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Economia

MP 936: parlamentares tentam salvar desoneração da folha, e já surgem propostas alternativas

Líder do governo no Congresso, senador Eduardo Gomes, vai sugerir que medida seja válida por mais seis meses
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, se reúne hoje com líderes para tratar de vetos presidenciais, que, para serem derrubados, dependem de maioria nas duas Casas, ou seja, votos de 257 deputados e 41 senadores Foto: Leonardo Sá / Agência O Globo
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, se reúne hoje com líderes para tratar de vetos presidenciais, que, para serem derrubados, dependem de maioria nas duas Casas, ou seja, votos de 257 deputados e 41 senadores Foto: Leonardo Sá / Agência O Globo

BRASÍLIA - Enquanto o governo tenta angariar o apoio do Congresso ao veto do presidente Jair Bolsonaro à desoneração da folha de pagamentos, parlamentares se mostram sensíveis às demandas dos 17 setores produtivos afetados pela medida e buscam soluções preocupados com a preservação de empregos. Uma das propostas na mesa será apresentada pelo líder do governo no Congresso, senador Eduardo Gomes (MDB-TO).

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O parlamentar vai sugerir que o regime tributário seja válido por mais seis meses, em vez da extensão de um ano aprovada inicialmente. Muitos deputados e senadores, no entanto, continuam defendendo a derrubada do veto como melhor solução.

O governo publicou no Diário Oficial da União nesta terça-feira decreto que permite ampliar suspensão de contrato e redução de jornada para até 4 meses durante a pandemia.

Embora o governo acene com uma minirreforma tributária, parlamentares estão cientes do tempo que envolve a aprovação de mudanças no sistema de impostos do país e têm receio do impacto dessa demora no mercado de trabalho.

Os setores afetados pelo veto são responsáveis por seis milhões de empregos. Integrantes da equipe econômica e algumas lideranças do Legislativo veem a proposta do líder do governo com cautela.

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Hoje, empresas de segmentos como call center, calçados, construção civil e comunicação podem substituir a contribuição previdenciária de 20% sobre salários por uma alíquota de 1% a 4,5% sobre a receita bruta. Mas esse sistema perde a validade neste ano.

Diante da gravidade da crise do coronavírus, parlamentares aprovaram a extensão desse prazo para o fim de 2021. A prorrogação foi incluída na medida provisória (MP) 936 , que trata sobre os acordos de redução de jornada e suspensão de contrato durante a pandemia, porém foi vetada pelo presidente Bolsonaro.

Via MP ou projeto de lei

A proposta de Gomes seria uma espécie de meio termo entre acabar com a desoneração da folha já neste ano e prorrogar o benefício até o fim de 2021.

O senador explicou que isso evitaria aumentar o custo para esses setores em plena crise e daria mais tempo para que as discussões sobre reforma tributária deslanchem no Congresso. Além disso, evitaria que o veto de Bolsonaro fosse derrubado.

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— A derrubada do veto não tem data para acontecer e esse benefício só termina em dezembro. Então, temos tempo para construir um acordo, seja prorrogando o benefício por mais seis meses ou um ano — disse o líder ao GLOBO.

A ideia do senador, no entanto, não tem apoio de integrantes da equipe econômica. Na avaliação de um técnico, a ideia seria inconstitucional, porque não indica a fonte de recursos para a renúncia de receitas. Procurado, o Ministério da Economia informou que não iria comentar.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, defende uma desoneração para todos os setores por meio de uma reforma tributária, e não um incentivo para segmentos específicos.

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O plano de Guedes inclui substituir a contribuição sobre a folha por um imposto sobre movimentações eletrônicas, frequentemente comparado à extinta CPMF e, por isso, criticado até por Bolsonaro.

A ampliação sugerida por Gomes poderia vir via edição de nova MP, ser incluído em medida que já esteja em tramitação ou ser encaminhado por projeto de lei.

O senador explicou que pretende aproveitar esta semana para tentar chegar a um acordo com a equipe econômica.

Apoio à derrubada do veto

Entre colegas parlamentares, a proposta do líder do governo é vista com cautela. O relator da MP 936 na Câmara, Orlando Silva (PCdoB), disse que considera a proposta “estranha” porque, quando se fala em ano fiscal, é um exercício inteiro.

Além disso, questões tributárias obedecem princípio da anualidade. Ele voltou a defender a derrubada do veto, alegando que há maioria no Congresso para isso:

— O Centrão apoia o governo, mas tem instinto de sobrevivência e não vai bancar o veto do presidente Jair Bolsonaro — disse Silva.

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O relator da reforma tributária na Câmara dos Deputados e na comissão mista do Congresso, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), também avaliou que a prorrogação por apenas seis meses não faz sentido, porque não dá previsibilidade aos setores produtivos:

— Vai ser muito difícil segurar o veto, porque alguns setores que foram prejudicados são fortes, como agro e de transportes.

Para o senador Major Olímpio (PSL-SP), a alternativa apresentada pelo governo não deve prosperar:

— Esse negócio de condicionar a desoneração da folha à aprovação da reforma tributária é um embuste — disse o parlamentar, que acredita que há clima para derrubar o veto no Senado.

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A senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) vê cenário semelhante:

— Essa alternativa seria viável se a reforma fosse aprovada em seis meses, o que acho muito pouco provável. O ideal agora é derrubar o veto.

O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), se reúne hoje com líderes para tratar dessa questão. Cabe a Alcolumbre, que também preside o Congresso, pautar uma sessão conjunta para analisar os vetos, que já acumulam mais de 30.

Para que um veto seja derrubado, é preciso atingir maioria absoluta nas duas Casas. Isso significa que são necessários votos de 257 deputados e 41 senadores. Se esses placares não forem alcançados, a decisão presidencial é mantida.

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Nos bastidores do Congresso, ninguém acredita que haverá sessão nesta semana para apreciar os vetos, muito menos do que trata da desoneração da folha, diante do risco de derrota para o Executivo.

Segundo auxiliares de Guedes, o governo está correndo para finalizar a minirreforma tributária, enviar a proposta ainda neste mês e deixar preparado o Orçamento da União para 2021.

O Executivo tem até agosto para enviar a previsão de receitas e despesas, já contemplando o programa social Renda Brasil, que substituirá o auxílio emergencial e o Bolsa Família.

A minirreforma do governo deverá propor redução do Imposto de Renda (IR) para empresas, fim das deduções do IR para pessoas físicas e tributação de dividendos, além da unificação do PIS e da Cofins.

A estratégia é enviar a proposta ao Congresso, que já discute o tema, e tentar amarrar consensos, disse um interlocutor.