RIO - Para superar o impasse na corrida tecnológica pelo 5G , que colocou EUA e China — as duas maiores economias do planeta — em lados opostos, as empresas de telecomunicações estão buscando uma saída alternativa. A aposta é desenvolver a chamada rede aberta, que permitiria que equipamentos de variados fornecedores conversassem entre si, o que hoje não é possível.
Huawei: Consumidor vai pagar a conta se Huawei for banida do 5G, diz presidente da empresa
O pontapé inicial será com o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPQD), que vai começar a desenvolver a tecnologia neste mês.
O custo do projeto inicialmente será de R$ 20 milhões e terá como foco a criação de soluções para os provedores e redes privadas a serem usadas pela indústria pelos próximos três anos.
Esse recurso vem do Fundo para o Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações (Funttel), gerido pelo governo federal.
Alternativa ao 'zap'?: Elon Musk faz Signal, rival do WhatsApp, viralizar. Entenda
— Esse projeto começa este ano e vai desenvolver uma rede aberta e 5G. Depois, vamos fazer a transferência para a indústria. A rede aberta é algo que está sendo buscado pelas empresas em todo o mundo e ganhou velocidade com a disputa entre EUA e China — disse Gustavo Correa Lima, líder da plataforma de comunicações sem fio do CPQD.
Até a China testa 'rede aberta'
Estima-se hoje que metade dos países no mundo já estão fazendo projetos pilotos com a rede aberta, lista que inclui a própria China. Lima lembra que a China Mobile, uma das maiores do mundo, já faz testes pilotos com rede aberta.
— Esses testes que são feitos no mundo mostram bons resultados. A rede aberta vai reduzir custos e aumentar a flexibilidade das empresas em escolher diferentes fornecedores, reduzindo os preços — destacou Lima.
Projeção feita por especialistas prevê que até 2025 a rede aberta represente de 25% a 30% do total de equipamentos (de hardware e software) no acesso ao 5G. Atualmente, a Vodafone no Reino Unido e a Rakuten no Japão já usam redes abertas.
Wilson Cardoso, diretor de Soluções da Nokia para a América Latina, lembra que os padrões básicos da nova tecnologia serão estabelecidos no segundo semestre deste ano. Com isso, as iniciativas vão ganhar mais velocidade no Brasil e no mundo.
Pedro Doria: A relação dos EUA com as bigtechs vai dominar a próxima década
— No Brasil, vamos ter o leilão de 5G e a rede aberta começando a operar para soluções específicas no primeiro momento. O Open Ran traz mais fabricantes para a mesa. Hoje, existem mais de 200 perfis de uso de rede. O governo precisa definir em quais áreas poderá usar a rede aberta, já que os equipamentos precisam passar por certificação — disse Cardoso.
TIM cria laboratório
A TIM selou parceria com o Telecom Infra Project (TIP) e o Inatel para criar um laboratório com redes de testes abertas para 4G e 5G para avaliar e otimizar novas soluções.
Segundo Leonardo Capdeville, executivo de tecnologia da TIM, a rede aberta é um agente de transformação, já que a rede 5G está atrelada a hardwares e softwares de poucos fornecedores:
— Com a tecnologia Open Ran podemos quebrar este vínculo e escolher fornecedores diferentes. Isso no Brasil abre, por exemplo, a possibilidade de desenvolvimento da indústria nacional sem a necessidade de cobrir toda a cadeia, mas concentrando o esforço na especialização de software.
Ele continua:
— Acreditamos que as operadoras podem buscar no mercado melhores soluções de hardware e software de forma desacoplada, ou seja, sem precisar comprometer-se com um único fornecedor.
![Antenas de telecom em SP: burocracia atrapalha avanço Foto: Edilson Dantas](https://ogimg.infoglobo.com.br/in/24794745-50a-639/FT1086A/antena.png)
Para Capdeville, a rede aberta pode trazer impacto direto na competição do segmento, diminuindo custos e tempo de implantação.
— Estamos falando de compartilhamento de infraestrutura, principalmente para levar conectividade a áreas que hoje não são consideradas rentáveis. Na colaboração externa, avaliar a cooperação com novas empresas digitais.
Bilionários: Dono da Tesla, Elon Musk passa Bezos e se torna o homem mais rico do mundo
A Telefónica, dona da Vivo, e a japonesa Rakuten Mobile assinaram um memorando para avaliar e demonstrar a capacidade e viabilidade das arquiteturas de rede aberta em países como Brasil, Alemanha, Reino Unido e Espanha.
Segundo Juan Claros, vice-presidente de engenharia e serviços ao cliente, lembrou ainda que a empresa fez testes em Petrolina (Pernambuco) e Juazeiro (Bahia).
A velha burocracia: Cidades brasileiras não estão 'antenadas' com o 5G
— Pretendemos trabalhar com esta tecnologia no Brasil. Entendemos que sua adoção será gradual de acordo com a evolução da maturidade operacional. A rede aberta mudará o ecossistema de fornecedores, tornando as redes mais flexíveis e seguras, revolucionando a indústria 5G. A competição fomenta a inovação, a redução de custos, a possibilidade de usar a mesma infraestrutura para outras tecnologias.
Algar se une à IBM para testes
A mineira Algar acabou de selar parceria com a IBM e outras empresas para fazer testes de rede aberta. Segundo Luis Lima, vice-presidente de Operações da tele, a meta é buscar maior independência no mercado de acesso possibilitando a entrada de novos parceiros além dos grandes players.
Após uma fase de testes em laboratório, a companhia está se preparando para aprimorar e realizar teste em rede real com clientes.
— Arquiteturas e tecnologias abertas para telecomunicações serão cruciais para a criação de novas soluções em 5G. O amadurecimento desse modelo poderá contribuir para acelerar a cobertura de 4G no país e será ainda mais relevante com a chegada do 5G, por conta da maior necessidade por infraestrutura exigida pela tecnologia de quinta geração, incluindo um número muito superior de antenas.
Vacina e reformas: Veja a receita de presidentes de grandes empresas para a retomada da economia em 2021
José Otero, presidente da 5G Americas, lembra que estudos indicam redução de até 30% nos custos com a rede aberta. Ele acredita que em cinco anos os grandes fornecedores vão conviver com redes abertas mundo afora.
— Temos 64 países com 5G neste início de 2021. No Brasil, um dos países mais importantes do mundo para o setor, será fundamental para acelerar a implantação da rede — destacou Otero.
A Qualcomm também começou a testar rede aberta com diversas operadoras no exterior, como a americana Dish e a Rakuten. Hélio Oyama, diretor de Gerenciamento de Produtos da Qualcomm para América Latina, destacou que há acordos para fazer testes também no Brasil.
No Brasil: China caminha para ser um dos principais investidores, com foco em infraestrutura
A companhia desenvolve soluções de rede aberta para estações de rabiobase de diversos tamanhos, como as voltadas para ambientes fechados (small cells), ideais para 5G.
— O tema tem tido atenção mundial com diversas operadoras. Há muitas iniciativas pois haverá mais competição e preços mais baixos.