e sagaz. Ajudou muito o desenvolvimento financeiro do país. E, com isso, o desenvolvimento econômico - disse Delfim.

E completou:

- De uma família centenária de banqueiros tradicionais, progressistas, era extremamente generoso e participou das atividades intelectuais mais importantes do país, de pesquisa sobre o país. Fará muita falta, sem dúvida.

Delfim Netto contou ainda suas lembranças do amigo:

- Ele ajudou muito aos ministros da Fazenda e de Planejamento nos anos 1960 e 1970 a nos integramos com o mercado internacional. Nas reuniões do FMI (Fundo Monetário Internacional) e do Banco Mundial que fazíamos em Nova York, Londres ou em Washington, ela providenciava almoços e jantares e vinham os mais importantes banqueiros do mundo e os principais presidentes de bancos centrais do mundo.

Bancos lamentam morte de Safra

Presidentes de bancos lamentaram a morte de Joseph Safra, considerado por eles um empresário das finanças que inspirava credibilidade.

O presidente da Federação Brasileira de Bancos, Isaac Sidney, lamentou a morte do banqueiro.

"É com muito pesar que recebemos a perda de Joseph Safra. Figura emblemática do setor bancário no país, descendente de banqueiros e com visão estratégica sobre o país, Joseph Safra foi também um exemplo como empresário e filantropo", disse Sidney em nota.

"Sua contribuição para escolas, museus e instituições, não só no Brasil, quanto em outros países, é marcante. O legado de sua atuação no desenvolvimento da economia nacional ficará sempre marcado na história do Brasil, país que ele adotou 58 anos atrás", complementa o presidente da Febraban.

Luiz Carlos Trabuco Cappi, presidente do conselho de administração do Bradesco, em nota, lamentou o falecimento de Joseph Safra.

"Nos causa impacto e lamento, pois Joseph Safra representa respeito, admiração e credibilidade para todos nós da Organização Bradesco. Nos solidarizamos com a família e seus milhares de colaboradores, clientes e amigos.

O ‘seu José’, como era reconhecido em nosso meio, consolidou-se em vida como um símbolo de confiança do mercado financeiro nacional" diz a nota.

Trabuco lembra que a marca Safra ganhou projeção nos principais mercados do mundo, destacando-se entre os competidores como exímio gestor do patrimônio das famílias.

No Brasil, observa, ele dividia o comando do Banco Safra com uma intensa atividade filantrópica e profundo amor pelas artes, sendo sempre um dos principais beneméritos da grande comunidade judaica em nosso país.

O presidente do Banco do Brasil, André Brandão, lamentou o falecimento do banqueiro, em nota, desejando que a família e os amigos encontrem conforto na lembrança de suas realizações.

"O sistema financeiro perde um de seus maiores inovadores, que deu grande contribuição para modernizar a indústria ao longo de sua reconhecida trajetória profissional", disse Andre Brandão.

Em nota, o presidente do Itaú, Candido Bracher, observou que Joseph Safra era um mpresário dotado de grande energia, e adotou o Brasil como pátria, construindo uma das principais instituições financeiras do país.

"Com o Grupo Safra, rompeu fronteiras e foi um dos pioneiros no mercado financeiro a se destacar internacionalmente. Aliou ao papel de grande empresário aquele de grande filantropo, compartilhando assim seu êxito com a sociedade. Em nome da comunidade Itaú Unibanco, presto condolências aos familiares e amigos de Joseph Safra.”

O presidente do Citi Brasil, Marcelo Marangon, banco que divulgou seus resultados no Brasil nesta quinta-feira, iniciou a apresentação lamentando a morte do colega:

- Iniciamos o dia com uma notícia triste. Joseph Safra foi um grande banqueiro e contribuiu para o mercado financeiro no Brasil. Foi um grande parceiro do Citi. Nossos profundos sentimentos à família e aos colaboradores dio grupo Safra - afirmou Marangon na abertura da apresentação.

Legado na comunidade judaica

Representantes da comunidade judaica também lamentaram a morte de Joseph Safra. Claudio Lottenberg, presidente da Confederação Israelita do Brasil (Conib), destaca que Joseph Safra teve papel muito relevante na vida econômica do país e "contribuiu de forma única e fundamental para as atividades e organizações da comunidade judaica brasileira e mundial".

O presidente da Multiplan, José Isaac Peres, lembrou o legado de Joseph Safra:

- Safra foi um grande empresário que ajudou a projetar o Brasil em uma posição de destaque nas estruturas econômicas mundiais. Compartilhamos o respeito pela religião e tive a honra de estar ao lado dele no apoio ao Memorial do Holocausto do Rio. Esse projeto é um dos muitos legados que ele deixa para nossa sociedade.

A Federação Israelita do Estado de São Paulo lembra em nota que Safra era grande ativista e filantropo da comunidade judaica do país.

"As tradições judaicas e o amor pelo Estado de Israel sempre o marcaram e, graças a sua generosidade, muitas entidades foram ajudadas e outras criadas por sua família", diz o texto.

A Câmara Brasil Israel de Comércio e Indústria afirma que "suas virtudes, sua bondade e sua generosidade prevalecerão eternamente", afirma em nota Renato Ochman , presidente da entidade.