Economia Macroeconomia

Prévia da inflação avança 1,73% em abril, maior taxa para o mês desde 1995

Resultado foi puxado pelo aumento nos preços dos combustíveis. Em 12 meses, IPCA-15 acumula alta de 12,03%
Aumento no preço dos combustíveis pressiona inflação Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo
Aumento no preço dos combustíveis pressiona inflação Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo

RIO - Puxada pelo aumento nos preços dos combustíveis e alimentos, a prévia da inflação oficial, medida pelo IPCA-15, acelerou para 1,73%, acima da taxa de março (0,95%). É a maior alta desde fevereiro de 2003 (2,19%) e a maior para um mês de abril desde 1995, quando o índice foi de 1,95%.

Com o resultado, o IPCA-15 acumula alta de 4,31% no ano. Em 12 meses, chegou a 12,03%, a maior taxa desde novembro de 2003, quando foi 12,69%.

As variações, ainda que elevadas, vieram abaixo das estimativas do mercado. Analistas projetavam alta de 1,85% no mês e 12,16% em 12 meses, segundo mediana da Reuters.

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Os dados são do IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) e foram divulgados pelo IBGE nesta quarta-feira. O indicador teve as informações coletadas entre o dia 17 de março até o dial 13 de abril.

O resultado indica uma aceleração em relação ao índice de março e ao IPCA fechado do mês passado, quando a inflação ficou em 1,62% no mês. Aponta também para uma alta disseminada dos preços: oito dos nove grupos subiram em abril, sendo a exceção observada no grupo Comunicação (-0,05%).

Alta dos combustíveis pressiona indicador

Os reajustes concedidos pela Petrobras nas refinarias no dia 11 de março - com altas de 18,8% no preço da gasolina, de 24,9% sobre o preço do óleo diesel e de 16% no preço do GLP, o gás de cozinha, têm pressionado os preços na ponta e, consequentemente, puxado o indicador de inflação para cima.

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O grupo Transportes subiu 3,43%, puxado principalmente pelo aumento no preço da gasolina. O combustível subiu 7,51% no mês, sendo responsável por 0,48 ponto percentual do índice do mês. Também subiram os preços do óleo diesel (13,11%), do etanol (6,60%) e do gás veicular (2,28%).

Segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o preço da gasolina subiu pela segunda semana seguida, ficando em R$ 7,270 na semana entre os dias 17 e 23 de abril. É o maior valor nominal pago pelos consumidores desde 2004, quando a ANP iniciou o levantamento semanal de preços.

O aumento nos preços dos combustíveis também exerce uma pressão indireta sobre outros preços direcionados ao consumidor.

As passagens aéreas subiram 9,43% em abril, enquanto os preços do seguro voluntário de veículo avançaram 3,03%, acumulando alta de 23,46% nos últimos 12 meses. Também foram registradas altas em abril nos preços dos táxis (4,36%), nas passagens de metrô (1,66%) e ônibus urbanos (0,75%).

Tomate sobe 26,17% no mês

O avanço dos preços em uma série de alimentos consumidos no dia a dia também segue pesando no bolso das famílias. A alimentação no domicílio subiu 3% em abril, puxada pela alta de 26,17% do tomate e de 12,21% do leite longa vida. Ambos contribuíram com 0,16 ponto percentual no resultado do IPCA-15.

Tomate a R$ 15,99 em feira livre na Praça General Osório, em Ipanema Foto: Guito Moreto/Agência O Globo
Tomate a R$ 15,99 em feira livre na Praça General Osório, em Ipanema Foto: Guito Moreto/Agência O Globo

Também tiveram altas expressivas a cenoura (15,02%), o óleo de soja (11,47%), a batata-inglesa (9,86%) e o pão francês (4,36%).

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Já a alimentação fora do domicílio desacelerou em relação a março. Enquanto a refeição passou de 0,25% em março para 0,45% em abril, o lanche seguiu movimento inverso, passando de 0,92% para 0,07%.

No grupo Habitação, pesou a alta do gás de cozinha, que subiu 8,09%. A segunda maior contribuição veio da energia elétrica,  (1,92%), com os reajustes de mais de 15% em concessionárias no estado do Rio. Os preços do gás encanado também subiram no índice, com avanço de 3,31%.

No segmento Vestuário, todos os itens registraram alta, levando os preços do grupo a avançarem 1,97% no mês. A maior contribuição veio das roupas femininas, com alta de 2,70%.

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Já o grupo Saúde e cuidados pessoais, embora tenha apresentado alta, desacelerou em relação a março por conta dos itens de higiene pessoal (-0,87%), que haviam subido 3,98% em março. Os produtos farmacêuticos, porém, subiram 3,37%, depois da autorização do reajuste de até 10,89% no preço dos medicamentos a partir de 1º de abril.

Os demais grupos, Educação e Artigos de residência, tiveram altas de 0,05% e 0,94%, respectivamente.

Perspectivas

O cenário de inflação persistente e disseminada já deflagrado na divulgação do IPCA do mês de março levou analistas a projetaram uma inflação mais próxima de 8% e um ciclo de alta dos juros mais longo , com a taxa básica de juros (Selic) chegando a 13,5%.Atualmente, a taxa está em 11,75% ao ano.

Segundo boletim Focus, que reúne as projeções de mercado, as expectativas de inflação subiram de 6,86% neste ano, no relatório divulgado em 28 de março, para 7,65% nesta semana. A expectativa, assim, é que a inflação encerre 2022 acima do dobro da meta oficial da inflação para o ano, de 3,5%.

Caso seja confirmado, 2022 será o segundo ano seguido em que o Banco Central não consegue cumprir a meta de inflação.