Mudança no comando da Petrobras pode parar na Justiça, diz representante de minoritários no conselho
Em entrevista ao GLOBO, Leonardo Antonelli diz que Estatuto Social da estatal tenta preservar a empresa de danos em caso de mudanças na política de preços
Bruno Rosa
22/02/2021 - 04:30
/ Atualizado em 24/02/2021 - 11:53
RIO - Um dos membros do Conselho de Administração da Petrobras, o advogado e ex-desembargador federal, Leonardo Antonelli, que representa os acionistas minoritários, disse que a
mudança no comando
da estatal corre o risco de ser judicializada.
Ele explica que na reunião de terça-feira deve ser discutida a convocação de assembleia extraordinária para avaliar o nome de
Joaquim Silva e Luna
e destituir o conselho, com a perspectiva de recondução dos integrantes ao cargo. E afirma que a mudança no Estatuto Social da companhia tenta preservar a empresa de danos em caso de mudanças na política de preços.
O governo federal pode destituir o presidente da Petrobras (mesmo que o conselho não aprove a realização da assembleia)?
A legislação permite que todo e qualquer detentor de 5% das ações com direito a voto (ordinárias) chame uma assembleia para destituir o Conselho de Administração. No caso, o controlador (governo federal) possui mais de 50% das ordinárias (com voto).
Então, por mais que existam outros 700 mil investidores — que representam, na prática 64% do capital da Petrobras —, e lembre que os acionistas preferencialistas (sem voto) são majoritariamente privados, com ou sem a concordância do conselho, a matéria poderá ser levada à apreciação dos acionistas numa futura assembleia geral extraordinária.
Mas o que pode fazer o minoritário além de votar na assembleia contra a mudança do comando da Petrobras?
A mudança pode parar na Justiça. Mas essa não deveria ser a solução para o problema. Isso não atende o melhor interesse da companhia. Ademais, além do próprio Conselho de Administração, existem vários outros órgãos reguladores que poderão intervir, caso fique configurado o abuso do direito do controlador.
Eu disse ao presidente do Conselho de Administração (Eduardo Bacelllar) que o momento é de união dos conselheiros com o único objetivo de preservar a Petrobras e seus acionistas.
Mas essa troca, motivada pela alta dos combustíveis, seria legítima?
Desde que fui eleito, pelos acionistas minoritários, conselheiro, tenho consignado nas atas de reunião do colegiado preocupações com a intervenção dos governos passados na política de preços.
Os prejuízos ultrapassaram, segundo a companhia, US$ 50 bilhões. Para tentar por um fim nisso foi alterado o Estatuto Social, prevendo que se a companhia for orientada pela União a contribuir para o interesse público, ela deverá ser compensada dentro do próprio exercício social.
Pedi esclarecimentos, documentos e números. Propus que medidas de ressarcimento fossem tomadas em favor da companhia. Quanto ao caso concreto, a prudência pede que eu aguarde a reunião de terça-feira. Creio que existe uma expectativa legítima dos acionistas para que haja deliberação sobre o tema. No que depender de mim, estarei pronto para enfrentar a matéria.
A reunião trataria originalmente da recondução de Roberto Castello Branco ao cargo. Com a mudança, até quando ele deve ficar à frente da empresa?
Com o objetivo de dar segurança jurídica e estabilidade no comando das empresas, a legislação possibilita o exercício do cargo, de presidente ou de diretor, até que o futuro eventual candidato seja aprovado pela assembleia geral extraordinária, conselho e efetivamente empossado.