Exclusivo para Assinantes
Economia

Mandarim e cultura chinesa ganham visibilidade no Rio

Negócios entre empresas brasileiras e do país asiático em setores como petróleo e energia estimulam integração da comunidade à cidade
Liu Sheanjiuan e Yili Wang gerenciam curso de idiomas OiChina, no Rio de Janeiro Foto: ANTONIO SCORZA / Agência O Globo
Liu Sheanjiuan e Yili Wang gerenciam curso de idiomas OiChina, no Rio de Janeiro Foto: ANTONIO SCORZA / Agência O Globo

RIO — Aos 30 anos, Yili Wang se divide entre as aulas de mandarim que ministra em sua escola de idiomas no Centro do Rio e os serviços de intérprete em grandes empresas de energia, petróleo e tecnologia que mantêm relações com a China ou vêm do país asiático fazer negócios aqui. O empreendimento dela, iniciado em 2006 com sua mãe, começou a crescer dois anos depois, durante as Olimpíadas de Pequim. Desde então, a repaginada na imagem daquele país e a intensificação dos investimentos chineses no Brasil vem aumentando a procura pelo ensino de mandarim.

Imagem repaginada: Com crescimento dos negócios, chineses querem ampliar sua relevância no Brasil

Em pouco mais de uma década, o número de alunos do curso OiChina triplicou, chegando a 150 atualmente. É um sinal do crescimento da influência da comunidade chinesa também no Rio.

— Além da linguagem, ensinamos a cultura na sala de aula. Se os estudantes querem aprender o idioma para trabalhar com chineses, não adianta só saber falar e não compreender o modo de pensar. Questões como pontualidade, patriotismo e senso de coletividade são muito marcadas em nossa cultura — conta Wang.

Nascida na província de Hebei, Yili chegou ao país com 16 anos e se formou em Administração na Uerj. Além das aulas, ela e sua mãe Liu Sheanjiuan, organizam viagens para a China com os estudantes do curso. Uma vez por ano, levam um grupo com cerca de dez alunos para visitar e conhecer o país.

Chinatown: Plano de criação de um bairro chinês quer revitalizar área no centro de São Paulo

A trajetória de Wang ilustra o novo perfil da imigração chinesa no Brasil, que aposta no potencial da cooperação entre os países. Depois da leva de comerciantes que pode ser vista no Saara, no Centro do Rio, a cidade agora convive também com investidores, executivos de empresas de tecnologia, petróleo e comércio exterior oriundos do país asiático, observa o presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil China, Charles Tang:

— No passado, a comunidade chinesa era fechada em si mesma. A China está voltando a ser uma potência econômica. Os filhos não querem continuar com os negócios dos pais. Com mais instrução, tornam-se advogados, empresários e executivos de multinacionais chinesas pela facilidade com o idioma.

Intercâmbio: Número de brasileiros na China cresce 50% em cinco anos

Profissionais de turismo, propriedade intelecutual e tecnologia em aula de mandarim no curso OiChina Foto: ANTONIO SCORZA / Agência O Globo
Profissionais de turismo, propriedade intelecutual e tecnologia em aula de mandarim no curso OiChina Foto: ANTONIO SCORZA / Agência O Globo

Segundo Yili, não são só os brasileiros que procuram aprender mandarim. Os próprios descendentes de chineses também buscam o idioma.

— Cada província tem seu próprio dialeto. Nem todos os chineses falam mandarim. O domínio do idioma já é um exemplo de ascensão econômica. Antes, os chineses que vinham fugidos da guerra e da fome não tinham condições, mas hoje seus filhos já têm maior instrução.

Ainda há, entretanto, uma certa resistência das novas gerações que já estão imersas na cultura brasileira, na visão da professora.

— Quando a China era pobre, os descendentes tinham vergonha do país. Alguns alunos chegam aqui meio contrariados, forçados pelos pais em alguns casos, porque sempre viveram aqui e não tem tanto contato com a China. Depois acabam sendo contagiados pela cultura e percebem a relevância econômica chinesa.

Produtos financeiros: 'Big techs' querem tomar conta do seu dinheiro

Um grupo de empresários chineses e brasileiros está por trás do projeto de criação de uma Chinatown em São Paulo, o primeiro bairro chinês do país. Inspirado em distritos voltados para a gastronomia e cultura chinesas em grandes capitais do mundo, como o de Nova York, o plano prevê o investimento de R$ 150 milhões na criação de um polo comercial do gênero.
Um grupo de empresários chineses e brasileiros está por trás do projeto de criação de uma Chinatown em São Paulo, o primeiro bairro chinês do país. Inspirado em distritos voltados para a gastronomia e cultura chinesas em grandes capitais do mundo, como o de Nova York, o plano prevê o investimento de R$ 150 milhões na criação de um polo comercial do gênero.

Celebração da cultura chinesa

Um reflexo disso na paisagem foi a inauguração, no ano passado, de uma praça chinesa em frente à Associação Cultural Chinesa, na Tijuca, na zona norte do Rio. Além de um pagode, construção arquitetônica característica do país asiático, há luminárias e portais.

Para o professor de Relações Internacionais da UERJ, Maurício Santoro, a maior presença econômica dos chineses no país vai incentivar também o cenário cultural:

— Essa celebração vem muito desse momento que a China vive no Brasil. Existe uma curiosidade dos cariocas e dos turistas que visitam o Rio. A instalação da praça é um marco no Rio porque é um equipamento público que celebra a cultura chinesa.

Estima-se que a comunidade sino-brasileira tenha cerca de 30 mil pessoas vivendo no Rio. O Ano Novo Chinês já faz parte do calendário oficial do estado. A Associação Cultural Chinesa organiza hoje um evento em sua sede, na Tijuca e no dia 24, o consulado chinês promove uma celebração do ano do rato na Mansão Botafogo, em parceria com a Assembleia Legislativa e entidades como a Câmara de Intercâmbio Cultural Brasil-China e a Escola Chinesa do Rio.