Economia

Livraria Cultura ganha fôlego com aprovação de novo plano de recuperação judicial

Tribunal de Justiça de São Paulo entendeu que dois credores erraram o voto em assembleia digital; plano novo prevê descontos de até 80% das dívidas
Unidade da Cultura no Conjunto Nacional, em São Paulo Foto: Agência O Globo
Unidade da Cultura no Conjunto Nacional, em São Paulo Foto: Agência O Globo

SÃO PAULO — A Livraria Cultura conseguiu impedir sua falência na Justiça. Isso porque o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) homologou nesta quarta-feira o pedido de aprovação do aditivo ao plano de recuperação judicial feito pela empresa.

Na prática, o TJ-SP aprovou a proposta para um novo plano formulada pela empresa, que havia sido formalmente rejeitada por apertada margem em assembleia geral de credores em setembro de 2020.

Crise na moda: Le Postiche, Cavalera, TNG e ao menos mais 10 varejistas pedem recuperação judicial

Os desembargadores acolheram os argumentos da Cultura e dos credores Estação liberdade e JBQ, que afirmaram no processo terem se confundido ao votar contra o plano de recuperação.

Dívida de R$ 285 milhões

Com isso, a rede de livrarias evitou que fosse decretada a sua falência e ganha tempo para cumprir o novo plano, que aumenta os deságios que os credores terão no pagamento de seus créditos. Em algumas categorias, o corte chega a 80% do valor de face das dívidas.

Saiba mais: Livraria Cultura ganha fôlego na Justiça e fica por ora protegida de falência

— O plano (novo) produz efeitos a partir de agora. O desenlace desse caso encerra um capítulo de indefinições importantes. A empresa estava sofrendo uma ameaça de quebra porque reconhecidamente não tinha condições de cumprir o plano de recuperação anterior à pandemia — diz Fabiana Solano, do escritório Felsberg, advogada da Cultura no processo.

Segundo ela, agora a empresa vai poder buscar, com mais facilidade, acesso a novos financiamentos.

Crise na pandemia: Em situação crítica, Cultura não consegue pagar credores mesmo após pedir recuperação judicial

A proposta foi a terceira apresentada pela Cultura desde o seu pedido de recuperação judicial, em 2018. O documento foi submetido a uma assembleia de credores realizada digitalmente no dia 14 de setembro.

A livraria, que tem dívidas de aproximadamente R$ 285 milhões, argumentava a necessidade de rever obrigações previstas no plano de recuperação devido ao impacto negativo da pandemia do coronavírus em suas operações.

Atualmente apenas 7 livrarias abertas

A Cultura, que teve a crise em seu negócio baseado em pontos de venda físicos aprofundada pela pandemia, fechou em fevereiro suas lojas nos shoppings Bourbon e Villa-Lobos, em São Paulo, e sua única unidade em Curitiba.

Fortuna : Conheça Vicky, a discreta viúva de Joseph Safra, guardiã de um império bancário global

Hoje, das 13 livrarias que tinha em 2020, o site da Cultura diz que apenas 7 estão em pleno funcionamento.

Reviravolta judicial

No dia, após 10h30 de duração, a assembleia terminou com a reprovação da proposta por uma margem apertada e apenas entre pequenas e médias empresas: dos 45 votantes, 24 (53,3%) dos pequenos credores votaram contra a nova oferta da Cultura.

A empresa recorreu à Justiça sob o argumento de que dois dos credores que votaram pela rejeição — Estação Liberdade e JBQ Consultoria — manifestaram posteriormente que erraram na hora do voto eletrônico.

Queda de braço: Subsídio a painel de energia solar está na mira do Congresso e abre disputa no setor

O juiz do processo, Marcelo Sacramone, no entanto, entendeu que as empresas não poderiam ter pedido mudança de voto depois que o cômputo já tivesse feito, como também entendeu a administradora judicial do caso, a consultoria Alarez&Marsal.

No caso da JBQ, que apresentou o pedido depois do fim da assembleia, ele afirmou que a empresa não apresentou qualquer manifestação de que teria errado o voto durante a reunião de credores.

O magistrado deu à época cinco dias úteis para que a Cultura provasse estar em dia com o cumprimento de seu plano de recuperação judicial vigente, o que na prática era um ultimato que poderia levar a empresa à falência.

No dia 25 de setembro, porém, a Cultura obteve na segunda instância uma liminar (decisão provisória) que suspendia temporariamente a decretação de falência da companhia até que o Tribunal de Justiça de São Paulo julgasse o recurso da empresa que tentava aprovar o novo plano.

Nesta quarta-feira, os desembargadores Cesar Ciampolini e Alexandre Lazzarini e José Franco de Godoi acataram ao pedido da Cultura para homologar o novo plano.

Em seu voto, o magistrado Godoi, relator do recurso, cita os argumentos da defesa da Cultura de que dois credores haviam errado o voto e que "não se trata o presente caso de arrependimento do voto, mas de equívoco no seu lançamento em razão do sistema virtual adotado pela assembleia geral dos credores".

A Cultura dizia ainda que "não há regulamentação específica para assembleias realizadas em plataforma digital (modalidade que passou a ser realizada em meio à pandemia)".