Rio - Depois de se apoiarem nas vendas on-line através das redes sociais na pandemia, os pequenos negócios — cuja venda é feita principalmente pelo WhatsApp, Facebook e Instagram — estão se virando para não ter prejuízo total neste dia, com ligações e SMS, o velho "torpedo".
Rede de Zuckerberg : 'É como se não existisse mais o domínio do Facebook', diz especialista
Desde o ano passado, com as restrições ao comércio, o Instagram se tornou a principal vitrine da Bibelu, loja especializada em roupas para mães e filhas na Barra.
— Tecnicamente, estou parada. Quase 90% da minha receita vem das vendas pelos canais digitais — diz a dona da loja, Bárbara Moraes.
Além de fazer vários vídeos que geram engajamento no Instagram, as suas vendas são finalizadas no WhatsApp.
— Eu não uso muito outras redes, como TikTok e Telegram. Já tinha escutado que não deveria ficar dependente de uma rede, mas as que mais dão retorno são do mesmo grupo.
Depois de Facebook : Instabilidade também afeta TikTok, Twitter, Telegram e outras dez plataformas
Para tentar contornar o dia de hoje, a empresária está ligando para as clientes com os pedidos em andamento, mas lamenta a perda das vendas:
— Segunda é um bom dia, com média de dez compras. Hoje foram só quatro. E ainda tem o fato de que é a véspera do Dia das Crianças, ou seja, seria uma segunda com mais pedidos.
Quem também depende quase que totalmente das redes é a Maré Chocolate: cerca de 95% do canal de atendimento com o cliente é feito pelo Instagram e WhatsApp.
Segundo a sócia Maruska Maciel, o apagão prejudicou a comunicação mas não chegou a cair o faturamento, pois, assim que perceberam o problema, recorreram ao contato direto por telefone, ao próprio site da marca e criaram uma conta no Telegram — caso a pane persista.
A instabilidade do WhatsApp afetou outras áreas do comércio, como o salão Care Body and Soul, em Ipanema, na zona sul do Rio. A dona Ivani Werneck explica que segunda-feira é o dia de fazer o agendamento da semana.
— Não conseguimos trabalhar porque nosso agendamento atualmente é todo feito pelo WhatsApp. E não temos nenhum cliente agendado para essa semana — conta a dona do salão, Ivani Werneck.
Na região da Grande Salvador, na Bahia, a pane também afetou cerca de 40 comerciantes que usam o delivery TrazFavela. O serviço é feito todo através do WhatsApp e conecta lojas, farmácias e mercados com cliente e entregadores que moram na periferia.
Hoje, eles estão telefonando para os clientes e monitorando as entregas via SMS.
— Estamos ligando para os clientes que tinham pedidos, mas o problema atrapalhou novas entregas. Não recebemos mensagem, ninguém ligou e não conseguimos finalizar algumas vendas. O pior é que início de mês é bem movimentado. De uma média de 15 pedidos por dia, hoje foram só quatro — relata Ana Luiza Sena de Jesus, CEO do delivery.
Ajuda: Facebook envia equipe a centro de dados na Califórnia para tentar resolver falhas manualmente
O Grupo Facebook tem investido em suas redes sociais como ferramenta de negócios para empreendedores. Além de cursos para ensiná-los a usar o Instagram e otimizarem sua visibilidade, eles desenvolveram ferramentas, como o WhatsApp Business, que desde este ano oferece a opção de fazer transferência bancária pelo app.
O especialista em direito digital e professor da FGV Direito Rio, Nicolo Zingales, diz que se o problema durar apenas hoje, provavelmente nada acontecerá. Mas, se permancer por mais dias, as empresas podem pedir ressarcimento pela falta de serviço e pelas perdas que tiveram. Ainda assim, ele acredita que dificilmente as ações terão êxito.
— O Facebook pode ser responsabilizado como parte de uma cadeia de fornecimento, mas, eles se resguardam com cláusulas contratuais e é muito difícil alguém conseguir reverter os danos e perdas.