Economia

Microsoft se junta à Apple e entra para o exclusivo clube das empresas que valem US$ 2 trilhões

Aposta em serviços de computação em nuvem turbinou ganhos da empresa de Bill Gates
Microsoft: companhia trilionária Foto: David Paul Morris / Bloomberg
Microsoft: companhia trilionária Foto: David Paul Morris / Bloomberg

NOVA YORK - A Microsoft acaba de se tornar a segunda empresa de capital aberto dos EUA a atingir um valor de mercado de US$ 2 trilhões, impulsionada por apostas de que seu domínio em computação em nuvem e software corporativo se expandirá ainda mais em um mundo pós-coronavírus.

Suas ações subiram até 1,2% em Nova York na terça-feira, o suficiente para a empresa de software ingressar brevemente no clube do segundo trilhão, ao lado da Apple como uma das duas únicas empresas com valor tão elevado antes de fechar centavos abaixo da marca, em US$ 265,51.

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A Saudi Aramco ultrapassou esse limite brevemente em dezembro de 2019, mas atualmente tem um valor de mercado de cerca de US $ 1,9 trilhão.

Desde que assumiu as rédeas da empresa, em 2014, o CEO Satya Nadella reformulou a companhia com sede em Redmond, Washington, transformando-a na maior vendedora de software de computação em nuvem, contando com sua infraestrutura e unidades de nuvem de aplicativos do Office.

Fora do foco dos reguladores

A Microsoft também é a única das maiores empresas de tecnologia dos EUA que até agora evitou a recente onda de escrutínio dos reguladores antitruste americanos cada vez mais ativos, o que lhe dá mais liberdade nas aquisições e na expansão dos produtos.

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A companhia de Gates ganhou 19% em valor de mercado neste ano, superando a Apple e a Amazon, com os investidores acumulando ações com expectativas de crescimento de longo prazo para ganhos e receitas, e expansão em áreas como aprendizado de máquina e computação em nuvem.

Os resultados do primeiro trimestre da empresa, divulgados no final de abril, superaram as expectativas e demonstraram um forte crescimento em seus segmentos de negócios.

Nasdaq supera S&P 500

O índice Nasdaq 100 de alta tecnologia superou o índice S&P 500 na terça-feira, depois que o presidente do banco central americano, o Federal Reserve, Jerome Powell, reiterou sua visão de que a inflação terá vida curta.

Ambos os benchmarks ampliaram os ganhos após os comentários de Powell com o Nasdaq 100 fechando em 0,9% e o S&P 500 em alta de 0,5%.

Satya Nadella, CEO da empresa, que revolucionou os negócios com a aposta na computação em nuvem Foto: Samyukta Lakshmi / Bloomberg
Satya Nadella, CEO da empresa, que revolucionou os negócios com a aposta na computação em nuvem Foto: Samyukta Lakshmi / Bloomberg

A Microsoft “tem muito a seu alcance e está fazendo tudo bem: jogos, nuvem, automação, análise, inteligência artificial”, disse Hilary Frisch, analista de pesquisa sênior da Clearbridge Investments.

- É um nome com valor atraente dentro da tecnologia e deve se beneficiar tanto da reabertura da economia quanto de uma mudança mais pronunciada em direção à nuvem - completou.

Cofundada em 1975 por Bill Gates e Paul Allen, a Microsoft praticamente criou a indústria de software de computador pessoal e dominou o mercado de sistemas operacionais para PC e software de escritório por anos.

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À medida que navegadores de internet como o Netscape cresceram em importância na década de 1990, a Microsoft correu para lançar seu próprio produto que acompanhava o software Windows. Isso levou a uma contundente ação antitruste, movida em 1998 pelo governo dos EUA, com um juiz federal declarando a empresa culpada em 2000.

Desafio de se reinventar

Embora a Microsoft tenha evitado o desmembramento de seus negócios, na década seguinte ela ficou para trás com o advento dos sistemas e apps para smartphones, das redes sociais e das buscas na internet, perdendo terreno para Apple, Facebook e Google.

Mas, com uma série de mudanças estratégicas, nos últimos sete anos Nadella restaurou a Microsoft na vanguarda da tecnologia com foco em nuvem, computação móvel e inteligência artificial.

Paul Allen e Bill Gates, fundadores da Microsoft, em evento em 2004 Foto: Barry Sweet / Bloomberg
Paul Allen e Bill Gates, fundadores da Microsoft, em evento em 2004 Foto: Barry Sweet / Bloomberg

Embora a Microsoft tenha demorado 33 anos desde seu IPO para atingir seu primeiro trilhão de dólares em valor em 2019, o segundo trilhão levou apenas cerca de dois anos para chegar, em meio a um aumento na popularidade das ações de tecnologia antes da pandemia da Covid-19 e durante a crise de saúde.

A Apple fez história em Wall Street quando atingiu US$ 2 trilhões no ano passado.

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A dupla está à frente da Amazon, que tem uma capitalização de mercado de quase US$ 1,8 trilhão, e da Alphabet, dona do Google, que está avaliada em cerca de US$ 1,6 trilhão.

“A Microsoft oferece um crescimento forte e sustentável e permanece muito bem posicionada para capitalizar as tendências de longo prazo que vemos em tecnologia”, disse Logan Purk, analista da Edward Jones.

Da nuvem ao Teams e ao Xbox

De acordo com dados compilados pela Bloomberg, mais de 90% dos analistas recomendam a compra dos papéis da Microsoft, enquanto nenhum deles tem o equivalente a uma classificação de venda da ação. A meta de preço médio aponta para uma alta de cerca de 11% em relação aos níveis atuais.

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O negócio de computação em nuvem da Microsoft tem sido de fato uma força central por trás do avanço. De acordo com dados compilados pela Bloomberg, o negócio foi responsável por 33,8% da receita da Microsoft em 2020, tornando-se o maior dos principais segmentos  da empresa pela primeira vez.

Os movimentos estratégicos de Nadella colocaram a Microsoft em uma posição para se beneficiar das tendências de negócios que surgiram durante a pandemia global. A quarentena e o trabalho remoto aceleraram uma mudança para o software de reuniões da empresa, o Teams, e levaram os clientes a adotar mais rapidamente a modernização das redes de software e aplicativos na nuvem.

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As assinaturas de jogos do console Xbox também atraíram usuários em busca de diversão durante meses presos em casa.

De olho no futuro

Conforme os trabalhadores voltam aos escritórios, a Microsoft tenta impulsionar novas ideias para o gerenciamento de reuniões em que alguns funcionários participam pessoalmente e outros de forma remota, e vem divulgando recursos para aumentar o bem-estar e a produtividade dos funcionários que, segundo a empresa, estão esgotados com as tribulações do ano passado.

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“Os dois pilares principais da Microsoft hoje, Microsoft 365 e Azure, são bem compreendidos pela comunidade de investimentos”, escreveu Jason Ader, analista William Blair, em maio.

“O que talvez seja menos apreciado é como nos últimos 15 anos a Microsoft expandiu sua participação na carteira de TI, chegando a novas áreas de produtos” e conquistando participação de mercado. A participação da carteira dobrou de 2006 a 2020 e “acreditamos que pode dobrar novamente na próxima década”, acrescentou.

Wall Street também vê com bons olhos a estratégia de aquisições da empresa. Recentemente, ela anunciou que está comprando a Nuance Communications, pioneira em reconhecimento de voz.