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Economia Petrobras

Mudança no comando da Petrobras pode parar na Justiça, diz representante de minoritários no conselho

Em entrevista ao GLOBO, Leonardo Antonelli diz que Estatuto Social da estatal tenta preservar a empresa de danos em caso de mudanças na política de preços
O advogado Leonardo Antonelli é membro do Conselho de Administração da Petrobras Foto: Agência O Globo
O advogado Leonardo Antonelli é membro do Conselho de Administração da Petrobras Foto: Agência O Globo

RIO - Um dos membros do Conselho de Administração da Petrobras, o advogado e ex-desembargador federal, Leonardo Antonelli, que representa os acionistas minoritários, disse que a mudança no comando da estatal corre o risco de ser judicializada.

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Ele explica que na reunião de terça-feira deve ser discutida a convocação de assembleia extraordinária para avaliar o nome de Joaquim Silva e Luna e destituir o conselho, com a perspectiva de recondução dos integrantes ao cargo. E afirma que a mudança no Estatuto Social da companhia tenta preservar a empresa de danos em caso de mudanças na política de preços.

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O governo federal pode destituir o presidente da Petrobras (mesmo que o conselho não aprove a realização da assembleia)?

A legislação permite que todo e qualquer detentor de 5% das ações com direito a voto (ordinárias) chame uma assembleia para destituir o Conselho de Administração. No caso, o controlador (governo federal) possui mais de 50% das ordinárias (com voto).

Então, por mais que existam outros 700 mil investidores — que representam, na prática 64% do capital da Petrobras —, e lembre que os acionistas preferencialistas (sem voto) são majoritariamente privados, com ou sem a concordância do conselho, a matéria poderá ser levada à apreciação dos acionistas numa futura assembleia geral extraordinária.

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Mas o que pode fazer o minoritário além de votar na assembleia contra a mudança do comando da Petrobras?

A mudança pode parar na Justiça. Mas essa não deveria ser a solução para o problema. Isso não atende o melhor interesse da companhia. Ademais, além do próprio Conselho de Administração, existem vários outros órgãos reguladores que poderão intervir, caso fique configurado o abuso do direito do controlador.

Eu disse ao presidente do Conselho de Administração (Eduardo Bacelllar) que o momento é de união dos conselheiros com o único objetivo de preservar a Petrobras e seus acionistas.

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Mas essa troca, motivada pela alta dos combustíveis, seria legítima?

Desde que fui eleito, pelos acionistas minoritários, conselheiro, tenho consignado nas atas de reunião do colegiado preocupações com a intervenção dos governos passados na política de preços.

Os prejuízos ultrapassaram, segundo a companhia, US$ 50 bilhões. Para tentar por um fim nisso foi alterado o Estatuto Social, prevendo que se a companhia for orientada pela União a contribuir para o interesse público, ela deverá ser compensada dentro do próprio exercício social.

Pedi esclarecimentos, documentos e números. Propus que medidas de ressarcimento fossem tomadas em favor da companhia. Quanto ao caso concreto, a prudência pede que eu aguarde a reunião de terça-feira. Creio que existe uma expectativa legítima dos acionistas para que haja deliberação sobre o tema. No que depender de mim, estarei pronto para enfrentar a matéria.

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A reunião trataria originalmente da recondução de Roberto Castello Branco ao cargo. Com a mudança, até quando ele deve ficar à frente da empresa?

Com o objetivo de dar segurança jurídica e estabilidade no comando das empresas, a legislação possibilita o exercício do cargo, de presidente ou de diretor, até que o futuro eventual candidato seja aprovado pela assembleia geral extraordinária, conselho e efetivamente empossado.