Economia

Livraria Cultura entra com pedido de recuperação judicial

Empresa informou que decisão faz parte do processo de reestruturação da rede

Livraria Cultura fechada no Rio de Janeiro
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Guito Moreto
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Agência O Globo
Livraria Cultura fechada no Rio de Janeiro Foto: Guito Moreto / Agência O Globo

SÃO PAULO - Diante de uma crise no mercado editorial, a Livraria Cultura entrou com pedido de recuperação judicial nesta quarta-feira na 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo. A informação foi antecipada pelo colunista do GLOBO, Lauro Jardim. Em nota, a empresa informa que após iniciar, há três meses, um duro programa de ajustes, com fechamento de lojas de baixo resultado, demissão de funcionários e corte de despesas, optou também pela recuperação judicial.

"As incertezas do cenário econômico brasileiro e, dentro dela, a crise do mercado editorial, que encolheu 40% desde 2014, fez com que a Livraria Cultura passasse a enfrentar dificuldades, também. Infelizmente, após quatro anos de recessão, o cenário geral no país não apresenta sinais claros de melhoria", diz a nota.

A empresa não informou o total das dívidas envolvidas na recuperação judicial. Com a decisão, a Cultura espera normalizar seus pagamentos com fornecedores, preservando a saúde da empresa criada em 1947, com a manutenção de empregos.

Dados do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) mostram que as três grandes redes de livrarias — Saraiva, Fnac e Cultura — têm quase 1.300 títulos protestados, que somam R$ 38 milhões de pagamentos em atraso, segundo reportagem da revista Época. A Saraiva tem a maior dívida: são 312 protestos, que chegam a R$ 28 milhões. A Fnac tem 310 títulos protestados, que representam débito de R$ 8 milhões. A Cultura soma 634 títulos protestados, num total de R$ 2 milhões.

A economia fraca, descontos altos para fisgar o consumidor, altos custos para manutenção das lojas e desinteresse pela leitura são alguns dos motivos que explicam a situação delicada das redes de livrarias. A chegada da Amazon ao Brasil, em 2014, trouxe outra dinâmica para o segmento de livros: vendas on-line e preços mais baixos.

A situação de caixa é tão complicada que a Cultura e sua concorrente Saraiva, por exemplo, não podem mais vender e-books da Bookwire, principal distribuidora no Brasil, porque não pagam pelo catálogo desde janeiro. A Mythos, editora especializada em histórias em quadrinhos, também suspendeu o fornecimento para as duas varejistas. Mesmo com grande participação de mercado, elas vêm suspendendo pagamentos e renegociando prazos junto aos fornecedores.

Para Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo, as livrarias precisam reinventar seu modelo de negócio. Um das alternativas é trazer mais oferta de alimentação, serviços e eventos, já que as margens com venda de livros são baixas.

— O custo imobiliário de uma livraria é alto e pressiona ainda as margens. Todas as livrarias estão, primeiro, tentando sobreviver e depois se reiventar - diz ele.

MARCA FNAC DEIXA O BRASIL

Pouco mais de um ano depois de receber R$ 130 milhões para ficar com a Fnac no Brasil, a Cultura fechou as 11 lojas da rede francesa no país. A última, localizada em Goiânia, foi fechada na semana passada . Além disso, o site da Fnac, onde eram realizadas as vendas via e-commerce, também foi tirado do ar. O visitante agora é direcionado para o site da Livraria Cultura.

De acordo com a assessoria de imprensa da Cultura, no lugar da loja da Fnac fechada em Goiânia será aberta uma unidade da própria Livraria Cultura, no primeiro semestre de 2019. Em nota, a Cultura justifica que num mundo cada vez mais conectado, onde os consumidores podem pedir qualquer produto pelo e-commerce, as lojas físicas tornaram-se pontos de lazer e entretenimento.

“Esta inauguração reforça o nosso propósito de investir, cada vez mais, em lojas que ofereçam grandes experiências focalizando continuamente a melhoria dos serviços aos clientes”, disse a marca em comunicado.

Um mês antes, a Fnac localizada na Avenida Paulista, em São Paulo já tinha fechado as portas e a Cultura justificou a decisão dizendo que estava “seguindo rigorosamente o plano estratégico que traçou para os próximos anos: manter unidades com boa performance, qualificar a experiência do cliente em loja e crescer significativamente no e-commerce”.

A Cultura conta com 16 lojas em Brasília, Campinas, Curitiba, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Ribeirão Preto, Salvador e São Paulo. No início de outubro, a rede fechou a única loja física que ficava no centro do Rio de Janeiro. De acordo com comunicado emitido pela empresa, este movimento segue o plano estratégico traçado para os próximos anos de manter unidades com alta performance, enriquecer a experiência do cliente em loja e investir no e-commerce.