Na TV, ministro pede uso consciente de energia e água e diz que país tem condições melhores que as do racionamento de 2001

Bento Albuquerque, das Minas e Energia, citou medidas ao falar em rede nacional de rádio e televisão
O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, em pronunciamento na TV Foto: Reprodução

BRASÍLIA — Em um pronunciamento no rádio e televisão na noite desta segunda-feira, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, pediu um uso “racional” de energia elétrica e minimizou a possibilidade de racionamento de energia, como o que ocorreu em 2001.

— Para aumentar nossa segurança energética, é fundamental que, além dos setores do comércio, de serviços e da indústria, a sociedade brasileira, todo cidadão-consumidor, participe desse esforço, evitando desperdícios no consumo de energia elétrica, com isso, conseguiremos minimizar os impactos no dia a dia da população — disse o ministro.

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Albuquerque disse que o uso consciente reduzirá o custo de energia:

— O uso consciente e responsável de água e energia, reduzirá consideravelmente a pressão sobre o sistema elétrico, diminuindo também o custo da energia gerada — afirmou.

Para economizar, ligue o aparelho apenas quando for dormir e desligue logo ao acordar. Uma opção é usar a função sleep, disponível em alguns modelos. Outro cuidado é manter o ar-condicionado em temperatura adequada. Especialistas recomendam 23ºC. Não é preciso colocar temperatura muito baixa, para não gastar muita energia. Foto: Pixabay
Em uma família com quatro pessoas, o uso do chuveiro elétrico corresponde a cerca de 25% da conta de luz. Para economizar, evite banhos muito longos e dê preferência a usar o chuveiro no modo verão, que economiza até 30% de energia Foto: Pixabay
Quando a porta fica muito tempo aberta, o motor funcionará mais, gastando mais energia. É importante também manter a borracha de vedação da porta da geladeira em bom estado. Ao viajar, uma opção é esvaziar a geladeira e desligá-la da tomada. Foto: Pixabay
A substituição de lâmpadas incandescentes pelas de LED pode gerar uma redução de 75% a 85% no consumo de energia. Além disso, essas lâmpadas duram mais. Em relação às lâmpadas fluorescentes, a economia é de cerca de 40% Foto: Pixabay
Dê preferência a lavar uma grande quantidade de roupas, para economizar água e energia. Evite colocar muito sabão, para não ter de enxaguar duas vezes. Na hora de passar, a melhor opção é juntar roupas e passar uma grande quantidade de uma vez. Desligue o ferro quando for interromper o serviço. Use a temperatura indicada para cada tipo de tecido e comece pelas roupas mais leves. Foto: Pixabay
O uso do ventilador de teto durante 8 horas por dia gera um gasto de apenas R$ 18 por mês. Mesmo assim, é importante evitar deixar o aparelho ligado quando não houver ninguém no cômodo. Na hora de comprar, lembre-se que quanto maior o diâmetro das hélices, maior o consumo de energia. Foto: Pixabay
No caso dos eletrônicos, a recomendação é desligar o televisor e os videogames quando ninguém tiver usando. Retirar os aparelhos da tomada também ajuda a poupar energia. Foto: Arquivo

O ministro disse que o Brasil enfrenta uma das piores secas de sua história e que a escassez de água que atinge as hidrelétricas — em especial, no Sudeste e no Centro-Oeste — é a maior dos últimos 91 anos.

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— Esse quadro provocou a natural preocupação de muitos brasileiros com a possibilidade de racionamento de energia, como aconteceu em 2001 — admitiu o ministro.

Hirelétrica de Marimbondo: ONS já espera que agosto se encerre com um nível de armazenamento para o Sudeste/Centro-Oeste piores que 2001 Foto: Ferdinando Ramos / Agência O Globo

Albuquerque disse, porém, que o sistema elétrico brasileiro evoluiu muito nos últimos anos, como a interligação do sistema em escala nacional e a redução da dependência das hidrelétricas.

A participação delas na matriz elétrica do país caiu de 85% para 61%, ele afirmou, com a  expansão das usinas de fontes limpas e renováveis, como eólica, solar e biomassa, além de termelétricas a gás natural e nucleares.

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O ministro disse que, para enfrentar a situação, o governo vem atuando em várias frentes, desde o ano passado.

— Além de monitorar o setor elétrico 24 horas por dia, montamos uma estrutura de governança para coordenar, com rapidez e segurança, as ações dos vários órgãos envolvidos no enfrentamento do atual cenário de escassez hidroenergético — disse.

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O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, participa do programa Sem Censura, na TV Brasil Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil / Agência O Globo/18-5-2021

Ele citou também diálogo com entidades da sociedade civil organizada, com os estados e com instituições dos três poderes, para identificar as linhas de ação que melhor atendam aos interesses do país.

— Foi por este motivo, igualmente, que encaminhamos ao Congresso Nacional, uma medida provisória cujo objetivo é fortalecer a governança do processo decisório neste momento de crise hídrica — disse.

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O ministro também contou que está negociando com a indústria um programa voluntário que incentiva as empresas a deslocarem o consumo dos horários de maior demanda de energia para os horários de menor demanda, “sem afetar a sua produção e o crescimento econômico do país”.

— É com serenidade, portanto, que tranquilizamos a todos. Estamos certos de que, juntos, superaremos esse período desafiador e transitório — disse.

Para especialistas, ministro evitou se comprometer

Adriano Pires, sócio-fundador e diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), avalia que o ministro não se comprometeu, durante o pronunciamento na TV, com a garantia de que não haverá racionamento, mas pediu ajuda à população para que isso não seja necessário.

