Economia Coronavírus

Latam pede recuperação judicial, mas empresa que opera no Brasil fica de fora

Pedido abrange braços que atuam em EUA, Chile, Peru, Colômbia e Equador. Grupo negocia crédito com o BNDES
Avião da Latam: com queda na demanda, empresa pediu recuperação judicial Foto: Reprodução
Avião da Latam: com queda na demanda, empresa pediu recuperação judicial Foto: Reprodução

RIO - A Latam pediu recuperação judicial na madrugada desta terça-feira. O pedido inclui as empresas do grupo que operam nos EUA, Chile, Peru, Colômbia e Equador. As subsidiárias que atuam em Brasil, Argentina e Paraguai ficaram de fora. Após o anúncio, as ADRs negociadas na Bolsa de Nova York caíam quase 40%.

Até a noite desta segunda-feira, executivos da companhia sinalizavam a integrantes do governo brasileiro que haveria a possibilidade de o pedido ser estendido ao Brasil , mas isso não aconteceu.

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De acordo com o presidente do grupo Latam, a empresa tem dívida de cerca de US$ 10 bilhões. Se a recuperação judicial for aceita, a empresa deixará de pagar seus credores por um período, com objetivo de reestruturar os débitos.

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A companhia, que é a maior aérea da América Latina, continuará voando em todos os países em que atua, inclusive naqueles onde o pedido foi protocolado na Justiça. Segundo a empresa, "todas as passagens atuais e futuras, vouchers de viagem, pontos e benefícios do programa LATAM Pass, bem como políticas de flexibilidade, serão respeitados".

A companhia disse ainda que, em paralelo ao pedido de recuperação judicial, obteve aval de dois de seus principais acionistas, a família Cueto e a Qatar Airways, para obtenção de um empréstimo de até US$ 900 milhões. O valor pode chegar a US$ 1,3 bilhão.

No Brasil, a empresa negocia crédito do BNDES. Há cerca de dez dias, Latam e as concorrentes Azul e Gol aderiram ao socorro do banco oferecido ao setor aéreo, pelo qual cada empresa teria acesso a uma ajuda de R$ 2 bilhões.

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Alvo disse em teleconferência com analistas que a empresa continuará a negociar com o BNDES .

Uma das condições é que o dinheiro seja usado em operações no Brasil. Além disso, não pode ser empregado no pagamento de credores financeiros, como detentores de títulos de dívidas ou arrendadores de aeronaves.

Em nota, o grupo disse que "está em discussão com o governo brasileiro sobre próximos passos e suporte financeiro às operações brasileiras".

Queda na demanda com pandemia

O grupo decidiu recorrer à Justiça para pedir proteção contra credores porque, com a pandemia do coronavírus, houve uma queda drástica na demanda, levando-a a rever planos de expansão.

Em 2019, o grupo lançou 26 novas rotas e transportou um recorde de 74 milhões de passageiros, 5,4 milhões a mais que em 2018.

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Nos últimos dias, no entanto, a empresa cortou mais de 1.850 empregos em Chile, Colômbia, Equador e Peru. A companhia tinha aproximadamente 40 mil funcionários em todos os países onde atua.

"Estamos mirando adiante, para um futuro pós-Covid, focados em transformar nosso negócio para que ele se adapte a uma nova e evolutiva maneira de voar", disse Roberto Alvo, presidente-executivo do grupo Latam, em nota.

Companhias aéreas ao redor do mundo vem enfrentando dificuldades com as restrições a viagens devido ao coronavírus. Há cerca de duas semanas, a colombiana Avianca Holding também pediu recuperação judicial.

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Nesta segunda-feira, foi aprovado socorro de US$ 9,8 bilhões a Lufthansa. A ajuda inclui a compra de 20% da companhia pelo governo.

Em entrevista recente ao GLOBO , o presidente da Latam, Jerome Cadier, defendeu atuação rápida do governo e disse que, sem ajuda, o setor aéreo não sobrevive. Mesmo em 2021, previa uma queda da demanda de 30% a 40%.

Fitch rebaixou nota da Latam

As aéreas brasileiras tentaram convencer o Cade a aceitar uma espécie de "cartel da crise", com compartilhamento de voos e vendas de bilhetes, mas o órgão antitruste não liberou a estratégia.

Na semana passada, a agência Fitch rebaixou a nota de crédito da Latam de B- para CC, de grau especulativo. No ano passado, 68% das receitas da Latam no Brasil vieram de voos internacionais, os mais afetados pela pandemia. Na Azul, essa fatia é de 22%, e na Gol, de 12%.

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Segundo fontes, nos últimos dias a Latam teria iniciado conversas com escritórios especializados em reestruturação.Alguns dos fatores citados no mercado que pesam sobre as operações da companhia são a incerteza quanto à retomada do setor e o impacto das mudanças em decorrência da pandemia.

No processo de recuperação, a Latam é assessorada pelos escritórios Cleary Gottlieb Steen & Hamilton LLP e Claro & Cia. Conta ainda com assessoria financeira da FTI Consulting e da PJT Partners.

Segundo fontes, a PJT Partners teria sido contratada para fazer a negociação com detentores de títulos emitidos pela empresa. Ela é especializada nesse tipo de operação e foi contratada pela Oi, em 2016.