Economia Macroeconomia

Desemprego cai para 11,2% em janeiro, menor taxa para o mês, mas renda despenca quase 10% em um ano

Comércio puxa alta de emprego, mas ainda há 12 milhões de pessoas em busca de uma vaga
Mutirão de emprego em Carapicuiba, cidade da Grande São Paulo, leva centenas de pessoas a aguardarem, desde a madrugada, por uma oportunidade de trabalho dentre as 500 vagas oferecidas Foto: Aloisio Mauricio / Agência O Globo
Mutirão de emprego em Carapicuiba, cidade da Grande São Paulo, leva centenas de pessoas a aguardarem, desde a madrugada, por uma oportunidade de trabalho dentre as 500 vagas oferecidas Foto: Aloisio Mauricio / Agência O Globo

RIO - Influenciada pelo avanço do emprego formal, a taxa de desemprego no Brasil caiu para 11,2% no trimestre encerrado em janeiro de 2022, totalizando 12 milhões de desempregados. É a menor taxa para o período desde 2016. No entanto, em um ano, a renda do trabalhador despencou 9,7%, para R$ 2.489.

Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) e foram divulgados nesta sexta-feira pelo IBGE.

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O resultado do trimestre móvel aponta para uma melhora em relação ao contingente de desempregados. Em 2020, quando a Covid forçou o fechamento do comércio e serviços, além de paralisação de fábricas, a taxa de desemprego chegou a 13,8% na média anual.

Em 2021, o índice encerrou em 13,2%. O país fechou o ano com 13,9 milhões de pessoas na fila por um emprego, contingente que ficou estável frente ao ano anterior. Em janeiro, o número de desempregados caiu para 12 milhões.

Bares e restaurantes abrem vagas

Cerca de 1,4 milhão de pessoas ingressaram no mercado de trabalho entre novembro e janeiro. Deste total, 1,1 milhão (ou 79%) encontraram ocupações formais de trabalho - o que inclui o empregado com carteira no setor privado, empregado no setor público, empregado com CNPJ e o trabalhador por conta própria com CNPJ.

A coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE, Adriana Beringuy, explica que a expansão do mercado de trabalho oriunda da ocupação formal é um movimento distinto frente ao observado nos meses anteriores, quando mais pessoas encontravam oportunidades na informalidade em meio à pandemia.

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A abertura de vagas se deu em vários setores. Desde o comércio, passando pela indústria e pela construção, até o setor de serviços prestados às famílias e às empresas.

Em alojamento e alimentação - que reúne hotéis, bares e restaurantes, fortemente afetado pela pandemia -, houve a ocupação subiu 27,1% em um ano, o equivalente a mais 1,1 milhão de pessoas no período. O número de trabalhadores domésticos também cresceu: foi de 5,6 milhões de pessoas – estável frente o trimestre anterior, mas saltou 19,9% (mais 931 mil pessoas) na comparação com um ano atrás.

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Apesar dos sinais de melhora, os números de expansão do emprego formal devem ser analisados com cautela, ressalta a pesquisadora do IBGE. Embora o contingente de trabalhadores por conta própria tenha ficado estável na comparação trimestral, no ano subiu 10,3% e chegou a 25,6 milhões de pessoas, lembra ela:

— A presença de trabalhadores informais é muito grande na população ocupada do país. Só o contingente do empregado sem carteira no setor privado chegou a 12,4 milhões em 2022, ante 9,1 milhões em 2020 — diz Adriana Beringuy.

Queda na renda

A pesquisa também mostrou que a renda do trabalhador segue em queda: caiu 1,1% em relação ao último trimestre e despencou 9,7% em um ano frente ao mesmo trimestre de 2021, ficando em R$ 2.489 de média.

É o menor rendimento médio da série de trimestres comparáveis. A mínima da série, iniciada em 2012, foi observada no trimestre encerrado em dezembro (R$ 2.465).

