Economia

Mais de 80% dos projetos de energia no Brasil já são renováveis. Desafio é manter abastecimento estável

Apesar de os sistemas de geração estarem mais baratos e eficientes, país precisa conter um dos principais limitadores de fontes de energia limpa: a intermitência
Aerogeradores produzem energia elétrica nas dunas de Beberibe, no Ceará, no parque eólico implantado pelo grupo GDF Suez: intermitência é ainda um limitador de fontes limpas Foto: Adriano Machado / Bloomberg
Aerogeradores produzem energia elétrica nas dunas de Beberibe, no Ceará, no parque eólico implantado pelo grupo GDF Suez: intermitência é ainda um limitador de fontes limpas Foto: Adriano Machado / Bloomberg

Avanços na tecnologia e alterações no planejamento do setor elétrico podem dar maior eficiência a fontes renováveis de energia, avaliam especialistas. O uso de sistemas de baterias permite, por exemplo, armazenar o excedente de energia solar e eólica produzido em momentos de pico do aproveitamento da luz do sol e dos ventos. Os sistemas de geração também estão mais eficientes e baratos permitindo melhor aproveitamento da capacidade das usinas.

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Essa evolução pode amenizar um dos principais limitadores de fontes de energia limpa: a intermitência. Operadores do sistema não conseguem designar exatamente quando usinas eólicas ou solares podem ser acionadas, porque dependem de fatores da natureza. Mesmo as hidrelétricas, que contam com grandes reservatórios de água para regular sua produção, têm sofrido com o baixo volume de chuvas do último verão.

Quando fatores imprevisíveis impedem que essas fontes entreguem a energia necessária para o abastecimento do sistema elétrico, são acionadas usinas termelétricas, poluentes e mais caras.

O aprimoramento de tecnologias de geração de energia eólica ampliou o investimento no segmento. Cerca de 15 mil empregos são gerados a cada 1 GW instalado Foto: Norm Betts / Bloomberg
O aprimoramento de tecnologias de geração de energia eólica ampliou o investimento no segmento. Cerca de 15 mil empregos são gerados a cada 1 GW instalado Foto: Norm Betts / Bloomberg

Essa espécie de seguro se reflete nas emissões de carbono e no preço mais alto das contas de luz. Por isso, especialistas ressaltam que o desafio brasileiro vai além de aumentar a oferta de energia limpa, que já está em mais de 80% dos projetos. É preciso também avançar em soluções para garantir a estabilidade do sistema.

Gerações complementares

João Teles, pesquisador sênior da FGV Energia, observa que fontes renováveis são complementares. Para ele, o país pode apostar em projetos com duas ou mais fontes compartilhando um mesmo ponto de conexão com o sistema elétrico. Juliana Hornink, coordenadora de Inteligência de Mercado da Safira Energia, concorda:

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— Não dá para apostar só numa fonte, é preciso ter um mix.

Votorantim Energia e CPP Investments anunciaram recentemente o primeiro parque híbrido no Brasil, com geração solar e eólica. Um projeto piloto de usina solar será instalado dentro do parque eólico Ventos do Piauí I, otimizando a conexão existente com o sistema de transmissão.

De dia, a energia solar vai complementar a produção eólica, mais intensa à noite, quando não há luz do sol. O projeto de R$ 190 milhões conta com financiamento do BNDES.

Juliana também destaca a regionalização da geração, com usinas mais próximas dos centros de carga, evitando desperdícios na transmissão de energia. Ela ainda defende a geração distribuída, quando o consumidor gera sua eletricidade com painéis solares nos telhados, e o excedente vai para a rede geral de distribuição.

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Marcelo Ávila, vice-presidente do Grupo Comerc Energia, diz que o custo das usinas de energia renovável cai enquanto começa a se encerrar o uso de óleo combustível para geração de energia. Ele também prevê maior eficiência nos filtros e em outras tecnologias para reduzir emissões de carbono de termelétricas movidas a gás natural, que são menos poluentes e, em sua avaliação, importantes para garantir o equilíbrio do sistema.

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O Ministério de Minas e Energia informou que, com as demais instituições do setor elétrico, avalia permanentemente as condições do atendimento do Sistema Interligado Nacional (SIN). Nesse sentido, monitora a expansão da oferta de energia, considerando em especial os segmentos de geração e transmissão, e promove estudos de planejamento com o objetivo de garantir o abastecimento “no cenário atual e futuro”.