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IPCA já sobe 4,29% desde o início do ano, acima da meta de inflação de 2022

Em abril, índice ficou em 1,06%, a maior alta para o mês desde 1996. Objetivo definido pelo governo era inflação de 3,5% este ano
Preços dos alimentos não param de subir Foto: Maria Isabel Oliveira / Agência O Globo
Preços dos alimentos não param de subir Foto: Maria Isabel Oliveira / Agência O Globo

RIO - Puxado pelos preços dos alimentos e combustíveis, a inflação avançou 1,06% na passagem de março para abril, segundo dados do IPCA divulgados pelo IBGE nesta quarta-feira. Em apenas quatro meses, o índice já atingiu 4,29%, superando o centro da meta da inflação (3,50%) estabelecida para o ano.

É a maior alta para um mês de abril desde 1996 (1,26%). O resultado indica uma ligeira desaceleração em relação ao índice de março, quando a inflação subiu 1,62% no mês. Ainda assim, os preços seguem pressionados ao consumidor.

Em 12 meses, o índice chegou a 12,13%. É o maior acumulado desde outubro de 2003, quando atingiu 13,98%.

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Economistas ouvidos pela Reuters esperavam alta de 1% e 12,07% em 12 meses.

Os dados apontam para uma inflação não apenas persistente, já que a inflação vem acelerando em 12 meses, mas também indica uma alta de preços generalizada.

O índice de difusão, que mostra o porcentual de itens com aumentos de preços, subiu para 78,25%. É o maior índice desde janeiro de 2003, quando foi de 85,94%.

Pressão para o Banco Central

Para analistas econômicos, o resultado do IPCA acima do esperado adiciona mais pressão sobre o Banco Central, que deve seguir com o ciclo de alta dos juros, podendo levar a Selic até 14% ao ano. Atualmente, a Selic está em 12,75% e deve chegar a 13,25% nas próximas reuniões, o que já é considerado um patamar bastante contracionista para a economia.

O Credit Suisse, que ontem revisou sua projeção de inflação do IPCA para 9,7% em 2022 e 5,1% em 2023 - com a perspectiva de novos aumentos nos preços dos alimentos, combustíveis e bens industriais -, reforçou nesta quarta-feira que espera que o Banco Central leve a taxa básica de juros em 0,75 ponto em junho e 0,50 ponto em agosto, chegando a 14,0%.

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Já a MB Associados revisou o IPCA deste ano de 7,8% para 8,7%. Sergio Vale, economista-chefe da consultoria, lembra que o BC fica atento ao nível de disseminação da alta dos preços ao consumidor, e estes correm o risco de continuarem pressionados diante da alta das commodities agrícolas e da alta do dólar. Ele prevê a taxa Selic chegando a 13,75% a fim de que o Banco Central consiga conter as expectativas de inflação de 2023. Mas não descarta uma elevação de 14% ou mais:

– O BC cada vez mais está lidando com a inflação de forma isolada porque a política fiscal não ajuda e o cenário internacional não ajuda, junto com a taxa de câmbio. É um cenário adverso e difícil para controlar a inflação. O BC não tem muita alternativa. Provavelmente ele vai ter que subir mais um pouco, não dá pra descartar [que chegue a 14%] – diz Vale, que prevê IPCA de 2023 em 4,5%, ante estimativa de 4,2%.

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O Banco Original revisou o IPCA de 2022 de 7,7% para 9%. Marco Caruso, economista-chefe do banco, destaca que a inflação corrente elevada leva a desancoragem das expectativas, o que pode ensejar mais juros, embora o BC esteja sendo cauteloso na condução da política monetária, diz Caruso:

– Como o BC já entregou um ciclo alto e esse ciclo vai começar a surtir efeito na inflação no segundo semestre, faria sentido ele ir até 13,25% e parar para olhar, esperando que venha uma desinflação a partir do segundo semestre. Se isso acontecer, esperamos que a taxa de juros tenha que ficar nesse patamar por pelo menos um ano se não a desinflação não vai acontecer – explica Caruso, que projeta um IPCA de 4,7% para 2023, acima do centro da meta de inflação, e a Selic chegando a pelo menos 13,25%.