Lago da represa da hidrelétrica de Marimbondo, no interior de São Paulo, praticamente sem água: consumidor terá de pagar sobretaxa ainda maior na conta de luz pelo acionamento de termelétricas Foto: Ferdinando Ramos / Agência O Globo
A usina hidrelétrica de Marimbondo esta operando abaixo da capacidade por causa do período da estiagem Foto: Ferdinando Ramos / Agência O Globo
Seca pode prejudicar fornecimento de energia elétrica Foto: Ferdinando Ramos / Agência O Globo
Segundo ONS, está prevista "a perda do controle hidráulico de reservatórios da bacia do Rio Paraná no segundo semestre de 2021" Foto: Ferdinando Ramos / Agência O Globo
O reservatório da usina Marimbondo, localizado no Rio Grande, divisa entre São Paulo e Minas Gerais, atingiu o nível mais baixo entre todos os monitorados pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) Foto: Ferdinando Ramos / Agência O Globo
Com a falta de chuva para encher o reservatorio, a producao de energia foi reduzida Foto: Ferdinando Ramos / Agência O Globo
Área inundada por barragem volta a ficar exposta devido à seca histórica Foto: Ferdinando Ramos / Agência O Globo
Cor mais vívida do solo revela o que há pouco era o fundo do reservatório Foto: Ferdinando Ramos / Agência O Globo
Localizada na divisa de São Paulo e Minas Gerais, a hidrelétrica tem capacidade para produzir 1.440 megawatts Foto: Ferdinando Ramos / Agência O Globo

— Podemos resumir assim: o ministro avisou a nação que o gato subiu no telhado — brincou o especialista. — E está pedindo a ajuda de todos para tirar este gato de cima da casa com vida.

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Pires observa que, mais uma vez, foi pedido um sacrifício para as famílias e pequenos consumidores, mas esses consumidores já sofrerão com uma forte alta no custo da energia com o aumento da tarifa da bandeira vermelha a ser anunciado pela Aneel nesta terça-feira.

— Novamente o pequeno consumidor será o mais penalizado.

Luiz Barroso, presidente da PSR energia, observa que o pronunciamento de Albuquerque mostra as diversas ações de gestão em andamento por parte do governo, cujo desenho foi consolidado na  MP publicada nesta segunda-feira.

Para o especialista, essas ações podem ser decisivas para evitar reais problemas de suprimento, seja de energia ou de potência. Barroso, no entanto, também observou que Albuquerque não se comprometeu com a garantia de que não haverá racionamento, e pode, com isso, ter passado a falsa impressão que tudo está sob controle:

— É importante não minimizar a gravidade da crise.

Medida provisória

Esse foi o quarto pronunciamento em rádio e TV de um ministro do governo Jair Bolsonaro e o primeiro de Bento Albuquerque. Os reservatórios das hidrelétricas do Centro-Sul do país estão em níveis historicamente baixos após o pior período de seca em 91 anos de medição do sistema elétrico.

O pronunciamento foi feito no mesmo dia em que o governo publicou uma medida provisória (MP) para centralizar a gestão da água e, assim, preservar os reservatórios até o início do período úmido, previsto para novembro.

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Para contornar o problema, o governo tem adotado uma série de medidas. Uma delas é reduzir a vazão das hidrelétricas para privilegiar a geração de energia elétrica. O ministro citou a MP no seu pronunciamento.

A MP cria um comitê de crise (chamado de Câmara de Regras Excepcionais para Gestão Hidroenergética) com poder de mudar as vazões dos reservatórios de hidrelétricas. O objetivo desse colegiado será “adotar medidas emergenciais para enfrentar os riscos de escassez hídrica, a fim de garantir a continuidade e segurança do suprimento eletroenergético”, de acordo com o texto da MP.

Com isso, a MP tira poderes da Agência Nacional de Águas (ANA) e do Ibama na gestão dos reservatórios, por conta da crise.

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O grupo comandado pelo Ministério de Minas e Energia (que terá também os ministérios da Economia, da Agricultura, da Infraestrutura e do Meio Ambiente) terá poder para definir “diretrizes obrigatórias” a agentes do setor elétrico.

 O ministro de Minas e Energia terá poderes para definir medidas de forma individual, antes das deliberações com o restante das autoridades.

A Câmara terá poder de definir diretrizes obrigatórias para, em caráter excepcional e temporário, estabelecer limites de uso, armazenamento e vazão das usinas hidrelétricas, e para eventuais medidas mitigadoras associadas.

A medida provisória diz que o grupo deverá “buscar a adequada compatibilização da política energética, de recursos hídricos e ambiental”. A MP diz ainda que os custos previstos com as medidas serão cobertos por meio de um encargo nas contas de luz.

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Por conta da crise hídrica, a geração de energia por termelétricas tem batido recordes nas últimas semanas, o que impacta diretamente as contas de luz. Nesta terça-feira, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) irá anunciar um reajuste nas bandeiras tarifárias, que são cobradas nas contas de luz quando o custo de geração de energia sobe muito.

O governo também prepara um leilão para colocar mais usinas térmicas no sistema, além de negociar com operadores a inauguração de usinas de geração de energia e também de linhas de transmissão de energia.

O Ministério de Minas e Energia também autorizou a importação de energia da Argentina e do Uruguai e estuda a compra de mais energia de outros países caso a seca comprometa ainda mais o nível dos reservatórios de água.