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Adriana Beringuy explica que a queda no rendimento foi menor do que a ocorrida no trimestre passado - quando recuou 4,5% - e que isso pode estar associado ao aumento do emprego com carteira no setor privado, que costumam ter melhores rendimentos.

— Sabemos que tem o peso da inflação, que corrói renda. Mas se desconsiderarmos a inflação, esse trimestre foi o primeiro desde o trimestre móvel encerrado em maio de 2021 em que o rendimento nominal teve expansão, ao crescer 1,7% frente o trimestre anterior. Essa expansão veio justamente do fluxo maior dos trabalhadores com carteira.

Apesar da ligeira melhora no rendimento nominal, a pesquisa do IBGE ainda não captou o reajuste dos combustíveis e as pressões sobre os preços dos alimentos em razão da guerra na Ucrânia. Assim, é esperado que a renda do trabalhador continue em queda:

— Já  observávamos uma trajetória de queda na renda, e essa pressão adicional sobre o preço do petróleo mantém a inflação elevada por mais tempo e impede uma reversão dessa trajetória no curto prazo. Talvez a gente observe uma melhoria [na renda] no final de 2022, com risco de ser apenas em 2023 — avalia Rodolfo Margato, economista da XP.

Economistas destacam que a recuperação do mercado de trabalho deve perder força em 2022 diante da inflação persistente, juros altos, perspectiva de baixo crescimento da economia, além de impactos na economia global da guerra na Ucrânia.

Melhora lenta do emprego

Margato, economista da XP, prevê que a taxa de desemprego continue em queda até o final do primeiro semestre, dado que o mercado de trabalho reage de forma defasada com relação à atividade econômica. A partir do segundo semestre, porém, a reação perde força e a perspectiva é de estagnação.

— Já percebemos sinais de perda de velocidade dessa recuperação do nível de emprego em janeiro, então há uma melhoria gradual que deve perder tração ao longo de 2022 e o mercado deve andar de lado. A taxa de desemprego deve atingir 11% no final do ano e 10,8% em 2023, e só tem potencial para romper a barreira dos 10% no final de 2023 ou começo de 2024.

Claudia Moreno, economista do C6 Bank, tem avaliação parecida. Ela também prevê que a taxa de desemprego caia durante o primeiro semestre, mas passa a projetar aumento do indicador no segundo semestre.

— A taxa de juros já está num patamar contracionista e com impactos na atividade. E já vemos alguma desaceleração da atividade na margem, e isso vai começar a bater na taxa de desemprego depois. Com ajuste sazonal, a taxa de desemprego hoje está em 11,6% e cai para a 11,5% em junho de 2022. A partir do segundo semestre, ela volta a subir e termina o ano em 11,8%.

Na semana passada, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostrou a criação de 155,2 mil vagas de trabalho com carteira assinada , uma desaceleração em janeiro comparada com o registrado no mesmo mês do ano passado, quando 254,3 mil vagas foram criadas.

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O Indicador Antecedente de Emprego (IAEmp) do Ibre, da FGV, cedeu 1,4 ponto em fevereiro, para 75,1 pontos. É a quarta queda seguida, levando o índice ao menor nível desde agosto de 2020 (74,8 pontos).

“Os últimos resultados sugerem que a recuperação do mercado de trabalho deve ser mais lenta do que a ocorrida em 2021. O ambiente macroeconômico difícil e potenciais riscos de aumento da incerteza global, não permitem vislumbrar uma mudança na trajetória do indicador no curto prazo”, afirmou Rodolpho Tobler, economista do FGV IBRE, em comentário.

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Alberto Ramos, diretor de macroeconomia do Goldman Sachs para a América Latina, sinalizou que o mercado de trabalho deve permanecer fraco por um tempo. Ele cita a expectativa de baixo crescimento da atividade em 2022, o que dificulta a criação de novas vagas, e os mais de 27,8 milhões de trabalhadores que seguem subutilizados.

"A taxa de desemprego provavelmente permanecerá em dois dígitos por um longo período", pontua, em relatório.