Alimentos e combustíveis, os vilões da inflação

Considerados os vilões da inflação desde o ano passado, os alimentos e combustíveis seguem pressionando o indicador. Os principais impactos no mês de abril vieram do grupo Aimentação e bebidas, que subiram 2,06%, e dos Transportes, cujos preços avançaram 1,91% no mês. Juntos, os dois grupos contribuíram com cerca de 80% do IPCA de abril.

— Em alimentos e bebidas, a alta foi puxada pela elevação dos preços dos alimentos para consumo no domicílio (2,59%). Houve alta de mais de 10% no leite longa vida), e em componentes importantes da cesta do consumidor como a batata-inglesa (18,28%), o tomate (10,18%), o óleo de soja (8,24%), o pão francês (4,52%) e as carnes (1,02%) — elenca o analista da pesquisa, André Almeida.

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No caso dos transportes, a alta foi puxada pelo aumento nos preços dos combustíveis, que subiram 3,20%. O destaque foi a gasolina, que subiu 2,48% em abril e sozinha contribuiu com 0,17 ponto percentual no índice do mês.

Os reajustes concedidos pela Petrobras nas refinarias no dia 11 de março - com altas de 18,8% no preço da gasolina, de 24,9% sobre o preço do óleo diesel e de 16% no preço do GLP, o gás de cozinha, têm pressionado os preços na ponta, e parte desse aumento foi repassado também em abril.

— A gasolina é o subitem com maior peso no IPCA, mas os outros combustíveis também subiram. O etanol subiu 8,44%, o óleo diesel, 4,74% e a ainda houve uma alta de 0,24% no gás veicular — acrescenta Almeida.

O anúncio na última segunda-feira de mais um reajuste do diesel deve pressionar ainda mais a inflação, segundo economistas. Isso porque o combustível é usado no frete, e pode afetar do preço dos alimentos ao transporte público. Em 12 meses, o diesel acumula alta de 53,58%.

Medicamentos mais caros

Houve ainda aceleração nos preços grupos "Saúde e cuidados pessoais" e "Artigos de residência", com altas de 1,77% e 1,53%, respectivamente.

Com contribuição de 0,19 p.p. no índice geral, os preços dos produtos farmacêuticos subiram 6,13%, em razão do reajuste de até 10,89% no preço dos medicamentos, autorizado no dia 1º de abril.

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Também houve alta nos produtos de higiene pessoal, avançaram 0,85%. O plano de saúde (-0,69%) segue com variação negativa, refletindo o reajuste negativo de -8,19% aplicado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) no ano passado.

O único grupo a apesentar queda no IPCA de abril foi Habitação, que retraiu 1,14% devido à queda nos preços da energia elétrica (-6,27%), já que a partir de 16 de abril saiu a bandeira de escassez hídrica - que acrescentava R$14,20 a cada 100Kwh consumidos -, e entrou a bandeira verde, em que não há cobrança extra na conta de luz.

Por outro lado, foram registradas altas de 3,32% no gás de botijão e de 1,38% no gás encanado. No Rio, houve reajuste tarifário de 7,72% sobre o preço do gás encanado.

Já os grupos de Educação e Vestuário variaram 0,06% e 1,26%, respectivamente.

Perspectivas

Economistas esperam que a inflação acumulada em 12 meses atinja um pico no mês de abril, até que comece a arrefecer de forma lenta e saia do patamar dos dois dígitos entre agosto e setembro.

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Na semana passada, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) elevou a taxa básica de juros para 12,75% ao ano, com o discurso, divulgado na ata na última segunda-feira, de que a estratégia adotada é adequada para garantir a convergência da inflação para a meta em 2023.

O BC também sinalizou que a nova onda de Covid-19 na China e os efeitos da guerra na Ucrânia para a oferta de produtos no mercado vão pressionar os preços globalmente.

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A expectativa é que a inflação encerre 2022 acima do dobro da meta oficial da inflação para o ano, de 3,5%. Caso seja confirmado, 2022 será o segundo ano seguido em que o Banco Central não consegue cumprir a meta de inflação.